segunda-feira, 30 de março de 2015

Um frenesim III

Ao inicio a sensação foi estranha. Comecei por me perguntar: "E agora, onde é que eu pertenço?".

Primeiro existe uma excitação e um alarido. Despedidas, festas, brindes, malas, mensagens, bilhetes de despedidas. O que se deixa para trás com a promessa de voltar logo, logo. 

Depois é hora de aterrar, cair na real. Perceber que a distância não é uma ilusão. Mesmo que fales todos os dias no whatsapp. Ou que ela te ligue pelo FaceTime a contar a última das últimas. Os quilómetros estão estabelecidos, já não estás à distância de um café e de um cigarro.  

Se não tiveres cuidado corres o risco de te tornar fria, criar poucos laços porque já viste como foi difícil deixá-los da última vez. De achar que só tu te vales. 

Porque nem a língua te garante um diálogo, mesmo sendo prima. 

Porque se perguntas em castelhano respondem-te em catalão e continuas sem perceber se era pela direita ou pela esquerda. E percebes que há palavras básicas que tens de decorar como os dias da semana se não queres continuar a bater com o nariz em portas.

Porque apesar de toda a emoção de começar uma vida e construir uma casa, se vais ao IKEA e decides comprar um chariot de 5 kg tens de o carregar de metro para casa, sozinha. Porque deixa de existir aquele privilégio de pedir boleia ao pai.

A sensação continua estranha. Amanhã vou-me empadronar, o que dito assim parece uma grande coisa. E de repente percebi que sou expatriada, o que dito assim fica meio violento. 

A sensação continua estranha, apesar de boa. É que posso dizer mal quase à vontade (sem que me percebam) das pessoas que decidem ir passear para o IKEA e ocupam demoradamente os corredores. (apesar disto não ser um bom princípio)

E agora já tenho uma boa desculpa para ouvir Enrique Iglesias à vontade, é que estou a aprender a língua.

4 comentários:

Anónimo disse...

Adorei. Um beijinho da sempre amiga Leonor

MarianaT disse...

<3 Não deixes de escrever!!! :)))

Unknown disse...

Lindo!!!!

Ni disse...

qridas <3 <3