quarta-feira, 27 de junho de 2012

Relações complicadas

Nunca foi uma relação fácil. Ficava sempre alguma coisa por dizer, alguma coisa 'subentendida' que eu não entendia. Havia ali mais qualquer coisa, mais para dar, não podia ficar por ali. Mas eventualmente ficava, e quando eu esperava mais, a conversa acabava. Vocês insistiam em ser três, quando três é multidão.

A minha relação com as reticências nunca foi fácil. Nunca usei três pontinhos a não ser nas composições de português do 7º ano. Porque me parece um excesso. Mas já lá vamos.

Um ponto. Gosto. Um ponto diz tudo, straight and simple.

Mas há quem veja no ponto final uma resposta que se impõe, quase 'seca'. Quem só usa pontos finais nas suas frases corre o risco de parecer frio, distante. Falta emoção naquela vida! Falta alegria desmedida! Faltam pontos de exclamação desenfreados!!

Mas depois há aquelas pessoas que não conhecem os limites, que nunca ninguém lhes explicou que um parágrafo cheio de exclamações corre o risco de confundir o leitor e tudo o que é frase vira notícia de que o mundo vai acabar em 2013. Ele é ponto de exclamação no 'olá!', ele é ponto de exclamação no 'hoje tive exame!', ele é ponto de exclamação no 'beijinhos!'.

O que eu gosto mesmo mesmo é dos dois pontinhos. Nunca impõe, mas propõe. Resolvem sempre as conversas chatas porque se revelam extremamente dúbios: 'achas que me podias pagar os 8 euros que me deves à cerca de dois meses? É que corres o risco de eu tocar à tua porta às três da manhã, porque me têm feito muita falta..' ou 'querido/a vamos combinar como fazemos hoje? Eu posso ir buscar-te, ainda tenho dois litros de gasolina.. ou então vens tu..' ou 'João, epá tás bom? Olha hoje vou beber café com a tua ex-namorada, a Rita, ali ao Le Chat.. Alta cena! Espero que esteja tudo bem contigo! Abraço, Diogo". Love them!
Esta relação desce aos abismos quando se tratam dos três primos. Na minha cabeça, quando recebo uma mensagem com três reticências, passa-se o seguinte: "Mas 'tás-te a passar? queres que eu perca aqui 17 minutos a tentar decifrar se não te apetece ir porque vai estar lá não-sei-quem, ou se não te apetece ir porque está calor, ou se não te apetece ir porque está a jogar Portugal?".

Exemplifiquemos com algo mais concreto para este dia quente de Verão:
'Querido/a, podíamos ir comer um gelado ali ao Santini...'
Ahh.. Isso quer dizer que vamos comer um gelado? Ou depois és capaz de me levar à Disney só naquela? Ou queres que seja eu a oferecer desta vez? É isso? Mas essas três reticências significam que vais comer três bolas?..

E eu fico cansada. E é por isso que tu e eu nunca nos vamos entender. Sempre será uma relação difícil, pautada por desentendimentos. Tu a quereres dizer uma coisa, eu a querer perceber outra.
Onde fica o in-between?

Peço desculpa aos leitores que acharam, pelo título do post, que se tratava de um desabafo de relações complicadas. Não tenho disso, porque imaginem só, nunca tive uma única discussão....

1 comentário:

Ini Vaz Pinto disse...

Eu sou daquelas que não gosta de um ponto e usa ponto de exclamação em tudo (dois pontos) agora sempre que escrevo alguma coisa penso duas vezes antes de escolher a puntuação (dois pontos de exclamação)