Não
é o corpo a nossa maior forma de expressão?
Reparemos:
quando estamos cansados, fechamos os olhos; quando estamos tristes choramos;
uma boa notícia, rimos. Estamos desconfiados? Franzimos o sobrolho. Quando
amamos alguém, beijamos. Quando algo nos irrita, ficamos petrificados, de
expressões tesas, cara muito presa, mãos contraídas.
E
o olhar? Haverá algum mistério humano maior que o olhar? No fundo, o olhar
expressa o que as palavras não conseguem transmitir. Mesmo quando queremos
dizer algo que não é verdadeiro, lá vem o olhar e, rapidamente, somos
denunciados.
Correntemente, ouvimos dizer que os olhos são o espelho
da alma. Porque reflectem o que sentimos, o que queremos, o que desejamos. Os
olhos são a forma mais directa de contactarmos com alguém, pois estão
imensamente cheios de energias, de vida, de alma, de sentimento. Quando estamos
felizes, brilham, resplandecem de luz. De felicidade. Se estivermos em baixo,
vemo-nos com olhos escuros, caídos. Já os mortos... esses têm os olhos opacos,
sem vida, de porcelana.
Os olhos conseguem reflectir, também, a nossa
auto-estima. Realmente, se estamos seguros de nós, olhamos nos olhos,
directamente. Quando somos inseguros, ansiosos, desviamos constantemente o
olhar, com medo que nos interpretem e nos roubem as memórias e pensamentos mais
íntimos do nosso ser.
Mas, vejamos bem, não é esta uma beleza infinita? Um
tesouro? Um dom? Poder comunicar sem ter de usar uma única palavra.
Aconteceu-me há dias; uma amiga perdeu uma pessoa muito
importante na sua vida. Bastou-me chegar perto dela para perceber a dor que
carregava no peito e as lágrimas que lhe lavavam a alma. Quanto a mim? Uma
festa com a mão na sua cara, um abraço apertado, um olhar de cumplicidade e ela
soube-o: estávamos juntas e eu rezava por ela.