Quando o que une diferentes pessoas constitui algo tão precário e fraco como o dinheiro, a relação tem tudo para fracassar. Mesmo que se diga que não, que o que move as partes é algo mais profundo e altruísta, as únicas pessoas que perdem em manter a fachada são as próprias. Inevitavelmente, a bomba vai estalar quando o dinheiro acabar. E inevitavelmente, se se trata de um casamento nos moldes do verdadeiro casamento, estala a bomba mas aguentam-se à bronca. E desta forma, crescem, traçam novos esforços e desafios e limam as arestas que primeiramente os levaram à decisão de se manterem juntos.
Vou voltar atrás neste romance, porque me parece essencial analisar a razão que levou as partes a dar o nó, em 1957. O que os moveu? Uma genuína vontade de tomar decisões em conjunto, uma visão a dois, a cinco, a vinte e sete. Um interesse comum feito de visões únicas. Uma união mais forte, mais capaz, mais indestrutível, mais una, mais deles.
E mais nossa. Portugal aderiu à União Europeia nos anos 80. Uma união que procurava acima de tudo um aumento da capacidade económica através de uma abertura a novos mercados, a novas transações e a um mundo até então inacessível. Os drivers para além dos económicos, nunca forma bem comunicados. Nem assimilados. Não era fácil porque não lutámos juntos, os 27, desde o início. Porque tivemos guerras feias e frias entre as suas partes. Porque temos formas de pensar tão diferentes, que quase se anulam. Porque em várias dessas transações, eu ganho, se o outro perde.
As obrigações são títulos de dívida onde uma das partes, seja neste caso o Estado Português, emite um título em troca de um montante acordado, pago pelo investidor X. Na forma mais simples das obrigações, o X pagaria hoje o montante de uma obrigação a 5 anos, receberia juros pelo custo de oportunidade do dinheiro emprestado ao longo dos 5 anos, e receberia no final deste período o valor que tinha emprestado, atualizado a essa data, uma vez que cinco euros, por teoria, valem mais hoje (isto revela-se óbvio quando pensamos nos depósitos a prazo).
Já uma Eurobond é uma obrigação emitida pela União Europeia, composta pela dívida dos países que a constituem. A participação dos países neste tipo de obrigações tem que ser inevitavelmente ponderada uma vez que a solidez da dívida que apresenta uma Alemanha nada tem que ver com a solidez da dívida de uma Grécia. Uma das propostas relaciona-se com o rácio de dívida em % do PIB do país (debt-to-GDP ratio), o que se trata de um forte indicador mas ainda assim insuficiente: por força da nossa estrutura, a palavra dívida, debt, schuld, deuda, dette, pode querer dizer muita coisa.
Vantagens? Países de menor dimensão, com acesso mais fraco aos grandes mercados, ganham uma nova liquidez e mais depressa vêm a sua dívida transformada em ativo do que anteriormente.
Desvantagens? Como referiu a MT, e muitíssimo bem, é uma praga para países como o nosso. À partida esta opção revelar-se-á um el-dourado: a dívida que inunda as nossas contas, unida à dívida de países como a Alemanha, dará à eurobond uma estrutura de dama de ferro, como se de uma garantia de ouro se tratasse. Do tipo "óbvio que se a Alemanha está metida ao barulho, não pode dar para o torto e vou receber o dinheiro que investi". Mas pode correr mal, porque em tempos já falámos do conceito de default. E é por isso que, este mês, a chanceler alemã, Angela Merkel disse um redondo Não às Eurobonds.
Sou da opinião de que este instrumento não é descabido de todo, mas que tem que ser mais limado e regulado. Nos moldes atuais, beneficia os países que se encontram sobre-endividados - "vale a pena dever muito dinheiro!". E só resolvendo a crise como o estamos a fazer, sem soluções fáceis, é que este nó, dado em 1957, pode crescer, traçar novos esforços e desafios e limar as arestas que primeiramente os levaram à decisão de nos mantermos juntos.
Porque no final do dia, querido Estado Português, teremos que parar de fugir com o rabo à seringa e pagar o que devemos. Quer seja daqui a dois, cinco ou vinte e sete anos.
