quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Hola, ¿qué tal?

Ando a escrever menos aqui.. Porque tenho conhecido várias pessoas que passam pelo nosso blog e ao sabê-lo, encolho-me na cadeira. Nunca fui pessoa de expor demasiados sentimentos e ideias. Só o fazia com quem escolhia. E penso neste espaço como uma segunda casa, de amigos conhecidos. Quando percebo que mais pessoas passam por aqui, apetece-me ir apagar uns quantos posts, reformular alguns deles e esconder-me atrás de outros. Torná-los politicamente certinhos. Mas perdia a piada, porque passavam a ser apenas ideias racionalizáveis que não me comprometessem. Não liguem, são esquisitices. Gosto tanto de te saber, a ti, por aqui. Traz a tua chávena de café cheia, bem-vindo! 

Para o autor do quadro das espanholas.
Hola, ¿qué tal? Vi o teu quadro pela primeira vez quando passeava por Sevilha no ano passado. Não te sei dizer exatamente o pormenor que me chamou à atenção, acho que foram vários. Trouxe uma cópia e desde aí que quero fazer a minha versão do teu quadro. Gostava de te conhecer porque tens feito parte dos meus dias. Aqui em Portugal andam dias chuvosos, cinzentos. Dias de frio, que pedem lareiras acesas, mantas e conversas pela noite dentro. E cafés com leite, claro. São estes os dias que escolhi para começar a pintar o teu quadro. Agarro na parafernália de pintura, mochilão, e sigo para o centro da cidade. Porque se escolho pintar num lugar sem movimento, as tuas espanholas perdem as formas, o ritmo. Ficam mulheres sem graça e sem cor.

Num desses dias, decidi parar a meio do desenho. Começar a observar as pessoas que passavam, todas tão diferentes umas das outras. Vidas, projetos, sonhos tão diferentes uns dos outros. E pensei que também tu deverias estar a pintar numa praça, em qualquer cidade europeia. A agarrar esses momentos improvisados, em que, como neste quadro, cinco espanholas cheias de garra atravessam a praça e se encontram com uma criança. O tempo pára, tudo à volta pára.

O que vai na cabeça de cada uma delas? Deixas isso para cada um, segundo a sua criatividade, descobrir. Sabes o que eu acho? Que aquela espanhola do meio olha para a miúda e pensa que ela tem ainda toda uma vida pela frente. E quer ir ter com ela e dizer-lhe que não, nunca racionalize a sua vida, porque perde a capacidade de vivê-la. Que não desperdice oportunidades. Que não deixe fugir as pessoas de quem mais gosta. Que conheça pessoas diferentes e que nunca queira ser igual a ninguém. Que tenha referências sim, mas que não deixe de se recriar todos os dias. Que dê as suas gargalhadas, alto e bom som, sem vergonha. Que seja mesmo feliz. E que os seus sonhos terão uma boa dose de verdade, por serem a organização das ideias que passam pela sua cabeça durante o dia.

A vida não pode ser racionalizável, pois não? Talvez deva ser em parte, ou não existiriam ventos favoráveis. Mas deve haver espaço para os improvisos, para os “e agora?”. Porque já dizia não-sei-quem que nunca saberemos o quão forte somos, até ao momento em que, ser forte, é a única hipótese que temos.
E eu acho que já te conheci um dia. E que te vi numa praça a pintar e me chamaste à atenção por seres diferente. Porque procuravas não racionalizar os teus desenhos e a tua vida enquanto a vivias. E porque tens essa capacidade de ver coisas diferentes naquilo em que, outros, veriam apenas cinco espanholas.

4 comentários:

alexandrachumbo disse...

também partilho essa sensação... ainda ontem uma amiga me disse que o marido vê diariamente o nosso blog... :) e nós "aqui no nosso cantinho" não é?

Ana disse...

É mesmo! Mas só assim vale a pena :)

Maria disse...

A arte é isto mesmo Ana! E ... depois: "que nunca queira ser igual a ninguém. Que tenha referências sim, mas que não deixe de se recriar todos os dias." quem me dera que isto entrasse na cabeça das adolescentes (de idade e de mentalidade). Quando é que as pessoas percebem que só sendo iguais ao melhor de si próprias é que ganham todo o interesse? Esta é a nossa luta, verdade? Tem tanto que se lhe diga...

Unknown disse...

Pintar é a melhor coisa do mundo....!!!