sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Sobrinha mais velha e tia mais nova


(via 35PHOTO - Марина Ильина - No title)


Chegou hoje a minha casa lavada em lágrimas. Dizia que lhe doía a barriga. Pus-lhe a mão na testa e exclamei alto: “Ui, está cheia de febre!”

Dei-lhe um comprimido e sentei-a no sofá da sala com uma manta e uma botija de água quente. Pus a passar na televisão um filme divertido de desenhos animados: “UP! Altamente!”. Sentei-me ao seu lado. O choro compulsivo deu lugar a um soluço aqui e outro acolá. Foi-se aninhando pouco a pouco, encostando a cabeça no meu braço, até que dei por mim com uma lapa agarrada e a subir para o meu colo.

O choro desapareceu por completo e deu lugar a muitas gargalhadas. À medida que o filme decorria, ela esquecia as dores de barriga, tão confortável que estava nos braços da sua tia mais nova que sorria, enternecida pelo carinho da sua sobrinha mais velha.

Tem já 9 anos, é a mais velha dos irmãos e dos primos. Foi muito mimada quando nasceu. Era a novidade, a primeira alegria depois da melancolia de ver a minha irmã sair de casa. A casa sempre cheia foi esvaziando, muitos irmãos a casar e muitos sobrinhos a nascer... e, inevitavelmente, as atenções da avó e dos tios (ainda que em número acrescido) a terem de dividir-se por outros seres mais pequeninos que ela.

Passou a ser a mais velha e foi crescendo, crescendo, crescendo. Tem só 9 anos mas já é crescida o suficiente para ser independente. Não precisa de ajuda para comer nem para tomar banho. Escolhe a sua própria roupa e acessórios e estuda sozinha. Tem um gosto pessoalíssimo e uma personalidade muito vincada. Ajuda a tratar dos irmãos mais novos, fazendo lembrar a mãe, quando, em pequena, cuidava da sua irmã ainda mais pequenina. Muda a fralda ao bebé, dá-lhe de comer e consola-o quando chora: “A Mana está aqui!”

Pois bem, hoje, com ou sem dores de barriga, quem precisava de ser consolada era ela. De se sentir frágil como um bebé e entregar-se nos braços da sua tia, recordando-lhe que também precisa de mimos e que, apesar de ser já muito crescida, ainda é uma criancinha pequenina.

Por essa mesma razão, hoje fui só sua. Quanto à febre? Não tenho a certeza se tinha. Mas, bem lá no fundo, eu sabia que aquela exclamação convicta de que ela estava a arder a faria sentir-se importante na sua dor, reconhecida.

E foi assim que aquela sobrinha mais velha foi fechando os olhos, até que, antes de adormecer, disse umas palavras que tocaram a alma da sua tia mais nova: “A tia é a melhor tia do mundo!”


“E tu és o bebé querido e pequenino da tia!”

2 comentários:

Catarina Nicolau Campos disse...

♥♥♥♥!!! Até fiquei de olhos turvos! Estou a passar por esse processo de multiplicação e apesar de óptimo não é fácil para eles. .
São e serão sempre os nossos bebés!

Dita disse...

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Muito bom mesmo, conhecendo a sobrinha e a tia, imaginei tudo a acontecer.
beijinho para essa sobrinha mais velha.