Por estes
dias, estive numa paisagem paradisíaca a fazer um retiro espiritual (não sei se
devia estar a dizer isto!). Como se costuma dizer, tenho muita sorte por ter
estas oportunidades.
Quando ia a
caminho, pouco depois de iniciar a viagem, ainda sem companhia, passou por mim,
no seu carro, uma amiga. Uma amiga muito querida, mas com quem não tenho falado
muito. Culpa minha. Muita culpa minha.
Na altura, não
dei grande importância ao acontecimento, mas quando cheguei à capela onde seria
o retiro, a primeira coisa que percebi foi que aquele encontro era para me
lembrar que também estava ali para rezar por aquela minha amiga e para aprender
com o erro que cometi com ela. No fundo, estava ali para limpar a alma e para
perceber que o egocentrismo e o juízo rápido não levam a nada que valha a pena,
a nada que proporcione felicidade.
Logo nos
primeiros momentos, o sacerdote salientou que estamos continuamente a arranjar
pretextos para deixar Deus à espera. De facto, há sempre alguma coisa para fazer
ou a ocupar a nossa atenção. Agora, é porque acabei o curso e tenho de
encontrar um emprego; agora, é porque estamos a pensar ter filhos; agora, é
porque os negócios estão a correr bem; agora, é porque estão a correr mal.
Uma amiga
minha de juventude costumava ter uma resposta muito engraçada para estas
desculpas- “Lérias!”.
No meu caso,
habituei-me a deixar Deus à espera porque, obviamente, tenho a mais profunda
certeza de que Ele vai estar sempre à minha espera. É Pai. É o Pai.
A reunião não
espera, a amiga não espera, as compras não esperam, a minha preguiça é poderosa
e o meu comodismo persistente. E Deus espera. Espera sempre.
No clube onde
os meus filhos fazem desporto, há uma frase que diz “A vida começa no final da
tua zona de conforto”. No desporto e em tudo o resto, as coisas mais
importantes só aparecem quando nos levantamos do sofá, quando arregaçamos as
mangas e arriscamos fazer figuras tristes, perder batalhas, chorar, doer.
Há sempre
aquela metáfora do quadro na parede, pois não conseguiríamos colocar nada na
parede se ela não fosse dura, rija.
Quantas
pessoas conhecemos, senão nós mesmos, que parecem ter tudo para ser super,
hiper, mega felizes e, no entanto, mais ou menos de vez em quando, desmoronam,
perdem o equilíbrio? Se calhar, falta-lhes encontrar a alma, encarar a razão da
sua vida, ir ao fundo das suas inquietações. E quantas pessoas conhecemos,
senão nós próprios, que, perante um acontecimento dramático, encontram o vigor
perdido, a inspiração esquecida, a razão ignorada?
Num caso e no
outro, todos nós estamos permanentemente a pôr prazos para as coisas que
implicam sair da tal zona de conforto, onde tudo conhecemos e tudo dominamos.
Até que, num determinado momento, a vida espirra e percebemos que não
controlamos nada e torna-se impossível adiar mais.
Não posso adiar o amor para outro século
Não posso
António Ramos
Rosa
2 comentários:
Gostei imenso imenso!!
lindo!!!!!!
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