sábado, 20 de outubro de 2012

O drama do desemprego

Não são só as contas para pagar, mas também.
É a sanidade mental, o dia a dia vazio, e o sentimento de impotência constantes. O sentir-se inútil, incapaz, velho demais, novo demais, demasiado qualificado ou com poucas habilitações.
O desemprego é um drama, é dramático em todos os sentidos, e não venha Sr. Passos Coelho dizer-nos que é "uma oportunidade de mudar de vida"... Porque esse seu discurso não faz nenhum sentido, então quando continua e diz "tem de representar uma escolha livre, uma mobilidade da própria sociedade" o que é que o Sr. quer exactamente dizer com isto? Que há muitas pessoas a escolherem ficar desempregadas nos tempos que correm? Salvo raras excepções de mães que decidem (e podem) dedicar-se aos filhos, pessoas (raras) que querem apostar no seu próprio negócio, ou pessoas ("forçadas") a emigrar, não estou a ver Sr. Passos Coelho, onde cabe essa escolha livre do desemprego.
Graças a Deus cá em casa não nos bateu à porta (por enquanto, pelo menos), mas já bateu à porta de familiares e amigos, e acompanhamos situações dramáticas, algumas mais flagrantes do ponto de vista financeiro, outras preocupantes do ponto de vista mental.
A saúde mental corre sério perigo, neste contexto, em que há muito tempo livre, poucas oportunidades de se sentir útil, e uma mão cheia de contas a pagar.
 
Há uns tempos deu na televisão uma "super senhora" que tratava do marido e da mãe acamados, ainda tinha uma horta e alguns problemas de saúde. Quando a entrevistadora lhe perguntou se não deprimia, ela disse que não tinha tempo para deprimir :)
 
Termos o nosso tempo estruturado, organizado, ajuda-nos no nosso equilibrio mental, ajuda-nos a manter a mente sã, e embora não seja sempre verdade que quem tem trabalho é equilibrado, corre mais riscos de deprimir quem se vê em situações dramáticas de desemprego contínuo e sem grandes perspectivas de trabalho no futuro.
 
 
Ora diga lá outra vez Sr. Passos Coelho, que "estar desempregado não pode ser um sinal negativo", mas por favor explique-nos os aspectos positivos desta condição, é que nós sinceramente, não os estamos a ver...

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito obrigada por este post, vou voltar, bom blog.

Maria disse...

Pois é. O desemprego é um DRAMA. Pessoal, familiar, social. Um desempregado é "a" oportunidade: de parar tudo o que girava à sua volta, da perda de um recurso humano, da perda social, da perda para a economia e, provavelmente, da insolvência dos - poucos ou muitos - bens e serviços de que se socorria na qualidade de pessoa no activo com salário. Uma oportunidade para isto e muito mais. O grave é quando estes políticos não percebem isto e - encurralados nos gabinetes e rodeados de "yes men" completamente obnubilados pela grandeza dos lugares, dos motoristas, dos carros, das mordomias (que nunca tiveram) - são capazes de ter o descaramento de chamar a isto oportunidade. Oportunidade de levar o país à insolvência e a resgates sucessivos que é o que anda a fazer este Sr Coelho e os outros políticos todos. Que DRAMA! Desculpem lá isto. Mas eu vivo com estes dramas todos os dias e, se não desabafo, vou cair numa depressão profunda, a ver coelhos a passar, num filme negro em que só vejo gente a afundar-se, excepto um relvas que anda sempre à tona. A mandar bocas e de avental, mas à tona. E o avental não é de cozinha. Mas não é só ele. Isto dói.

CM disse...

Obrigada pelo teu post.
Como o sinto...
Claro que o drama de me ver desempregada é também pensar no futuro, mas o maior drama é ás vezes sermos de facto inundadas pelo pensamento que se calhar já não vamos mais ser capazes!!!
É de facto um drama, principalmente para quem como eu nunca tinha vivido uma situação destas e a vive agora nestes tempos, em que poucas respostas encontramos.
Mas temos que manter a esperança e a fé e acreditar, sempre acreditar :)