Um muito obrigada à nossa leitora que sugeriu este tema para publicação no blog, Mariana Taylor: pelo interesse demonstrado no assunto e pela confiança que depositou em que o iríamos abordar da melhor forma que sabemos.
Vou voltar atrás neste romance, porque me parece essencial analisar a razão que levou as partes a dar o nó, em 1957. O que os moveu? Uma genuína vontade de tomar decisões em conjunto, uma visão a dois, a cinco, a vinte e sete. Um interesse comum feito de visões únicas. Uma união mais forte, mais capaz, mais indestrutível, mais una, mais deles.
E mais nossa. Portugal aderiu à União Europeia nos anos 80. Uma união que procurava acima de tudo um aumento da capacidade económica através de uma abertura a novos mercados, a novas transações e a um mundo até então inacessível. Os drivers para além dos económicos, nunca forma bem comunicados. Nem assimilados. Não era fácil porque não lutámos juntos, os 27, desde o início. Porque tivemos guerras feias e frias entre as suas partes. Porque temos formas de pensar tão diferentes, que quase se anulam. Porque em várias dessas transações, eu ganho, se o outro perde.
As obrigações são títulos de dívida onde uma das partes, seja neste caso o Estado Português, emite um título em troca de um montante acordado, pago pelo investidor X. Na forma mais simples das obrigações, o X pagaria hoje o montante de uma obrigação a 5 anos, receberia juros pelo custo de oportunidade do dinheiro emprestado ao longo dos 5 anos, e receberia no final deste período o valor que tinha emprestado, atualizado a essa data, uma vez que cinco euros, por teoria, valem mais hoje (isto revela-se óbvio quando pensamos nos depósitos a prazo).
Já uma Eurobond é uma obrigação emitida pela União Europeia, composta pela dívida dos países que a constituem. A participação dos países neste tipo de obrigações tem que ser inevitavelmente ponderada uma vez que a solidez da dívida que apresenta uma Alemanha nada tem que ver com a solidez da dívida de uma Grécia. Uma das propostas relaciona-se com o rácio de dívida em % do PIB do país (debt-to-GDP ratio), o que se trata de um forte indicador mas ainda assim insuficiente: por força da nossa estrutura, a palavra dívida, debt, schuld, deuda, dette, pode querer dizer muita coisa.
Vantagens? Países de menor dimensão, com acesso mais fraco aos grandes mercados, ganham uma nova liquidez e mais depressa vêm a sua dívida transformada em ativo do que anteriormente.
Desvantagens? Como referiu a MT, e muitíssimo bem, é uma praga para países como o nosso. À partida esta opção revelar-se-á um el-dourado: a dívida que inunda as nossas contas, unida à dívida de países como a Alemanha, dará à eurobond uma estrutura de dama de ferro, como se de uma garantia de ouro se tratasse. Do tipo "óbvio que se a Alemanha está metida ao barulho, não pode dar para o torto e vou receber o dinheiro que investi". Mas pode correr mal, porque em tempos já falámos do conceito de default. E é por isso que, este mês, a chanceler alemã, Angela Merkel disse um redondo Não às Eurobonds.
Sou da opinião de que este instrumento não é descabido de todo, mas que tem que ser mais limado e regulado. Nos moldes atuais, beneficia os países que se encontram sobre-endividados - "vale a pena dever muito dinheiro!". E só resolvendo a crise como o estamos a fazer, sem soluções fáceis, é que este nó, dado em 1957, pode crescer, traçar novos esforços e desafios e limar as arestas que primeiramente os levaram à decisão de nos mantermos juntos.
Porque no final do dia, querido Estado Português, teremos que parar de fugir com o rabo à seringa e pagar o que devemos. Quer seja daqui a dois, cinco ou vinte e sete anos.
Um muito obrigada à nossa leitora que sugeriu este tema para publicação no blog, Mariana Taylor: pelo interesse demonstrado no assunto e pela confiança que depositou em que o iríamos abordar da melhor forma que sabemos.
1 comentário:
Esta menina tem de se candidatar a um cargo político. De preferência em Portugal que precisa tanto de bons políticos (e não tem) como do S. Nuno Álvares Pereira para nos salvar. Bem explicado e preto no branco. Como o Povo precisa. Parabéns pelo post.
É por este e por todos os outros que têm aqui estava vossa admiradora, a Maria.
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