sábado, 29 de julho de 2017

A açorianidade saboreia-se | Por Patrícia Foodwithameaning

Encontrei-me com esta receita, duvido que tenha sido por acaso:

A açorianidade saboreia-se

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É raro o domingo que eu não dê um saltinho à Feira do Gado na Vinha Brava, da qual já falei aqui anteriormente. De facto, esta rotina dominical tem contribuído para que abasteçamos a casa semanalmente de legumes e frutas frescas, regionais e biológicas. Naquele espaço reside a alma e o trabalho árduo de muita gente, a génese da ilha e uma fração da açorianidade, que eu faço questão de enaltecer sempre que posso.
Seguindo esta linha de pensamento, de que os produtos locais e estivais são os mais saudáveis e saborosos, decidi aceitar o convite da empresa EMATER para dinamizar, nos quatro supermercados Guarita e no mês de junho, oito showcookings totalmente dedicados aos produtos regionais. Nesta receita está a prova de que nem tudo o que é tradicional tem de ser calórico e açucarado. Esta é uma receita vegetariana saudável e repleta de sabor.


Legumes assados com azeitonas do Porto Martins, Tomilho e Rosmaninho
Ingredientes
  • cenoura
  • alho-francês
  • curgetes pequenas
  • cebola roxa
  • pimento amarelo
  • pimento encarnado
  • azeitonas em salmoura do Porto Martins
  • Tomilho e rosmaninho fresco
  • sal
  • moinho de pimentas
  • azeite
Preparação
Lavar e picar os legumes a gosto, temperar com sal, moinho de pimentas, azeite, ramos de tomilho e de rosmaninho, juntar as azeitonas e levar ao forno a assar.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

26 de Julho | dia dos Avós (II)

De facto a herança profunda que uma avó pode deixar tem um valor incalculável.

26 de Julho | dia dos Avós (I)

Dicas como apoiar os que mais precisam: AQUI

Porque uma boa sociedade não é feita de ideias mas de acções



Açorianidade

A "Açorianidade" é mais do que um conceito social, mas também é mais do que o sentimento, somente Nemésio para conseguir descrever aquilo que é básicos em nós açorianos:

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«Não sei se chego a tempo com a minha colaboração para a Insula no V centenário do descobrimento dos Açores. É uma colaboração estritamente sentimental, uma espécie de minuto de recolhimento em meia dúzia de linhas.

Entendo que uma comemoração deste vulto deve ser, mesmo quanto a palavras, rigorosamente monumental, feita de estudos e reflexões que ajudem a consciência açoriana a tomar conta de si mesma e contribuam para que os Açores, como corpo autónomo de terras portuguesas (um autêntico viveiro de lusitanidade quatrocen­tista), entrem numa fase de actividade renovada, de re­construção, de esforço humano e cívico. E neste mo­mento, é-me impossível dar a mínima contribuição nesse sentido.

Quisera poder enfeixar nesta página emotiva o essencial da minha consciência de ilhéu. Em primeiro lugar o apego à terra, este amor elementar que não conhece razões, mas impulsos; – e logo o sentimento de uma he­rança étnica que se relaciona intimamente com a grandeza do mar.

Um espírito nada tradicionalista, mas humaníssimo nas suas contradições com um temperamento e uma forma literária cépticos, – o basco espanhol Baroja, – escre­veu um livro chamado Juventud, Egolatria: «O ter nascido junto do mar agrada-me, parece-me como um augúrio de liberdade e de câmbio». Escreveu a verdade. E muito mais quando se nasce mais do que junto ao mar, no próprio seio e infinitude do mar, como as medusas e os peixes. Era este orgulho feito de singularidade e solidão que levava Antero a chamar aos portugueses da metrópole os seus «quási patrícios».

Uma espécie de embriaguez do isolamento impregna a alma e os actos de todo o ilhéu, estrutura-lhe o espírito e procura uma fórmula quase religiosa de convívio com quem não teve a fortuna de nascer, como o logos, na água. Daqui partiria o fio das reflexões que me agradaria desenvolver.

Meio milénio de existência sobre tufos vulcânicos, por baixo de nuvens que são asas e de bicharocos que são nuvens, é já uma carga respeitável de tempo, – e o tempo é espírito em fiéri. Mais outro tanto, e apenas trocaremos metade da memorialidade de Vergílio.

