"Sou avô há quatro anos. E dando muitas graças a Deus por o meu filho ter sido pai, sabe quem me conhece que me custou a habituar à ideia de ser já avô. Ironizando com a situação, disse, durante algum tempo, que era "pai de pai" e, falando do meu neto, dizia, quase sempre, o "filho do meu filho". Naturalmente, adorando o Sebastião, desde que ele nasceu. Mas, sempre gostei mais da designação dos franceses, dos ingleses ou dos alemães, que tratam por "grand-père", "greatfather" ou "großvater". O "abuelo" de Espanha ou o "avô" de Portugal sempre me pareceram mais ligados à figura do Pai Natal, com barbas brancas. Mas "grande pai" em português, não sei porquê, não dá assim muito jeito. Um dia, há cerca de um ano, numa das vezes em que o Sebastião teve de ser internado, comecei a dizer, quando fui ao hospital, que ia ver o meu "neto". Ele, entretanto, começou a falar e, desde aí, sempre que se dirige a mim, faz questão de me tratar por avô Pedro. Mesmo quando lhe disse, algumas vezes, para me tratar pelo nome, nunca me ligou. Trata-me normalmente por "tu" e quando me chama é sempre "avô". A estranheza não passou, só que, quanto mais ele fala, quanto mais ele brinca, quanto mais – como ontem aconteceu – ele se senta ao meu colo e vemos juntos televisão ou os videoclipes de que ele gosta, mais sinto como a vida e a natureza são extraordinárias. E, olhando para ele, sinto aquele amor que um avô tem por um neto, que é diferente, como sempre me disseram, daquele que um pai tem por um filho. Como compreendo o meu irmão mais novo que foi avô duas vezes antes de mim e que sempre delirou com tudo o que isso representa e proporciona. E tudo sempre faz para estar todo o tempo com as suas três netas. Acontece que, agora, há duas semanas, tenho também uma neta, Vitória, de seu nome. Para mim, nome de Rainha. E foi outra bênção e uma sensação reforçada e confirmada, de que uma nova fase da vida começou: filhos praticamente todos criados e netos a nascerem e a crescerem. Entretanto, soube também que o Sebastião vai ter um irmão em outubro. A vida vai-nos ensinando a todos o que tem de belo, mesmo quando não o conseguimos logo interiorizar por nós próprios"
PEDRO SANTANA LOPES | Correio da manhã, 24.04.2015
Tirado d'Aqui: O POVO
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