terça-feira, 22 de setembro de 2015

wild walk with conservatism


Acordei com essa vontade. Fui dar uma caminhada à noite por Angra. Queria ver a cidade com os seus tons naturais. Queria ver o céu com as luzes das estrelas, não aquelas luzes adulteradas. Queria cheirar as folhas das cryptomerias húmidas.
Mas numa aventura por caminhos desconhecidos, escarpados e árduos percebi que precisava de uma lanterna, daquelas lanternas que tínhamos em casa por causa dos abalos de terra ou porque a chuva de verão iria trazer trovoada com a possibilidade de ficarmos sem eletricidade. Não sou muito velha, mas sou desse tempo, do tempo que o mais útil e precioso instrumento não era um smartphone, mas sim uma lanterna e uma canivete suíço.
A verdade é que deixei-me levar pela espuma dos tempos, e o meu canivete enferrujou, como já nem sei onde está o indispensável foco.
No entanto aquela caminhada despertou-me, percebi que a luz do smartphone não era suficiente, que o smartphone apesar de muitas capacidades não consegue tirar aqueles espinhos do caminho, que o smartphone não mata a sede, que o smartphone fica rapidamente sem bateria - e normalmente é quando mais preciso dele - que a camara fotográfica do smartphone nem de perto nem de longe, nem com filtros, consegue captar a beleza daquele silêncio, daquela luz de São Jorge que estava a km e km e km de distância da minha ilha Terceira, mas era refletida na escuridão do oceano...
Volta seu instrumento regressista, volta seu objecto obsoleto, volta sua mentalidade retrógrado, porque eu com um smartphone não consigo sobreviver à  natureza, nem consigo fazer uma simples caminhada à noite pelos misteriosos caminhos do Monte Brasil.
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Paradoxalmente assim também se vive a politica, percebemos que os jovens smart-ideológicos ficam vazios perante um momento de crise, porque com a sua irreverência mudaram abruptamente a sociedade, trocaram a dignidade pela livre-rebeldia,  não quiseram ouvir os velhos, porque eram velhos.
Substituíram o básico, o essencial da tradição pelo frivolíssimo do modernismo.
E agora onde podemos comprar canivetes e lanternas? Quero-as de volta na minha vida...
Porque  foi com as simples bussolas, sem gps's, que aprendi que o  sol nasce a leste.
E foi com a tradição dos-velhos-dos-velhos que percebi que o Amor não é um simples sentimento, e isso é  realmente o básico para a sobrevivência humana.

1 comentário:

Francisco Vilaça Lopes disse...

Pois é! E o smartphone faz mal à coluna! :)