Há
expressões que não têm tradução. Há outras que têm, mas que
perdem a graça toda com a mudança de língua. É o caso desta: once
in a blue moon. Em português:
“esporadicamente”, ou “muito de vez em quando”. Nada que ver
com luas, nem azuis nem brancas.
Estive
a pesquisar, porque gosto de conhecer a origem das expressões que
regem a sabedoria popular desde que ela existe, e descobri que de
três em três anos, ou a cada trinta e três meses, podemos observar
a lua cheia duas vezes num mesmo mês.
A
expressão faz sentido, portanto. Mas não me lembro de estar atenta
e presenciar isto, nem nunca ouvi ninguém dar importância a este
facto.
“De
três em três anos, consegues ver a lua cheia duas vezes em pouco
tempo.”
“Ah
sim? E então?”
E
então? Então andamos com os olhos colados ao chão. Lembras-te da
tua última blue moon?
Eu lembro-me da minha. Foi há três anos, e lembro-me de estar presa
a mim mesma. E a única realidade que conhecia eram sombras, qual
alegoria da caverna. E achava que sabia tudo. Até que, um dia, ele
apareceu e, sem querer, rasgou-me a vista do chão, e passei a ver. A
vê-lo, e a vê-Lo. Vi tudo, aos poucos, mas muito claramente. Um,
através do Outro, tinha-me trazido a luminosidade que acompanha uma
lua cheia, mas a dobrar. Passou a ser a minha luz de presença, o
depósito da minha confiança. Mergulhámos juntos. Puxámos,
empurrámos e desesperámos. Rimos, chorámos, e crescemos.
Moldámo-nos.
O
que me aconteceu, não acontece. Ou melhor, pode acontecer, uma vez
muito de vez em quando. E agora, passados três anos e se Deus
quiser, a minha blue moon vai
voltar.
Mas desta vez, vem para ficar.
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