sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Morrer a lutar pela vida não é digno?

Se há assunto que é sério é a morte.
Morrer é difícil, a ideia de partir, deixar para trás tanta coisa, do desconhecido, da solidão, porque ninguém morre acompanhado, ninguém morre por ti, ninguém morre contigo.
Tu morres sempre sozinho.
Só a palavra morte arrepia, traz medo, pânico, pavor.
Ninguém quer morrer.
Nós não fomos criados para a morte, fomos criados para a vida. E nenhum niilista pode negar essa evidência, é a natureza humana. se não houvesse água eu não sentiria sede, se não houvesse vida eu não sentiria a vontade de viver eternamente.
Mas não quero falar do sofrimento das doenças terminais, nem quero falar da estupida impotência que é para as suas famílias, nem quero falar da dor física, insuportável, esgotante e sem fim, nem do vazio de quem espera pela morte.
Porque todas as palavras que posso escrever não são vividas apesar de ter acompanho, não sou eu ali.
Não quero falar da morte, quero falar da forma de morrer.
E quero dizer que há muita dignidade de quem sabe sofrer, ou melhor nunca vi maior manifestação de dignidade humana de quem aceita esse sofrimento, mesmo que isso signifique ficar sem cabelo, estar numa cama, perder a visão, deixar de andar, não saber quem é nem o que foi e o que faz, de não se reconhecer. Não é isso que te faz menos homem, nem é isso que faz a importância que tens para mim para o outro. E quem sabe agora é o momento para te amar mais, para estar contigo, para te agradecer.
Vivemos num mundo egoísta em que custa tratar dos doentes e dos mais velhos, eles normalmente cheiram mal, não sabem comer e já não são bonitos, mas é preciso de lembrar que o que nos distingue dos animais é o Amor. Fomos criados por amor, para amar e para sermos amados.
É digno a lutar pela vida até ao fim, é digno o amor de quem está à tua volta e que de repente se manifestou como nunca se tinha visto antes nem no dia do teu casamento, é digno quem se desprende de todo o material mesmo desse lindo cabelo e é digno quem sem entender e até sem querer abraça com tranquilidade o sofrimento.
A tua morte foi verdadeiramente digna, mesmo que o mundo diga o contrário.

2 comentários:

Unknown disse...

Muito bonito, Ditinha querida.
Sempre muito profunda. Sei bem a quem te referes... Beijinho grande!

É muito digno morrer de forma natural, ainda que a morte seja anti natural. ;)
Beijinho

Dita disse...

Obrigada Rosa!