Somos portanto, gente nova. Mas a vida açoriana não data espiritualmente da colonização das ilhas: antes se projecta num passado telúrico que os geólogos redu­zirão a tempo, se quiserem... Como homens, estamos sol­dados historicamente ao povo de onde viemos e enraizados pelo habitat a uns montes de lava que soltam da própria entranha uma substância que nos penetra. A geografia, para nós, vale outro tanto como a história, e não é debalde que as nossas recordações escritas inserem uns cinquenta por cento de relatos de sismos e enchentes. Como as se­reias temos uma dupla natureza: somos de carne e pedra. Os nossos ossos mergulham no mar.

Mas este simbolismo está muito longe de aludir com clareza aos segredos do ser açoriano, e mais parece um entretenimento literário do que um sério propósito de pôr o problema da nossa alma. Um dia, se me puder fechar nas minhas quatro paredes da Terceira, sem obrigações para com o mundo e com a vida civil já cumprida, tentarei um ensaio sobre a minha açorianidade subjacente que o desterro afina e exacerba. Antes desse dia de libertação íntima mal poderei fazer-me entender dos outros. Um aceno de ternura, um vago protesto de solidariedade insu­lar a distância é o muito que estas linhas podem significar."»


Vitorino Nemésio, 
Coimbra (Cruz de Celas), 19 de Julho de 1932

quarta-feira, 12 de julho de 2017

HEart na comunicação social | Diário Insular #19

Ultimamente tenho sido abordada na rua - vantagens de viver num meio pequeno - para escrever sobre a nossa insularidade, contaram-me algumas histórias com graça (muitas delas estão aqui), são tantas as coisas para escrever e aprofundar, mas em jeito de "resumo" decidi fazer uma espécie de "lista" no artigo desta semana:  para quem é de fora pode parecer estranho, mas para quem é da ilha é normal. (uma coisa é certa: pelo estranho ser tão normal, faz de mim mais terceirense.)







É normal e é na Terceira
Margarida B. Martins Machado – Crónicas da rapariga do sótão


-Meter uma corda a um touro e correr à frente dele.
-A colega no trabalho dizer que não dormiu na última noite porque as vacas do vizinho entraram pela casa a dentro e comeram a horta do marido.
-Estar no avião que demora mais de 30 minutos para aterrar porque há um animal à solta a correr na pista do aeroporto (quais drones…).
-Ir correr para o Monte Brasil, sair de lá com uma Massa Sovada - porque havia festa na ermida do Santo António - e, mesmo com o pão nas mãos, continuar a correr.
-Contar o tempo com a seguinte expressão: “antes ou depois do sismo?”.
-Ficar ofendido quando no 5º touro não entraram lá em casa.
-Encher a rua principal e mais movimentada da cidade com cadeiras, como se não houvesse mais vida para além do desfile e das marchas de São João.
-Chegar atrasada ao trabalho porque é obrigatório cumprimentar todas as pessoas conhecidas que estão na rua.
-Pensar que o tempo da reforma será gasto num banco no Alto das Covas.
-Os pastores são homens rijos, não tomam conta de ovelhas, agarram é a corda ao touro.
-Beber café todos os dias no mesmo café e, passados uns meses, ser convidada para a função da coroação do empregado do balcão.
-Achar que só se vai ali num instantinho beber um copo depois do trabalho e chegar a casa depois da meia noite.
-Estar alerta vermelho com a possibilidade de passar um furacão e, ainda assim, decidir fazer um churrasco porque o tempo está “abafado”.
-Reencontrar a amiga, que há mais de 10 anos migrou para o continente, falar com ela como se a tivesse visto ontem.
-Chegar ao carro e ter o parquímetro pago por um desconhecido, metido no para-brisas.
-Dar nomes às vacas e falar-lhes como fossem cães: “senta Mimosa!”.
-Convencer-se que roubar a americanos não é pecado.
-Quando ouve um barulho de uma ambulância ligar a todos os filhos/netos para perceber se não foi com eles.
-Falar mal de alguém ao parente desse alguém.
-Atravessar fora da passadeira na rua da Sé, mesmo com as centenas de passadeiras que a rua da Sé tem.
-Achar que é primo de toda a gente.
-Tratar os políticos importantes com as alcunhas do tempo do liceu.
-Ir dar um recado à vizinha e sair de lá passadas três horas com as novidades de toda a rua.
-Dar mais importância às rivalidades das ganadarias do que às dos partidos políticos ou do futebol.
-Jogar golfe, porque aqui é um desporto de massas e não de elites.
-Fechar uma rua para um casamento.
-Não haver nenhum dia de verão sem festas.
-Ter que tirar férias depois das festas.
-Cumprimentar e falar com os turistas, tentar explicar as nossas tradições, mesmo quando não se sabe falar inglês (atenção falar mais alto não significa que te compreendem melhor).
-Passar os dias de carnaval sentados numa sociedade, apanhar constipações, mas nunca se levantar da cadeira, nem mesmo quando se está aflito para ir à casa de banho.
-Mandar foguetes para o ar em sinal de aviso que há touro na rua.

