(imagem: atelier de Morandi)
Hoje quis ser como Morandi...
Nunca me interessei muito por naturezas mortas, até conhecer a obra de Giorgio Morandi.
Morandi viveu no início do século XX e a maior parte da sua vida foi dedicada a estudar garrafas que colecionava no seu atelier e pintava com um lindíssimo simplificar da forma geométrica. As garrafas eram representadas como se as olhasse sob a forma bidimensional, quase sem se preocupar com transmitir a beleza da transparência dos vidros, num jogo de luzes abstrato onde as linhas só apareciam pelo contraste luz-sombra.
Os seus quadros são, hoje em dia, muito conhecidos e estudados. No entanto, Morandi, na sua época, era uma pessoa muito simples, passava despercebido, Viveu uma vida humilde, sem excentricidades, como homem comum que dizia ser. Começou a trabalhar aos 16 anos, altura em vendia quadros de flores para ajudar a pagar as contas da casa de família numerosa. Os seus objetos de estudo eram coisas que encontrava no dia-a-dia, sendo que os seus primeiros desenhos foram representações de figuras do presépio que tinha em casa. No fim da sua vida desenhou paisagens sem se preocupar com o visual estético que pudessem apresentar, pintava aquilo que via da janela do seu quarto: um prédio e uma árvore.
A beleza das suas obras deve-se, acima de tudo, à persistência com que sempre trabalhou. Tinha um trabalho muito metódico, fruto da vida regrada que levava. Trabalhava para aperfeiçoar a técnica, não para impressionar.
Numa época e sociedade que consideravam a profissão de professor muito baixa para um artista, dedicou-se a dar aulas de gravura, importando-se unicamente com o aperfeiçoamento do seu rigor e com transmitir a outras pessoas aquilo que de tão especial tinha.
Acima de tudo, impressiona-me a sua capacidade de trabalho rigoroso e sistemático, persistente, a maneira como era capaz de se maravilhar todos os dias com as mesmas garrafas, transmitindo-lhes uma luz e uma beleza novas a cada pincelada na tela.
Hoje quis ser como Morandi...
Nunca me interessei muito por naturezas mortas e nem gosto especialmente de pintar a acrílico ou óleo sobre tela. Mas hoje quis ser como Morandi e beber da sua capacidade de trabalho, alheia a vontades de momento ou a sentimentos e inspirações.
E nada melhor do que encarnar a personagem começando por interpretar uma das suas obras.
Aqui vai:
(imagem: interpretação de natureza morta de Morandi. Rosarinho Morais Barbosa, acrílico sobre papel Fabriano A1)
2 comentários:
Gostei muito!
Ainda vou ter as paredes cá de casa cheia de quadros desta artista!
Enviar um comentário