Para o autor do
quadro das espanholas.
Hola, ¿qué tal? Vi o
teu quadro pela primeira vez quando passeava por Sevilha no ano passado. Não te
sei dizer exatamente o pormenor que me chamou à atenção, acho que foram vários.
Trouxe uma cópia e desde aí que quero fazer a minha versão do teu quadro.
Gostava de te conhecer porque tens feito parte dos meus dias. Aqui em Portugal
andam dias chuvosos, cinzentos. Dias de frio, que pedem lareiras acesas, mantas
e conversas pela noite dentro. E cafés com leite, claro. São estes os dias que
escolhi para começar a pintar o teu quadro. Agarro na parafernália de pintura,
mochilão, e sigo para o centro da cidade. Porque se escolho pintar num lugar
sem movimento, as tuas espanholas perdem as formas, o ritmo. Ficam mulheres sem
graça e sem cor.
Num desses dias,
decidi parar a meio do desenho. Começar a observar as pessoas que passavam,
todas tão diferentes umas das outras. Vidas, projetos, sonhos tão diferentes
uns dos outros. E pensei que também tu deverias estar a pintar numa praça, em
qualquer cidade europeia. A agarrar esses momentos improvisados, em que, como
neste quadro, cinco espanholas cheias de garra atravessam a praça e se
encontram com uma criança. O tempo pára, tudo à volta pára.
O que vai na cabeça
de cada uma delas? Deixas isso para cada um, segundo a sua criatividade, descobrir.
Sabes o que eu acho? Que aquela espanhola do meio olha para a miúda e pensa que
ela tem ainda toda uma vida pela frente. E quer ir ter com ela e dizer-lhe que
não, nunca racionalize a sua vida, porque perde a capacidade de vivê-la. Que
não desperdice oportunidades. Que não deixe fugir as pessoas de quem mais gosta.
Que conheça pessoas diferentes e que nunca queira ser igual a ninguém. Que
tenha referências sim, mas que não deixe de se recriar todos os dias. Que dê as
suas gargalhadas, alto e bom som, sem vergonha. Que seja mesmo feliz. E que os seus
sonhos terão uma boa dose de verdade, por serem a organização das ideias que
passam pela sua cabeça durante o dia.
A vida não pode ser
racionalizável, pois não? Talvez deva ser em parte, ou não existiriam ventos
favoráveis. Mas deve haver espaço para os improvisos, para os “e agora?”.
Porque já dizia não-sei-quem que nunca saberemos o quão forte somos, até ao momento em que, ser forte, é
a única hipótese que temos.
E eu acho que já te
conheci um dia. E que te vi numa praça a pintar e me chamaste à atenção por
seres diferente. Porque procuravas não racionalizar os teus desenhos e a tua
vida enquanto a vivias. E porque tens essa capacidade de ver coisas diferentes naquilo
em que, outros, veriam apenas cinco espanholas.
4 comentários:
também partilho essa sensação... ainda ontem uma amiga me disse que o marido vê diariamente o nosso blog... :) e nós "aqui no nosso cantinho" não é?
É mesmo! Mas só assim vale a pena :)
A arte é isto mesmo Ana! E ... depois: "que nunca queira ser igual a ninguém. Que tenha referências sim, mas que não deixe de se recriar todos os dias." quem me dera que isto entrasse na cabeça das adolescentes (de idade e de mentalidade). Quando é que as pessoas percebem que só sendo iguais ao melhor de si próprias é que ganham todo o interesse? Esta é a nossa luta, verdade? Tem tanto que se lhe diga...
Pintar é a melhor coisa do mundo....!!!
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