Mostrar mensagens com a etiqueta Barrigas de aluguer. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Barrigas de aluguer. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Feminino contemporâneo: "como de pouco vale pugnar por quotas nas empresas se aceitamos fechar os olhos a coisas como estas"



"Sei que é politicamente incorreto dizê-lo, mas indigna-me o aparente consenso com que as pessoas acolhem o "episódio" Cristiano Ronaldo e os gémeos, aceitando alegremente a versão de que foram gerados por uma barriga paga a preço de ouro. Como se não houvesse nada de chocante em que as crianças fossem entregues como se não passassem de um qualquer gadjet, encomendado pela internet, e que se espera ansiosamente tenha a nossa cara. Como se, em sendo verdade (e elas aceitam que sim) não houvesse nada de especial em mandar fabricar crianças propositadamente órfãs de mãe, exibindo-as narcisicamente como um produto exclusivo. Nem sequer vejo estranhar uma opção destas tomada por alguém que tem na própria mãe uma heroína, indispensável em todos os momentos.

Espantam-me os milhões de gostos quando alguém declara que aos filhos basta terem "pai e um pai inacreditável" como ele, como se não soubéssemos todos que é exatamente quando um dos pais se acha tão extraordinário, que a criança mais precisa do contraponto de alguém "normal" na sua vida.

Estranho porque é que tantas pessoas se calam, nomeadamente gente com responsabilidade na defesa dos direitos das crianças, e que sabem bem que o direito a uma mãe ou a um pai, não é uma prorrogativa de quem a procriou, mas da própria criança. Porque não tornam pública uma opinião fundamentada sobre o que acontece não só neste caso mas no de tantos outros "famosos" que repetidamente enchem as páginas dos media, uma opinião que nos ajude a refletir?

Deixa-me perplexa porque é que os sábios não se chegam à frente para perguntar alto se é realmente isto que queremos, um futuro onde o dinheiro compra a técnica para tornar as crianças num produto consumível, produzido cada vez mais "à carta"? Consubstanciando, além do mais, um negócio de compra e venda de seres humanos.

E, já agora, porque estão silenciosos os Historiadores, que sabem bem que embora mascarado de admirável mundo novo, o que vemos agora acontecer é, na essência, um retrocesso civilizacional. Os homens ricos e poderosos punham, sem pestanejar, o corpo das mulheres ao seu serviço. As "barregãs" que viam o filho reconhecido pelo rei, eram recompensadas "pelo uso do seu corpo" (a expressão é mesmo esta), e os infantes criados na corte, educados com todos os privilégios que o divino sangue paterno ditava. Soa familiar? Muito, mas convinha também recordar como os direitos das mulheres e das crianças evoluíram desde aí, como de pouco vale pugnar por quotas nas empresas se aceitamos fechar os olhos a coisas como estas.

E nós todos, cidadãos comuns, mas que temos voz e voto, em que é que ficamos? Basta uma vista rápida aos comentários à notícia para perceber que, para muitos, a fama e o dinheiro parecem compensar tudo. Se a criança pergunta pela mãe, que importa que lhe digam que morreu ou viaja (como li nas declarações de uma das irmãs Aveiro), se em troca pode entrar pelo campo adentro ao lado do pai mais famoso do mundo (com todo o mérito), que diferença faz que um dia deixe de perguntar por ela e se remeta a um silêncio deprimido, se pode viajar, viver numa mansão de infinitos quartos, realizar todos os desejos e herdar um dia a fortuna do craque? Decididamente, talvez tantos se calem porque, secretamente, davam a mãe para serem filhos do Cristiano Ronaldo."

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Quando Cristiano Ronaldo foi às compras




"Vale a pena reafirmar, de forma veemente e cristalina, que os filhos não são um direito dos pais, nem um instrumento para a sua realização pessoal. As crianças são pessoas dotadas de dignidade, e são-no na íntegra, desde o momento da concepção. Não são um projecto em desenvolvimento, uma obra inacabada ou um apêndice no projecto de felicidade de outros.

As crianças são, certamente, pessoas frágeis e dependentes. Mas, por isso mesmo, é tarefa fundamental de uma sociedade decente protegê-las de abusos e ingerências. E, no entanto, o que temos feito? O que têm feito os Estados modernos e desenvolvidos onde nos orgulhamos de habitar?

Na Islândia, já não nascem crianças com síndrome de Down, porque o aborto tem sido usado, sistematicamente, como forma de selecção dos mais fortes. Na volta, certos “especialistas em ética” vieram considerar que esta era a solução mais humana, como se a morte fosse preferível a viver com uma deficiência. Como se a vida de uma pessoa com uma deficiência não pudesse ser digna, proveitosa ou feliz. Esta forma de eugenia, feita às escondidas e dentro do útero, não nos dói, porque não a vemos. Mas ela existe, da forma mais soez e mais cobarde que se possa imaginar, porque presume que a vida das crianças é um objecto ao dispor do capricho dos pais.

(...)

A ideologia que se esconde por detrás da procriação medicamente assistida e das barrigas de aluguer afirma o mesmo princípio, de que as crianças são meros bens de consumo, produzidas a pedido e sob pagamento adiantado. De que o corpo humano é propriedade absoluta do próprio e pode ser vendido, alugado, usado e retalhado. De que fazemos contratos sobre a carne dos outros; a vida dos outros."