"O Norte é feminino. O Minho é uma menina. Tem a
doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco
doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por
isso. As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis,
daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se
sozinhos. Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas.
Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão
confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas,
graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo
nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras.
Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes
fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se
lhes falta ao respeito. Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das
orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de
quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das
saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens.
Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os
maridos, mas gosto delas. São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem.
As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que
estão a fazer."
Miguel Esteves Cardoso - um excerto do artigo "O Norte"
4 comentários:
Gosto especialmente, vá-se lá saber porquê :)
Texto que é um máximo. Adorei! Queremos mais desta blogger!
As mulheres das ilhas também são assim :)
E as mulheres de Viseu, mais propriamente de Povolide, sem se fala! Incluindo quando assobiam nas curvas.
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