quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Uma questão de tempo

Eram 22:45 quando ela entrou no carro.

Correu na nossa direção para fugir da chuva. Entrou no carro e contou como tinha corrido o exame. Fez contas de cabeça, os exames, os trabalhos, as melhorias. É uma questão de tempo até acabar o curso.

Fiz contas de cabeça e deu-me um aperto no peito. Senti-me uma velha melancólica e tentei esconder o que pensava. Não consegui. Estava a fazer contas de cabeça e lembrava-me como se fosse ontem do dia em que soube que ia ter mais uma irmã. 

Fiz contas de cabeça e lembrava-me como se fosse ontem de estarmos sentadas na cama da mãe a escolher o nome. Maria era certo.

"Margarida! Depois pode ser a Guiducha."
Mania dos diminutivos nesta casa.

Fiz contas de cabeça e lembrei-me do dia em que nasceu. O nosso último "presente" (até aos sobrinhos, mas isso fica para depois). A algazarra na clínica para ver a nossa irmã, a mãe cansada mas feliz. Perguntou-me se queria lá ficar ou se queria ir para o Darca. Escolhi a segunda opção, mas mal saí senti um aperto no peito. Como o de hoje. (A mãe, cansada, deve ter agradecido)

Fiz contas de cabeça e agora lá estava ela, 20 anos depois. E é um questão de tempo até acabar o curso.