Queridas(os), não contenho a felicidade com este presente que recebi hoje. Isto que está na imagem é um quadro pintado pela minha querida tia Bebé, a irmã mais nova do meu avô João Pedro, pai do meu pai. A tia Bebé é a décima terceira irmã. E é uma artista, tal como tantos irmãos do meu o avô o foram, e ainda são.
Já que no outro dia dediquei um post aos meus irmãos, hoje falo de outros 13 irmãos que foram e são os irmãos Alvim de Seiça!
Então o meu avô era o irmão mais velho dos rapazes, porque a mais velha foi mulher, a tia Teresinha. O avô era médico, e não consta que tenham deixado obra(artística claro está!). Mas depois, lá para o meio, não sei as ordens, quem vem antes ou depois, muitos dos meus tios Alvins foram grandes artistas, todos autodidactas.
O único que saiu do anonimato foi o meu tio Fernando Alvim, grande guitarrista português, que tocou com o Carlos Paredes e outros ilustres nomes do mundo da música portuguesa. Tocou com a Amália, com o Carlos do Carmo e muitos mais. Recentemente, para comemorar os seus 50 anos de carreira, e em grande parte por insistência de sua mulher, minha querida tia Rosarinho, compôs um Álbum que eu aconselho vivamente que procurem e o comprem. Chama-se Os Fados e Canções do Alvim! é simplesmente maravilhoso. O meu tio quando começou, pensou que comporia apenas 12 músicas, as que geralmente compõem um CD, mas com o entusiasmo, acabaram por ser 37. Todas as músicas são compostas por ele, as letras variam, e os cantores vão desde Camané, Carminho, Carlos do Carmo, Ana Moura entre outros. Todas as minhas viagens grandes são ao som dos Fados do tio Fernando, aqueles que mais gosto são: Meu Amor Vem Ver o Rio (com Carminho a cantar), Pássaro Na Voz (Ana Moura), Fado do Sol Errado (Ana Sofia Varela). Depois há dois muito especiais que são o Fado Alvim (Carlos do Carmo), em que a letra acaba falando do azul Alvim, que é o tom azul dos olhos dos meus tios, um azul de uma profundidade imensa, infelizmente eu não fui contemplada com tais olhos!! e o outro é Alguém viu por aí a Margarida? cantado por Camané, desse eu gosto muito porque começa assim: Alguém viu por aí a Margarida? A moça mais vistosa da viela... desculpem o egocentrismo, mas a canção e tão gira!
O tio Jorge... nunca o conheci, não sei bem se morreu antes ou depois de eu nascer, mas tenho a certeza que o adoraria ter conhecido porque...foi um pintor incrível. Um pintor que os portugueses têm o direito de conhecer. Os seus quadros enchem as paredes das casas de toda a família, mas principalmente as da Quinta de Seiça, e as da casa de Lisboa, na Eduardo Coelho. Duas casas incríveis de acolhedoras, familiares e vividas! O Tio pintou as paisagens de Seiça, a fachada da Quinta vezes sem conta, os caminhos, as naturezas mortas, mas o quadro mais impressionante para mim, e tenho a certeza que poderia estar ao lado de um Vincent Van Gogh, ou de um Monet, e não estou a exagerar, é o seu auto-retrato. A sua expressão, os olhos, as sombras, os traços... é daqueles quadros que fazem mexer cá por dentro, nos tiram a respiração, comovem... E é por isso que digo que Portugal merece conhecer o tio Jorge Alvim, que nasceu e viveu pelas terras de Ourém, foi engenheiro de minas, profissão na qual não foi muito feliz, e nos tempos livres, e depois no tempo da reforma, se expressou através da pintura, deixando uma vasta obra que merece ser concentrada e exposta ao mundo! Por ser um homem de uma profunda humildade, nunca quis expor, vivia convicto de que não era grande coisa! humildade...a uns tanta e a outros tão pouca..
Eu devia ter pensado antes de começar a escrever, porque cada tio meu merecia um post inteirinho, é muita coisa para compilar num só! Estou convencida que o ambiente como o que experimentamos em seiça, não existe em mais lado nenhum. Aquilo é família, é amor, é paz, é desprendimento, é alegria. E cada um com o seu dom.
A tia Cila, verdadeira instituição na nossa família, é uma doceira como só ela sabe! Não conheço ninguém assim! e para além da doçaria, também é artista, faz uns presépios lindíssimos, em que os bonecos são feitos com as cascas do milho, com feno, e adornados com bonitos tecidos e pinturas! Um dia quando lá for, tiro fotografia e mostro. Também poderia falar aqui do tio Tóquim e do tio Nuno, irmãos gémeos amigos! sempre juntos! dormiram sempre no mesmo quarto ate o tio Nuno morrer. Não abraçaram o sacerdócio, para o qual ambos tinham vocação, porque o meu bisavô lhes pediu que ficassem a tomar conta das irmãs, muitas ficaram solteiras. Homens verdadeiramente santos, como me recordo de os ver a passear no jardim, um atrás do outro, passando pelos dedos as contas do terço! tímidos, muito, mas geniais, com um sentido de humor que apenas se percebe naquilo que deixaram escrito. O tio Nuno era juiz, mas poeta de coração!
Ainda há que falar do tio Méu, pintor fantástico, um dos irmãos mais novos, homem lindo, da tia Nicha, da tia Ção , da tia Bébe. Todas artistas, mulheres inteligentes e interessadas! Apreciadoras de leitura, bonitos romances, de jogar as cartas, quantas paciências! o tricot, o desenho, a pintura!
Fica tanto por dizer, por isso, não hoje, talvez amanhã?, vou continuando a contar histórias dos alvins.. que legado deixam...e que responsabilidade também a nós, pequenos, de o continuar..por isso hoje decidi e vou voltar a pintar, se é que alguma vez o fiz!!
Termino com um obrigada a minha tia bebé, que tinha este quadro adorável, escondido entre muitos outros! disse-lhe: um dia a tia tem que me vender uns , e ela: oh filha! gostas deste? leva!
2 comentários:
Querida Margarida, como é engraçado e uma boa surpresa encontrar-te neste blog a que venho parar por desafio de uma ex colega, a Alexandra.
Que bom ler as tuas palavras e rever-me nelas, encontrar a minha, a nossa, família tão bem contada e encontrar nas tuas palavras um reconhecimento verdadeiro e merecido da vida de uma grande geração de gente boa e simples que são os tios.
Um grande beijinho
ahhh vocês são familiares! Realmente o apelido... :) Beijo a ambos! Ele há coincidências fantásticas!
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