sábado, 28 de julho de 2012

A moda está na moda


O filósofo Alfredo Cruz cita três finalidades para o vestuário: "a primeira, agasalhar-se, a segunda, cobrir-se, e a terceira ser vistos pelos outros de uma maneira agradável". Portanto, quem tem a mania do "eu sou assim quem gosta, gosta quem não gosta que se aguente", respire fundo antes de ler este texto, que vai doer.

Quem trabalha em diferentes contextos, com pessoas diferentes, ou tem mais do que um trabalho, tem "trabalho acrescido" no que diz respeito à indumentária. Se há muitos anos atrás, as pessoas se vestiam todas de igual numa determinada cultura, esses tempos já lá vão e a variedade chegou para ficar. É diferente trabalhar numa multinacional, num cabeleireiro, ou conduzir um táxi. Imaginam uma mulher de tailler, stilletos, e com uma inseparável pochette a pentear cabelos? Pois, eu também não.

Já tive dias em que pela manhã fazia um domicílio no Bairro dos Barronhos (onde me sentava no chão, em casas pobres, com gente simples) e da parte da tarde tinha de dar uma formação a "Doutores e Engenheiros:). Poderia ir vestida da mesma forma? Era difícil, para não dizer MUITO DIFÍCIL... (Maquilhagem, sapatos extra e uma écharpe na mala do carro ajudavam). A minha grande questão matinal, ou na noite anterior quando consigo ser mais responsável, é muitas vezes "Para onde vou amanhã?" será que vou para a praia? (gostava, mas não...) vou trabalhar? para onde? vou para o consultório? adultos ou crianças? Com quem me vou cruzar? (Até hoje me lembro de uma grande professora que tive na Faculdade que dizia sempre, lembrem-se se vão trabalhar com crianças que têm de ter "um pormenor qualquer" - um relógio com bonecos, uns brincos coloridos, uma camisola com pêlo, etc!).

Estas e outras questões do género me assombram o pensamento enquanto decido o que vou vestir, e de facto chego à brilhante conclusão: eu visto-me a pensar nos outros, não menosprezando claro a simplicidade, descomplicação e harmonia das quais já falava nos primórdios Coco Chanel. É claro que a minha roupa tem a ver comigo, sou eu que a compro, que a escolho, mas na hora de decidir, conta muito com quem vou estar, onde vou, para já não falar na estação do ano e nas horas do dia, que são importantes, mas muito menos importantes que as pessoas com quem me vou cruzar.

Há cerca de um mês fomos a um jantar de solidariedade. No convite vinha o "Dress code", neste caso era "Casual chique" por exemplo. A existência de um "Dress code" ajuda-nos a perceber que tipo de roupa devemos vestir. Neste caso, seria estranho ir de calças de ganga, por exemplo. Mas percebemos que a gravata era dispensável aos rapazes (o que o meu marido muito apreciou, lógico).

Na vida do dia a dia, na lufa lufa diária, não há dress code... não há essa nota técnica, que nos ajuda, há apenas o nosso bom-senso, o chamado "Bom-senso Code". E para bem usar este bom senso Code, não basta vestir "aquilo que me apetece" independentemente para onde vou.

Muitos poderão pensar "o corpo é meu, a roupa é minha, uso o que me dá na gana e ninguém tem nada a ver com isso" e eu digo - BUUUUUUU resposta errada. Se é verdade que "o ser humano no acto de se vestir e através da sua indumentária autodefine-se, expondo diante da sociedade maior quantidade de informação sobre si mesmo que um escultor poderia transmitir com a sua obra" (Diana Fernandez) também é verdade como diz Melinda Ruspoli (Relações públicas da Chanel) que "A moda propõe e a mulher dispõe".

Perante isto, tendo em conta a personalidade de cada um, e os seus gostos pessoais, é muito importante que pensemos nos outros na hora de vestir. (Isto vale também para as casadas, meninas, nada de "um trapinho qualquer quando chegar a casa" que o marido também é gente, sim?).
Pensar nos outros é o princípio da amizade, é o princípio do amor. O outro em primeiro lugar. Só assim conseguiremos viver bem em sociedade, relacionarmo-nos adequadamente. Estar confiantes e confortáveis.

É óbvio que devemos gostar da nossar roupa, mas devemos pensar no impacto que tem nos outros, como se vão sentir, o que vão achar de nós.
Escrevo estas linhas e lembro-me de alguns episódios engraçados que presenciei, na minha mente passam "flashs" de raparigas a puxar insistentemente vestidos curtos para baixo, ou blusas curtas a ver se esticam :) Mulheres a esconder vezes e vezes sem conta as alças do soutien que teima em voltar a aparecer... Não sou modista, nem estilista, nem costureira, mas garanto-vos que "assim de repente" a roupa não estica, não encolhe, não ganha forro, nem muda de cor... por isso, bom-sendo code, pensem bem na hora de vestir.

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