terça-feira, 4 de novembro de 2014

Once in a blue moon

Há expressões que não têm tradução. Há outras que têm, mas que perdem a graça toda com a mudança de língua. É o caso desta: once in a blue moon. Em português: “esporadicamente”, ou “muito de vez em quando”. Nada que ver com luas, nem azuis nem brancas.
Estive a pesquisar, porque gosto de conhecer a origem das expressões que regem a sabedoria popular desde que ela existe, e descobri que de três em três anos, ou a cada trinta e três meses, podemos observar a lua cheia duas vezes num mesmo mês.
A expressão faz sentido, portanto. Mas não me lembro de estar atenta e presenciar isto, nem nunca ouvi ninguém dar importância a este facto.

“De três em três anos, consegues ver a lua cheia duas vezes em pouco tempo.”
“Ah sim? E então?”

E então? Então andamos com os olhos colados ao chão. Lembras-te da tua última blue moon? Eu lembro-me da minha. Foi há três anos, e lembro-me de estar presa a mim mesma. E a única realidade que conhecia eram sombras, qual alegoria da caverna. E achava que sabia tudo. Até que, um dia, ele apareceu e, sem querer, rasgou-me a vista do chão, e passei a ver. A vê-lo, e a vê-Lo. Vi tudo, aos poucos, mas muito claramente. Um, através do Outro, tinha-me trazido a luminosidade que acompanha uma lua cheia, mas a dobrar. Passou a ser a minha luz de presença, o depósito da minha confiança. Mergulhámos juntos. Puxámos, empurrámos e desesperámos. Rimos, chorámos, e crescemos. Moldámo-nos.

O que me aconteceu, não acontece. Ou melhor, pode acontecer, uma vez muito de vez em quando. E agora, passados três anos e se Deus quiser, a minha blue moon vai voltar. Mas desta vez, vem para ficar.
George Peppard and Audrey Hepburn in "Breakfast at Tiffany's"

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