Por vezes dou por mim a pensar na nossa incomum normalidade e é por isso que sou apaixonada pela Terceira.
http://no-teu- coracao.blogspot.pt/

margaridabenedita@gmail.com


sexta-feira, 7 de julho de 2017

Feminino contemporâneo: "como de pouco vale pugnar por quotas nas empresas se aceitamos fechar os olhos a coisas como estas"



"Sei que é politicamente incorreto dizê-lo, mas indigna-me o aparente consenso com que as pessoas acolhem o "episódio" Cristiano Ronaldo e os gémeos, aceitando alegremente a versão de que foram gerados por uma barriga paga a preço de ouro. Como se não houvesse nada de chocante em que as crianças fossem entregues como se não passassem de um qualquer gadjet, encomendado pela internet, e que se espera ansiosamente tenha a nossa cara. Como se, em sendo verdade (e elas aceitam que sim) não houvesse nada de especial em mandar fabricar crianças propositadamente órfãs de mãe, exibindo-as narcisicamente como um produto exclusivo. Nem sequer vejo estranhar uma opção destas tomada por alguém que tem na própria mãe uma heroína, indispensável em todos os momentos.

Espantam-me os milhões de gostos quando alguém declara que aos filhos basta terem "pai e um pai inacreditável" como ele, como se não soubéssemos todos que é exatamente quando um dos pais se acha tão extraordinário, que a criança mais precisa do contraponto de alguém "normal" na sua vida.

Estranho porque é que tantas pessoas se calam, nomeadamente gente com responsabilidade na defesa dos direitos das crianças, e que sabem bem que o direito a uma mãe ou a um pai, não é uma prorrogativa de quem a procriou, mas da própria criança. Porque não tornam pública uma opinião fundamentada sobre o que acontece não só neste caso mas no de tantos outros "famosos" que repetidamente enchem as páginas dos media, uma opinião que nos ajude a refletir?

Deixa-me perplexa porque é que os sábios não se chegam à frente para perguntar alto se é realmente isto que queremos, um futuro onde o dinheiro compra a técnica para tornar as crianças num produto consumível, produzido cada vez mais "à carta"? Consubstanciando, além do mais, um negócio de compra e venda de seres humanos.

E, já agora, porque estão silenciosos os Historiadores, que sabem bem que embora mascarado de admirável mundo novo, o que vemos agora acontecer é, na essência, um retrocesso civilizacional. Os homens ricos e poderosos punham, sem pestanejar, o corpo das mulheres ao seu serviço. As "barregãs" que viam o filho reconhecido pelo rei, eram recompensadas "pelo uso do seu corpo" (a expressão é mesmo esta), e os infantes criados na corte, educados com todos os privilégios que o divino sangue paterno ditava. Soa familiar? Muito, mas convinha também recordar como os direitos das mulheres e das crianças evoluíram desde aí, como de pouco vale pugnar por quotas nas empresas se aceitamos fechar os olhos a coisas como estas.

E nós todos, cidadãos comuns, mas que temos voz e voto, em que é que ficamos? Basta uma vista rápida aos comentários à notícia para perceber que, para muitos, a fama e o dinheiro parecem compensar tudo. Se a criança pergunta pela mãe, que importa que lhe digam que morreu ou viaja (como li nas declarações de uma das irmãs Aveiro), se em troca pode entrar pelo campo adentro ao lado do pai mais famoso do mundo (com todo o mérito), que diferença faz que um dia deixe de perguntar por ela e se remeta a um silêncio deprimido, se pode viajar, viver numa mansão de infinitos quartos, realizar todos os desejos e herdar um dia a fortuna do craque? Decididamente, talvez tantos se calem porque, secretamente, davam a mãe para serem filhos do Cristiano Ronaldo."

Nada de novo na república portuguesa

A república portuguesa é como aquele tipo que gosta de ser assaltado, mas por um Robin dos Bosques invertido, roubam aos pobres para darem aos ricos.

Ao menos é um facto que os "nossos assaltantes" são doutores e engenheiros, e, sempre transvertidos de princípios intelectuais, artísticos e muito republicanos.

Alguém lembra-se do Diogo Gaspar? "O cavaleiro que diz provocar inveja entre os medíocres" Aqui está ele de volta à república portuguesa:



Politica-mente-correcto

"O que é ridículo é se pediu desculpa por ter chamado ridículo a um facto absolutamente ridículo. Nada há de pior na política do que recuar no uso de palavras justas." 
José Ribeiro e Castro sobre isto: