Entrei na faculdade em 2007 e estudei gestão durante três anos, no final dos quais assinei contrato de trabalho. Arriscar. É uma atitude que puxa por mim, que me desafia diariamente e que me coloca perante muitas situações que não quero posso controlar. Mas isto sou eu. Dizia-vos que assinei contrato de trabalho. Tinha 20 anos e preparava-me para entrar num mundo em constante transformação: o financeiro. Rapidamente percebi o que me fascinava tanto à cerca deste novo passo. É que o senhor mercado financeiro não existe se nós não existirmos, pessoas que têm gostos, vontades e quereres arriscados. Isto tudo para chegar ao evento que muitos economistas definem como o big bang da crise financeira atual.
A maior falência na história dos Estados Unidos deu-se no dia 15 de Setembro de 2008 com o colapso de uma instituição com mais de 160 anos, fundada pelos irmãos Henry, Emanuel e Mayer Lehman. Falo-vos da Lehman Brothers (LB), que após uma grande evolução de negócio, se definia como a quarta maior empresa de investment banking dos EUA. Entre vários dos produtos transacionados em OTC pela LB, estão os derivados.
Para leigos em economia e em traços gerais, transações em OTC (over-the-counter) são operações que ocorrem fora de mercados regulamentados e que portanto não garantem que a contraparte venha de facto a cumprir a sua obrigação. Tal como numa relação entre duas pessoas, em que a Maria combina com o Aníbal, encontrarem-se no café Central no dia 6 de Junho pelas 15h45, e em que se espera que nenhum dos dois deixe de cumprir o acordado. Vamos supor que o Aníbal não pode comparecer porque há greve de autocarros, isto se as pessoas importantes como ele andassem de autocarro mas não é o caso que aquilo é um grande carro sim senhor e não tem maneira de ligar à Maria a desmarcar a combinação. Em OTC, o Aníbal tinha falhado o seu compromisso e a Maria não tinha forma de recuperar o tempo perdido a andar até lá, nem o custo da pedicure resultado dos saltos altos que uma senhora destas tem que usar, ou seja, existe um risco de default. Já em mercado regulamentado, a Maria, despeitada, ligava a uma outra entidade, tecnicamente designada clearing house, e que nesta história pode tomar a forma de primo Rufo, fazia queixinhas e o Rufo ia buscar o Aníbal, obrigando-o a comparecer no local marcado. Bem, desculpem-me os economistas sérios que isto tem uma série de nuances que estou a desconsiderar para tornar tudo mais light mas até fico com uma lágrima ao canto do olho por não me poder alongar, porque é de facto fascinante como tudo funciona. Mas percebe-se não é? Em OTC todas as operações apresentam o risco de default da contraparte.
Ora bem, a LB era perita em transações em OTC, que devido ao risco superior que acarretam, podem também ser operações fantásticas e de margens brutais. Os derivados, tal como o nome indica, derivam de alguma coisa, normalmente commodities - ouro, petróleo, milho, etc. Mas podem ter formas mais "complexas" como o estado do tempo, ou seja, derivados que "apostam" nas condições metereológicas a longo prazo. Imaginem empresas de scuba diving em que a atividade cai a pique quando há dias chuvosos. Se esta empresa apostar em derivados, de forma a ganhar no caso de chover no dia 15 de Agosto, por ser um dia abençoado com especial significado para a Cate, e se neste dia chover, ela ganha o valor acordado, que lhe serve para compensar a quebra de atividade desse dia. Interessante, hein? E se a contraparte da empresa de scuba diving, let's say, "Falência Certa", no final não pagar? E se não for um simples dia da empresa de scuba diving mas sim 900.000 contratos de derivados que envolvem 11 zonas do globo e milhões de consumidores e empresas?
Acabou mal. Risco desmedido conduz a isto. Pessoas que pouparam uma vida inteira, já designadas reformadas, viram-se sob a condição de desempregadas. Porque não se soube analisar com detalhe as contrapartes, porque se brincou utilizou fundos que não custaram a ganhar, porque o mercado é forte até nós deixarmos de o ser.
E mostra a importância de não brincar com coisas sérias. Porque passando este acontecimento para o plano pessoal, quando se entrega a uma empresa/pessoa/amigo/namorado o poder de negociar sobre coisas que para nós são importantes/essenciais/fulcrais, corremos sempre o risco de perder tudo. É preciso conhecer muito bem a contraparte, conhecê-la mesmo bem, e podemos chegar à conclusão que essa entrega só deverá ser feita em mercado regulamentado (digam-nos as mulheres casadas deste blog!!).
8 comentários:
Excelente. Até pessoas de direito conseguem passar a perceber alguma coisa de default depois de lerem este artigo :)
Depois de ter estado durante 6 meses a massacrar os ouvidos com derivados e mercados OTC - literalmente chinês para quem não gosta destas áreas - vejo que, se me tivessem contado a história desta maneira - até podia ter simpatizado com o assunto! (E vejo também que tu deverias ter ido fazer o meu exame, que por sinal acabou por nem correr assim tão mal!) *
Adorei...então a última frase está genial!! Se as aulas de finanças na católica fossem assim as notas subiam exponencialmente!
Oh baby, devias ser Professora na Católica!! Eu ia adorar as tuas aulas!!
Genial. Mulher casada seguidora assídua deste blogue: concorda. "Marcado regulamentado". Simplesmente genial. Ficamos à espera de mais post como este.
Genial. "Mercado Regulamentado". Brilhante.Esta mulher casada assídua e seguidora deste blogue diz o seguinte: concorda e fica à espera de mais posts como este! Obrigada!
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