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quarta-feira, 12 de julho de 2017

HEart na comunicação social | Diário Insular #19

Ultimamente tenho sido abordada na rua - vantagens de viver num meio pequeno - para escrever sobre a nossa insularidade, contaram-me algumas histórias com graça (muitas delas estão aqui), são tantas as coisas para escrever e aprofundar, mas em jeito de "resumo" decidi fazer uma espécie de "lista" no artigo desta semana:  para quem é de fora pode parecer estranho, mas para quem é da ilha é normal. (uma coisa é certa: pelo estranho ser tão normal, faz de mim mais terceirense.)







É normal e é na Terceira
Margarida B. Martins Machado – Crónicas da rapariga do sótão


-Meter uma corda a um touro e correr à frente dele.
-A colega no trabalho dizer que não dormiu na última noite porque as vacas do vizinho entraram pela casa a dentro e comeram a horta do marido.
-Estar no avião que demora mais de 30 minutos para aterrar porque há um animal à solta a correr na pista do aeroporto (quais drones…).
-Ir correr para o Monte Brasil, sair de lá com uma Massa Sovada - porque havia festa na ermida do Santo António - e, mesmo com o pão nas mãos, continuar a correr.
-Contar o tempo com a seguinte expressão: “antes ou depois do sismo?”.
-Ficar ofendido quando no 5º touro não entraram lá em casa.
-Encher a rua principal e mais movimentada da cidade com cadeiras, como se não houvesse mais vida para além do desfile e das marchas de São João.
-Chegar atrasada ao trabalho porque é obrigatório cumprimentar todas as pessoas conhecidas que estão na rua.
-Pensar que o tempo da reforma será gasto num banco no Alto das Covas.
-Os pastores são homens rijos, não tomam conta de ovelhas, agarram é a corda ao touro.
-Beber café todos os dias no mesmo café e, passados uns meses, ser convidada para a função da coroação do empregado do balcão.
-Achar que só se vai ali num instantinho beber um copo depois do trabalho e chegar a casa depois da meia noite.
-Estar alerta vermelho com a possibilidade de passar um furacão e, ainda assim, decidir fazer um churrasco porque o tempo está “abafado”.
-Reencontrar a amiga, que há mais de 10 anos migrou para o continente, falar com ela como se a tivesse visto ontem.
-Chegar ao carro e ter o parquímetro pago por um desconhecido, metido no para-brisas.
-Dar nomes às vacas e falar-lhes como fossem cães: “senta Mimosa!”.
-Convencer-se que roubar a americanos não é pecado.
-Quando ouve um barulho de uma ambulância ligar a todos os filhos/netos para perceber se não foi com eles.
-Falar mal de alguém ao parente desse alguém.
-Atravessar fora da passadeira na rua da Sé, mesmo com as centenas de passadeiras que a rua da Sé tem.
-Achar que é primo de toda a gente.
-Tratar os políticos importantes com as alcunhas do tempo do liceu.
-Ir dar um recado à vizinha e sair de lá passadas três horas com as novidades de toda a rua.
-Dar mais importância às rivalidades das ganadarias do que às dos partidos políticos ou do futebol.
-Jogar golfe, porque aqui é um desporto de massas e não de elites.
-Fechar uma rua para um casamento.
-Não haver nenhum dia de verão sem festas.
-Ter que tirar férias depois das festas.
-Cumprimentar e falar com os turistas, tentar explicar as nossas tradições, mesmo quando não se sabe falar inglês (atenção falar mais alto não significa que te compreendem melhor).
-Passar os dias de carnaval sentados numa sociedade, apanhar constipações, mas nunca se levantar da cadeira, nem mesmo quando se está aflito para ir à casa de banho.
-Mandar foguetes para o ar em sinal de aviso que há touro na rua.

Por vezes dou por mim a pensar na nossa incomum normalidade e é por isso que sou apaixonada pela Terceira.
http://no-teu- coracao.blogspot.pt/

margaridabenedita@gmail.com


terça-feira, 2 de agosto de 2016

Resposta.

