Sei que a minha função neste blogue é a de comentar artistas e tirar das suas vidas algo com que possamos aprender e trazer para o nosso dia-a-dia. Também sei que a literatura está entregue às mãos da Mizé e que eu sou, de longe, a pior pessoa para falar de livros. Poderia chamar o meu irmão D. que saberia espremer o sumo de cada uma das 260 páginas do livro e tirar-lhes o sangue e a interpretação devidos, de uma forma muito mais espetacular que aquela que aqui hoje vou fazer.
O livro de que vou falar-vos foi
escrito por um Pintor, razão pela qual não estou totalmente desenquadrada do
meu papel de comentadora artística. Contudo, hoje não falarei das virtudes
deste grande pintor, senão sobre aquilo que me transmitiu com as linhas de “Nome
de Guerra”.
Veio parar-me às mãos enquanto
bebia um agradável Gin Tónico e desfrutava de uma companhia ainda mais
agradável. Escrevo estas linhas à lareira. Os graus negativos exteriores não
convidam a sair. Bebo um Gin Tónico da mesma marca, porém não tão agradável,
uma vez que agora o bebo sozinha.
Quando acabei de o ler, procurei
outras críticas na Internet mas, para meu espanto, nenhuma coincidia com a imagem
tão clara com que fiquei do livro. Pois bem, é caso para concordar que os
livros nos falam ao coração e dão, a cada um, consoante a sua experiência. Atrevo-me
a dizer que um livro tão denso como este não é de fácil interpretação e que
requer uma certa bagagem, onde aquilo que temos na memória se confunde com o
que está no corpo do texto e lhe dá forma.
O livro fala de um homem que está
sedento de encontrar o seu amor. O facto de o ser humano não estar feito para
viver sozinho vem confirmar-se neste personagem que luta incansavelmente por encontrar
a mulher da sua vida. Com a história deste homem cruzam-se, também, as
histórias de duas mulheres. A primeira é representada pela luz, pelo dia. É designada
a mulher nua, por estar despida de todos os luxos mundanos. A segunda, alegoria
da noite, é a “mulher vestida” de todos os vícios e caprichos.
Ao Antunes é apresentado, através
da primeira mulher, algo puro, limpo. O próprio amor. No entanto, o homem da
história acaba por escolher envolver-se com o corpo vestido. Enquanto o seu
amor pela segunda mulher aumenta, a primeira vai adoecendo, até que acaba por
morrer, desgostosa pela indiferença oferecida pelo seu amado.
A mulher vestida causa um mal tão
grande ao homem do qual ele só se apercebe com a morte da mulher nua. Com a
mulher vestida, o Antunes só pensa em si e nem sonha que a mulher não pensa
nele, senão noutros mil homens ao mesmo tempo. Para ela, o Antunes não
significa nada. Tanto é que, apesar de terem mantido uma relação muito
duradoura, passados uns anos voltam a cruzar-se num café e ela nem o reconhece.
Ele não significou nada na sua vida, não alterou em nada o seu rumo.
Para a outra mulher sim, o
Antunes representa o sangue que lhe corre nas veias e lhe faz bater o coração.
Mas o personagem da história
perde-se, como muitas vezes nos perdemos na vida, e deixa-se ofuscar pela aparência
de beleza que o vício lhe seduz, não sendo capaz de ver a clareza da luz da
primeira mulher que, tal como ele, procura o amor verdadeiro e, certa de o ter
encontrado, morre por não ser correspondida.
O nome de guerra, Judite, é o
nome da mulher que marcou profundamente o homem da história. O nome da outra
mulher, da luz, do dia, do amor verdadeiro, é Maria; dela apenas sabemos que o
amava profundamente e que tinha, para lhe oferecer, algo puro e sincero. Quando
ele quis aceitar essa luz, já Maria tinha morrido. No entanto, o autor
conta-nos como a vida de Maria não foi em vão, uma vez que, com a sua morte, o
Antunes foi capaz de matar o amor que sentia por Judite.
Após as trágicas mortes destes
dois amores, o escritor e pintor fala-nos de outros assuntos relacionados.
Convido os seguidores do blogue a ler o livro e a tirar as suas conclusões.
Para este post detive-me apenas nestas considerações, mas por muitos outros caminhos
poderia ter envergado.
A moral que tiro de Nome de
Guerra é que a procura do Bem e da Verdade é sempre mais compensadora e que,
apesar do mal se apresentar, muitas vezes, com aparência de bem, o lodo acaba
por vir ao de cima.
Sejamos pessoas autênticas,
puras, limpas, despidas de caprichos e comodidades. Sejamos, em cada momento,
capazes de morrer pela vida!