domingo, 30 de novembro de 2014

UMA ESPÉCIE DE CONTO DE NATAL

A Fada Oriana



Há muitos anos que não lia Sophia. Retomei-a recentemente por uma razão prática (ter de recomendá-la) e estou maravilhada, como não me lembro de me sentir quando a conheci. 
Hoje li A Fada Oriana, que começa desta maneira lapidar: "Há duas espécies de fadas: as fadas boas e as fadas más. As fadas boas fazem coisas boas e as fadas más fazem coisas más." E depois mostra que as fadas são estranhamente parecidas connosco: uma mistura de boas intenções, tentações subtis e decisões desastrosas. E que as condições da redenção são exigentes, e estão nos limites do risco.
Sem ser uma das obras com mais trabalho estilístico, é uma daquelas em que a moral é mais instrutiva, simples e elevada.


Outros dois livros que li recentemente são Histórias da terra e do mar e Contos exemplares, onde uma pessoa se deleita com o domínio que Sophia tem da língua e da escrita poética, com os seus ritmos, as suas pausas e as suas metáforas iluminadoras, mas também com um rigor evocativo e informativo que transforma cada um dos seus contos num verdadeiro mundo, completo, rico e intenso.

Nestas duas colectâneas, num total de doze contos, há contos narrativos e contos alegóricos, contos descritivos e contos pictóricos – quase cinematográficos –, contos exemplares e contos festivos. E encontramos em muitos deles uma inocência de criança pequena que abre os olhos ao mundo, e um veio subtil de humor quase infantil, que os torna encantadores.
Os contos de Sophia – alguns dos quais foram escritos ao longo de vários anos – são para ler devagar, saboreando as palavras, alguns mesmo em voz alta, para nos deixarmos levar pelos ritmos e a riqueza dos sons, e para aguardar na memória o que eles nos sugerem, aquilo em que nos fazem pensar. Ora vejam se não vale a pena ler uma coisa assim:
"Quando eu era pequena, passava às vezes pela praia um velho louco e vagabundo a quem chamavam o Búzio.O Búzio era como um monumento manuelino: tudo nele lembrava coisas marítimas. A sua barba branca e ondulada era igual a uma onda de espuma. As grossas veias azuis das suas pernas eram iguais a cabos de navios. O seu corpo parecia um mastro e o seu andar era baloiçado como o andar dum marinheiro ou dum barco."


Por favor, (re)leiam-nos, ofereçam-nos, façam-nos ler.

Não levam muito tempo, podem ler-se aos bocadinhos e compensam imenso!

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