Já escrevi muita porcaria aqui, como já transcrevi muita coisa boa aqui.
Já mostrei a minha opinião sobre os mais diversos assuntos políticos, sobre as mais diversas matérias económicas e sobre as mais diversas ideologias filosóficas.
Normalmente escrevo contra o pensamento corrente da sociedade actual (mania de ser diferente), aqui disse que o casamento era indissolúvel, aqui mostrei a melhor forma de combater a sida, aqui falei do governo e da ausência dele, defendi a liberalização do uber em vez da prostituição.... e normalmente só tinha comentários bons, de iniciativa (admito que havia um ou outro mais chatinho) o que era estranho!
Entretanto decidi escrever sobre touradas - Clique AQUI - como podem ler no texto a causa nem é minha, o respeito, a tolerância, a liberdade e a democracia é que são as minhas causas.
Contudo este texto teve mais de 1 centena de partilhas (é que já perdi o rasto) tornando-se o texto mais lido do blog.
A consequência é que eu recebi imensos comentários, alguns públicos, outros comentários que já nem sei por onde andam... O facto é que pela primeira vez recebi um conjunto de comentários maliciosos, injuriosos, provocadores etc, etc...
Percebi a intolerância dos tolerantes, palavras como a mãe natureza estará com os olhos postos neste animal (asqueroso) que sou eu, que a minha capacidade de amar será sempre inferior à do meu cão e que as forças do universo irão conspirar na minha vida...
Tenho pena do discurso ter descambado desta maneira, o facto é que perdemos a credibilidade. Os animais já não são iguais aos homens, tornaram-se superiores, em sentimentos e em atitudes.
O meu alerta era simples, que no meio desta discussão e desta agenda ideológica, perdemos o humanismo, perdemos a crença na nossa raça, perdemos a vontade de lutar por aqueles que sofrem, que morrem nas mãos dos terroristas, perdemos a paz...
Não vou comentar cada comentário, mas quero agradecer quem me defendeu quem me apoio e, também e sobretudo, quero agradecer o facto de haver gente que me contradiz, que é contra aquilo que eu escrevo, por momentos pensei que a minha mãe (que é a melhor mãe do mundo e gosta imenso de pôr likes nas minhas coisas) era a única leitora deste muito petit blog, escrito por um conjunto de animais, algumas, digamos até são bons animais.
Podem ficar descansados que eu continuo a não ver touradas, nem na televisão, e que continuo uma apaixonada pela minha natureza, pelo mar e pelos peixes, pelas aves e pelos touros... e sobretudo pelos homens, que continuarei a lutar pelo direito à vida em Portugal e pela liberdade religiosa, continuarei a denunciar o terrorismo e as mais diversas formas de engenheiria social.
 
Entretanto meus caros, quero que todos vós fiquem cientes que fiz as pazes com a mãe natureza e as forças do universo, eis a prova:
 
 

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Depois de tanta discussão e polémica aqui no blog sobre o tema (a causa que nem é minha:Touradas)

 
Tive uma iluminação! Para incentivar os meios de comunicação social, como as elites politicas internacionais do ocidente, a moverem-se a favor das vitimas do ISIS podíamos dizer que os tipos andam é a matar touros ou gorilas ou leões.... Talvez tenhamos mais sensibilidade?
(just a suggestion)

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Diário de uma açoriana num fim de semana prolongado

Tão bom quando o tal feriado é uma sexta-feira, é um cheirinho de mini férias. No trabalho via-se os sorrisos logo na quinta-feira de manhã e depois do almoço já estávamos a desejar bom fim-de-semana.
Contudo veio logo a duvida: o que fazer com tanto tempo? É tão bom ter a sexta-feira como feriado, mas muito rapidamente é tão fácil desperdiçar a sexta-feira como feriado.
Queríamos  viajar, arejar do habitual, mas isto nos Açores não é assim tão fácil, não é meter-se num carro e partir pela estrada fora...
(Mas eu gosto tanto de viajar: conhecer e viver outras culturas e tradições, provar outras gastronomias, respirar outras naturezas) 
 
Diário de uma açoriana num fim de semana prolongado

Dia #1 
1 de Maio 2015 | Sexta-Feira | Angra do Heroísmo 
(dia da tempestade)
 
Pensei em acordar mais tarde, mas o temporal não deixou, não só porque a chuva batia forte na janela e mesmo assim os pássaros não deixavam de cantar alto, mas porque os aviões tinham sido desviados para a minha ilha (afinal de contas temos a base das Lajes, temos uma das maiores pistas do país) e aquela minha amiga que tinha  como destino São Miguel teve de passar a manhã na ilha Terceira, um açoriano nunca deixa ninguém sozinho, principalmente se estiver na sua ilha.
Lá fui eu com a minha mãe, atravessamos a Terceira em tempo de temporal, num meio de um nevoeiro que não nos deixa ver nada que esteja fora do carro, a chuva a batia no vidro  como quisesse entrar sem licença, e estávamos nós a caminho da Praia da Vitória.
Chegamos ao aeroporto, já sabíamos da novidade, pela primeira vez aterrou-nos uma low cost,  é irónico, mas a força da natureza foi mais forte que a força de uma economia proteccionista,  não era uma low cost para nós, os terceirence ainda não tiveram esse direito,  mas parou aqui porque precisou de nós. 
Já que estávamos na Praia decidimos almoçar por lá, a chuva e o mau tempo não detêm um insular, almoçamos na feira gastronómico  (já vos falei como os açorianos gostam de comer? E de comer bem?) a feira gastronómica são quatro semanas em que os melhores chefes do Terceira criam um menu especial nos seus restaurantes: AQUI
De volta a Angra e acompanhados sempre pela tempestade.
Á noite tínhamos o programa da associação ACM (conhecem a ACM? Vale a pena clicar AQUI) e num concerto solidário ouvimos cantorias, as cantorias ou as cantigas ao desafio fazem parte da cultura terceirense, é uma coisa mesmo nossa, daquelas coisas que nos dá aquele orgulho de ser de onde somos.
A noite acabou na Tasca das Tias (Boa Cama e Boa Mesa AQUI) em que o camarões era acompanhados pela lambreta. Gastronomia é isto.

