sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Nome de Guerra, de Almada Negreiros




Sei que a minha função neste blogue é a de comentar artistas e tirar das suas vidas algo com que possamos aprender e trazer para o nosso dia-a-dia. Também sei que a literatura está entregue às mãos da Mizé e que eu sou, de longe, a pior pessoa para falar de livros. Poderia chamar o meu irmão D. que saberia espremer o sumo de cada uma das 260 páginas do livro e tirar-lhes o sangue e a interpretação devidos, de uma forma muito mais espetacular que aquela que aqui hoje vou fazer.

O livro de que vou falar-vos foi escrito por um Pintor, razão pela qual não estou totalmente desenquadrada do meu papel de comentadora artística. Contudo, hoje não falarei das virtudes deste grande pintor, senão sobre aquilo que me transmitiu com as linhas de “Nome de Guerra”.



Veio parar-me às mãos enquanto bebia um agradável Gin Tónico e desfrutava de uma companhia ainda mais agradável. Escrevo estas linhas à lareira. Os graus negativos exteriores não convidam a sair. Bebo um Gin Tónico da mesma marca, porém não tão agradável, uma vez que agora o bebo sozinha.

Quando acabei de o ler, procurei outras críticas na Internet mas, para meu espanto, nenhuma coincidia com a imagem tão clara com que fiquei do livro. Pois bem, é caso para concordar que os livros nos falam ao coração e dão, a cada um, consoante a sua experiência. Atrevo-me a dizer que um livro tão denso como este não é de fácil interpretação e que requer uma certa bagagem, onde aquilo que temos na memória se confunde com o que está no corpo do texto e lhe dá forma.

O livro fala de um homem que está sedento de encontrar o seu amor. O facto de o ser humano não estar feito para viver sozinho vem confirmar-se neste personagem que luta incansavelmente por encontrar a mulher da sua vida. Com a história deste homem cruzam-se, também, as histórias de duas mulheres. A primeira é representada pela luz, pelo dia. É designada a mulher nua, por estar despida de todos os luxos mundanos. A segunda, alegoria da noite, é a “mulher vestida” de todos os vícios e caprichos.

Ao Antunes é apresentado, através da primeira mulher, algo puro, limpo. O próprio amor. No entanto, o homem da história acaba por escolher envolver-se com o corpo vestido. Enquanto o seu amor pela segunda mulher aumenta, a primeira vai adoecendo, até que acaba por morrer, desgostosa pela indiferença oferecida pelo seu amado.


A mulher vestida causa um mal tão grande ao homem do qual ele só se apercebe com a morte da mulher nua. Com a mulher vestida, o Antunes só pensa em si e nem sonha que a mulher não pensa nele, senão noutros mil homens ao mesmo tempo. Para ela, o Antunes não significa nada. Tanto é que, apesar de terem mantido uma relação muito duradoura, passados uns anos voltam a cruzar-se num café e ela nem o reconhece. Ele não significou nada na sua vida, não alterou em nada o seu rumo.

Para a outra mulher sim, o Antunes representa o sangue que lhe corre nas veias e lhe faz bater o coração.

Mas o personagem da história perde-se, como muitas vezes nos perdemos na vida, e deixa-se ofuscar pela aparência de beleza que o vício lhe seduz, não sendo capaz de ver a clareza da luz da primeira mulher que, tal como ele, procura o amor verdadeiro e, certa de o ter encontrado, morre por não ser correspondida.

O nome de guerra, Judite, é o nome da mulher que marcou profundamente o homem da história. O nome da outra mulher, da luz, do dia, do amor verdadeiro, é Maria; dela apenas sabemos que o amava profundamente e que tinha, para lhe oferecer, algo puro e sincero. Quando ele quis aceitar essa luz, já Maria tinha morrido. No entanto, o autor conta-nos como a vida de Maria não foi em vão, uma vez que, com a sua morte, o Antunes foi capaz de matar o amor que sentia por Judite.

Após as trágicas mortes destes dois amores, o escritor e pintor fala-nos de outros assuntos relacionados. Convido os seguidores do blogue a ler o livro e a tirar as suas conclusões. Para este post detive-me apenas nestas considerações, mas por muitos outros caminhos poderia ter envergado.

A moral que tiro de Nome de Guerra é que a procura do Bem e da Verdade é sempre mais compensadora e que, apesar do mal se apresentar, muitas vezes, com aparência de bem, o lodo acaba por vir ao de cima.


Sejamos pessoas autênticas, puras, limpas, despidas de caprichos e comodidades. Sejamos, em cada momento, capazes de morrer pela vida!


                                        

  

3 comentários:

Dita disse...

Gostei muito deste resumo, sempre que me falas de livros fico com vontade de os ler, ainda por cima sou fã do Almada Negreiros.
Emprestas-me o livro?

Unknown disse...

obrigada, querida amiga. o livro não é meu mas, quando vieres a Portugal Continental, vamos as duas procurar à fnac e eu ofereço-to.
Bjs com saudades

Leonor disse...

Gostei muito Rosarinho!!