quarta-feira, 9 de maio de 2012

Uma guerra feita de glamour

Um dia um senhor francês olhou para os sapatos de salto alto das mulheres e concluiu que lhes faltava energia e vibração. Vaí daí - os designers têm destas coisas - agarra num verniz vermelhão e desata a pintar a sola de um desses pares, num acto de pura genialidade, fazendo nascer assim a marca Louboutin, de Christian Louboutin, conhecida pelos seus incríveis sapatos topo de gama:

"Quando as estrelas de Hollywood atravessam a passadeira vermelha, e as modelos caminham pela passerelle, e os olhos de toda a assistência se centram nos seus pés, solas vermelhas lacadas em sapatos pretos de salto alto gritam glamour! Para os mais entendidos, uma palavra surge imediatamente nas suas mentes: Louboutin!".

Durante anos, Christian Louboutin criou uma reputação que o levou aos píncaros: falava-se dos seus sapatos em músicas, em séries televisivas, em revistas de moda. Qualquer estrela de Hollywood que se prezasse tinha pelo menos um parzinho destes no seu armário. 

Acontece que no ano passado a YSL teve ideia semelhante, posta em prática na sua coleção de 2011: criar uns sapatos totalmente vermelhos, também na sola, ameaçando terrivelmente o império Louboutin. Vai daí que vão para tribunal, a Louboutin para fazer cessar a venda dos sapatos YSL, a YSL para cancelar a marca registada da Louboutin, por entender que, no mundo da arte, conceder o exclusivo de uma cor básica a um só artista constitui uma limitação inadmissível da concorrência.

E agora, quem tem razão? Não deviam então ser canceladas também as marcas da Burberry's, da Tiffany's, ou da Gucci? A guerra está longe de acabar, porque Christian Louboutin já prometeu que vai levar a defesa até às últimas consequências. Num post mais à frente, darei a minha opinião sobre o tema (e seleccionarei os meus - vários - Louboutin's preferidos). Por agora, interesso-me mais em saber a vossa!

10 comentários:

Maria disse...

Espero que nos contes como acabou a guerra. Realmente faz-me impressão mais ninguém poder pintar solas de sapatos de vermelho que é "a" cor. Especial. Não é o mesmo que azul ou verde ou... Mas estas guerras dão-se a outro nível também. Agora mesmo mandaram retirar das lojas Zara do mundo inteiro um vestido porque ... era cópia de um costureiro que fez queixa. E não é a primeira vez. A Zara retira tudo porque não "compra" esta guerra nem se sujeita a isso e porque... é muito "inspirada" pelos costureiros (para não dizer outra coisa...). E por isso é que tem o enorme mérito de ter democratizado a moda. Teresa: fico à espera do resto da história. Um beijo da Maria.

Anónimo disse...

Maria, obrigada pelo comentário! Hei-de contar tudo, claro. O tribunal já se pronunciou quanto à providência cautelar, mas eu não queria adiantar mais nada porque acho giro saber a opinião do público deste blog - não só o feminino - quanto a estas questões da moda, da cor, etc. Concordo: vermelho, no mundo da moda, não é o mesmo que azul ou verde!

CM disse...

Um exclusivo destes é de facto difícil de controlar!
Até porque o Louboutin controla o que lança para o mercado marcas como a YSL, mas dificilmente controla as sapatarias daqui do nosso cantinho. E se derem uma espreitadela na Seaside descobrem sapatos com sola vermelha!!!

alexandrachumbo disse...

Bem... polémica no mundo da moda! Estou desejando de ler mais :) Na minha opinião quando alguém tem uma ideia única, e muito luminosa, deveria ter os "direitos de autor" da mesma, isto numa sociedade muito justa e recta, o que não acontece no "nosso mundo" claro. Estamos tão habituados a ver imitações de tudo "e mais um par de botas" que a ideia de não copiar até nos parece absurda... Fica a minha opinião, e só não fica a Vermelho :) (piadinha) porque isto só escreve a preto!

Anónimo disse...

É verdade. Eu própria não sei se não levaria os meus botins a um sapateiro para lhes pôr a sola vermelha lacada!! E as imitações são a prova da enorme procura dos sapatos - só uma marca famosa é que tem imitações. Mas de facto não se compara uma seaside com uma YSL (quer dizer, compara mas há uma perdedora óbvia!). Daí que a Louboutin esteja tão firme nesta reivindicação. No fundo, sabe que as cópias ou não cópias feitas pela YSL podem mesmo estragar-lhe o negócio!

Anónimo disse...

Temos aqui uma adepta da Louboutin (como eu te percebo...)! :) A YSL diz é que estes sapatos, embora originais, não são novos, porque o Rei Luís XIV (esta gente tem uma cabeça!) tinha uns sapatos de dança com sola vermelha, bem como a Dorothy (do Feiticeiro de Oz). E junto mais uma pitada de sal à discussão: se a Louboutin pode ter o exclusivo da sola vermelha, o que impede todos os outros artistas de reivindicar outra cor noutra parte do sapato - azul nos atacadores, verde na biqueira, ou até mesmo branco monocromático em todo o sapato? Não chegaríamos ao ponto em que ninguém poderia produzir sapatos porque as cores já estavam todas esgotadas? E quem diz sapatos, diz tudo o que é roupa, acessórios, etc!

alexandrachumbo disse...

Objectivamente rendo-me à tua resposta Teresa... por um momento de ilusão e devaneio dei comigo a ser Louboutin e a ficar zangada por copiarem a minha ideia, pensei em como me sentiria defraudada ao ver cópias daquilo que eu poderia ter imaginado em 1º lugar, mas agora penso em Louis XIV, déspota como era, zangadissimo com Loubotin, e penso em Dorothy a sorrir com tamanha trapalhada :)De facto ter o império de uma cor de sapatos (ainda que na sola) é pedir muito ao mundo, que se espera tão criativo e moderno, e onde afinal, originalmente, o Criador é um Só!

Ana disse...

Teresa! Se se tratasse de uma patente feita pela Laboutin, eu estaria do lado dele, porque uma patente tem princípio meio e fim e permite regras de mercado perfeitamente justas e competitivas. Uma vez que se trata de uma marca registada através de um atributo que limita a criatividade de outros estilistas, só me parece algo certo se essa limitação tiver um período temporal definido. Como não tem, YSL count me in!

Anónimo disse...

Ana, obrigada pela tua opinião (e de todas!). É verdade o que dizes. Por outro lado, se os artistas não puderem ver as suas cores singulares protegidas, então é o fim do mercado das cores no mundo da arte. Ou seja, uma decisão pro-YSL dirá a todos os artistas: "Não invistam nas cores simples e sim nos padrões, porque as vossas cores simples nunca serão protegidas, mesmo que toda a gente as associe aos vossos produtos." Não seria estranho? E então não será qualquer padrão também uma limitação aos outros artistas? E não é, de facto, genial passados tantos anos de saltos altos ter vindo Louboutin e revolucionado assim a vida das simples solas de sapatos? Vale a pena pensar nisto :)

Anónimo disse...

Xana obrigada! É verdade que parece um pouco excessivo tanta proteção à primeira vista, mas na verdade eu estava a meter-me contigo. De facto, há muitas razões boas para proteger os preciosos Louboutin, que te contarei com tempo (depois explicarei porque é que agora fica em segredo!). Espero que te divirtas a imaginar as soluções possíveis desta guerra tanto como eu! Beijos e obrigada!