 

 
Dia#2
2 de Maio 2015 | sábado | Angra do Heroísmo
(dia que a tempestade acalmou)
 
A minha terra é uma terra de touros e touradas.
Dia 2 de Maio era dia de Ferra da Ganadaria dos Rego Botelho, na ilha Terceiras as Ganadarias são mais fortes que os partidos ou que os clubes de futebol, aqui não se pergunta se és de esquerda ou de direita? se és do Benfica ou do Porto? aqui o que importa saber se és do Rego Botelho? Ou do José Albino? ou se és Ezequiel Rodrigues? Entre outros... e assim cria-se os amigos e assim cria-se os inimigos.
A ferra é um dia de festa, vamos para o mato, para o tentadero, numa caldeira no interior da ilha, com uma paisagem lindíssima, ainda por cima a tempestade tinha criado pequenos lagos no meio dos cerrados, misturando os diferentes tons de verde que estavam espalhados pelos montes, os bezerros corriam nas terras e atiravam-se à agua, era impossível não pensar que como são felizes estes animais (mais fotos: AQUI)
A ferra junta os homens fortes da nossa ilha, se em outros tempos por aqui havia gente que caçava baleias só com um arpão, nos dias de hoje há homens que lutam contra os touros.
Aquele cheiro a coro queimado mistura-se com o sabor da cerveja servida em jarros, botas e roupa respingadas com a lama que a força dos bezerros levanta, aqui o sol confunde a humidade que vem da terra. Os mais corajosos estão dentro do tentadero, onde não faltou mulheres, os outros limitam-se a ver de cima para baixo, talvez para não sujar a roupa, aplaudem e chamam os touros com assobios estranhos.
Não faltou o churrasco da melhor carne dos Açores, temperada pela simplicidade dos homens da terra, sal e alho, sem pretensiosismos do groumet estava ali todo o sabor da terra, e houve conversa até ao final do dia. Tradição é isto.
 
 


 
Dia#3
3 de Maio 2015 | domingo | Angra do Heroísmo
(dia que se sentiu o sol)
 
Dia da mãe, tínha combinado dar um passeio com a mãe, afinal o sol já voltou. Saímos de casa com as sapatilhas e roupa confortável, fomos beber café (ok comer um bolo para acompanhar o café, mas era o dia da mãe, dia de festa)  objectivo: começar por andar na Marina, andar até ao Porto Pipas, voltar pelo caminho novo, subir para o Relvão, ver o Monte Brasil e voltar para casa - o plano habitual.
Chegamos ao local esperado, a Baía de Angra, era impossível não reparar no mar calmo, nos reflexos de luz e naquele calor que batia nas costas.
Estavam lá uns tipos a fazer paddle, ao chegar mais perto vejo que era o meu tio M. (nos Açores é assim, quando menos esperas vês um tio um primo e um amigo, nem que seja no meio do mar que foi o caso.)
Disse-lhe adeus, com uma certa inveja, ele gritou logo "vem para o mar", estava sol mas ainda estava frio, disse que não tinha fato (no fundo sabia que para o meu Tio M. a ausência do fato não era problema, porque ele teria uma solução), gritou novamente "temos um fato para ti".... E de repente eu que tinha saído de casa para andar já estava cheia de água salgada, com um fato e no meio da Baía de Angra em cima de uma prancha (o apoio e o orgulho na amizade do Pristine Azores: AQUI). Cheguei a casa enrolada numa toalha com os pés descalços e cheios de areia, com os lábios secos do sal e o cabelo cheio de rastas do mar. Natureza é isto.
 

 
 
 
Deitei-me a ouvir a noite que a lua cheia e o céu semi-limpo me trouxeram, pensei ainda bem que nos Açores não é assim tão fácil viajar, ainda bem que não é só pegar num carro e andar, pois se assim fosse não apreciava aquilo que é nosso e o que é nosso é mesmo especial: a nossa gastronomia, a nossa tradição e a nossa natureza.
#orgulhodeseraçoriana