Todas as mulheres, hoje em dia todas as crianças que são meninas, já passaram por este processo, vamos ao médico, fazem algumas perguntas sobre a nossa saúde, sobre o nosso corpo e pronto já nos enfiaram a receita da pílula, afinal de contas somos livres e donas do nosso corpo e a pílula é a carta de alforria das mulheres, os médicos não precisam de saber se tens namorado, marido ou amantes, não precisam saber se esses namorados abusam de ti (sabia que em Portugal "Um em cada quatro jovens acredita que a violência no namoro é normal" a notícia é do Público: AQUI como as Sombras de Grey fazem agenda)
Lembro-me sempre da história desta amiga, a M. em menina foi ao centro de saúde, quando me contou a história a M. não se lembrava da sua idade, a única coisa que se lembrava é que gostava de ver filmes da Disney e tinha os cadernos da escola com desenhos animados e o quarto ainda estava cheio de peluches... A mãe não podia entrar no consultório, pela primeira vez a M. ia sozinha a uma consulta, as perguntas foram factuais, e o médico ficou admirado como é que a M. ainda não tinha tido um namorado a sério (a.k.a. como-é-que-ainda-não-tinha-ido-para-a-cama-com-um-rapaz).
A M. no fundo sabia que ainda era só uma menina e que a sua mãe tinha ensinado que na vida cada coisa se faz a seu tempo, há idade para namorar, há idade para casar e ter filhos e há idade para brincar e que muitas vezes a sociedade misturavas as idades (em velhos brincamos e em novos namoramos), a M. sabia que ainda não tinha idade para namorar, mas tinha muitos amigos, ela no fundo o que gostava era de ir ao cinema com as amigas e comer pizza a ver tv, mas a M. saiu desta consulta com a sua pilula e a partir daí esqueceu-se algumas coisas que a mãe lhe ensinou.
Como esta minha amiga M. há muitas crianças-meninas-pré-adolescentes que passam por isso, o que mais me incomoda nestas consultas rotineiras é a leveza do tratamento, no ano passado conheci uma rapariga excelente, mais velha e casada já há alguns anos, contou-me que não podia ter filhos porque durante muito tempo tomou a pilula, e eu perguntei se a sua médica a tinha informado sobre essa consequência, que é possível e que aconteceu, ela disse que na altura ninguém lhe disse nada. A mim custa-me muito pensar que esta mulher nunca poderá ser mãe porque lhe deram a pilula e nem lhe falaram das suas consequências, mas que raio de liberdade é esta? É verdade o corpo é meu e como tal as consequências são minhas, não são do médico x, y ou z. Atenção eu não estou a dizer que a pilula provoca infertilidade em todas as mulheres, mas no caso da C. foi um factor, pelas suas condições, e é uma injustiça que não lhe tenham informado disso antes. Contudo o que me deixou mais chocada foi a investigação da TVI24 Horas sobre a pilula mais consumida em Portugal: Yasmin. Esta investigação já tem alguns meses, e foi tão pouco divulgada.

«A minha irmã tinha um excelente relacionamento com a minha mãe. A minha mãe tinha sempre conhecimento de todos os passos que ela dava. E, debaixo deste choque, a minha mãe disse-me “Susana, foi a pílula que matou a carolina”», diz Susana Alves, irmã da jovem. (entrevista completa: AQUI). Não sei porquê, mas parece que o filme da reportagem já não está on-line, contudo digo que é impressionante as conclusões que esta mãe retirou na morte da sua filha e o alerta que deixa a todas as mulheres.
E os números continuam no Canadá, suspeita-se que 23 mulheres tenham morrido depois de tomarem a pílula Yasmin.
Como mulher só peço uma coisa aos nossos médicos, quando receitam a pilula pelo menos tenham a honestidade intelectual de informar todas as consequências às mulheres e às crianças meninas, mostrando estes números.
Porque uma morte pode ser só uma, mas para a Carolina, e para a sua mãe foi única, foi tudo. E de quem é a culpa?