É a hora!
Há uns anos,
ouvia-se as pessoas dizer que um dia teríamos de voltar a apostar na terra e
que seríamos forçados a valorizar de novo as hortinhas, os mealheiros, o
caseiro. Agora, vê-se por aí, ora na versão mais cosmopolita, ora na dimensão
mais rural, a proliferação do tradicional, das pequenas hortas no meio da
cidade, para aproveitamento de terrenos vazios, a ida a casa da mãe ou da
sogra, trazendo no regresso os legumes muito desejados, os trabalhos de costura
artesanal, entre muitas outras coisas que dão razão aos que outrora já o
anunciavam.
Neste momento,
parece que se começa a tomar consciência do problema da falta de natalidade, devido a uma série de fatores, mas também
devido à erosão da realidade. Ao longo deste
tempo, foram-se desprezando os valores e a
família, para dar origem às competências, ao carpe diem, mas pelo caminho não percebemos que caminhávamos para o
abandono dos mais idosos, para a rejeição das vidas que não chegam a sê-lo ou
que chegam mas não são bem recebidas, para a incapacidade de resolução de
problemas como a criminalidade e a delinquência, para o desprezo pela
deficiência e pela pobreza.
Prevejo, na
linha do que se vai falando por aí, que brevemente teremos de voltar a apostar
na família. A Igreja sempre o defendeu. Nestes últimos tempos, fê-lo de forma
muito intensa e o Papa Francisco continua a insistir- O tema da família encontra-se no centro duma profunda reflexão eclesial
e dum processo sinodal que prevê dois Sínodos, um extraordinário – acabado de
celebrar – e outro ordinário, convocado para o próximo mês de Outubro. (in
MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O XLIX DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS)
A família é
tão importante porque é o primeiro lugar onde o eu é Eu, onde se conhece o
amor, onde se comunica, onde se vive. A família é chamada para a comemoração do
Dia Mundial da Comunicação porque é o princípio, o meio e o fim de toda a nossa
vida terrena, como tão bem explica o Papa no referido documento. De facto,
desde o ventre, passando pela aprendizagem da língua materna, pelo diálogo dos
afetos, pela procura de soluções, pela experiência do perdão, pelo apoio na
doença, tudo é na família, tudo é família.
E não abandonando as palavras pontifícias,
o convite é claro. Não podemos deixar que se trate a família como uma entidade
abstrata, uma espécie de nuvem. Não. Não podemos continuar a apostar em
consumir tudo e mais alguma coisa e deixar que o virtual nos governe em nome do
lucro, em nome não sei do quê. O Papa Francisco, de uma forma muito clara mas
muito bonita, convida-nos a narrar a
história da nossa vida entrelaçada
nas vidas do que amamos, dos que nos rodeiam.
Agora que
encontrámos a alegria de Jesus Ressuscitado, é a hora de voltar a acertar na
melodia, e de descobrir o que sempre esteve aqui, nós é que decidimos olhar
para longe.
A família mais bela, protagonista e não problema, é aquela que,
partindo do testemunho, sabe
comunicar a beleza e a riqueza do relacionamento entre o homem e a
mulher, entre pais e filhos. Não lutemos para defender o passado, mas trabalhemos
com paciência e confiança, em todos os ambientes onde diariamente nos
encontramos, para construir o futuro.
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