terça-feira, 31 de janeiro de 2017

STOP Eutanásia

O PAN é aquele partido que luta pelo fim do abate dos animais nos canis, mas defende a Eutanásia. Isto tudo na mesma semana. 
Não deixes que eles decidem por ti.... Ninguém pode escrutinar a vida, ninguém pode decidir quem deve viver.
|||AMANHÃ LEVANTA A TUA VOZ|||





segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Silêncio de Martin Scorsese (III)

Ainda não vi o filme (parece que chegará no próximo fim-de-semana ao Centro Cultural de Angra do Heroísmo). Depois destes opinion maker AQUI e AQUI não queria deixar o artigo do habitué César das Neves.

De facto foi um silêncio bem barulhento:
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Martin Scorsese fez um filme muito barulhento chamado Silêncio. Adaptação do romance homónimo de Shusaku Endo (1966), relata a história maravilhosa dos mártires Ichizo, Mokichi, padre Garupe e uma multidão de missionários e fiéis do Japão em meados do século XVII, numa das mais impiedosas e esmagadoras perseguições da história da Igreja. Scorsese, que fez Jesus descer da cruz em A Última Tentação de Cristo (1988), é fascinado com o fenómeno da apostasia e centra a atenção no drama de dois padres que abandonaram a fé sob tortura. O filme constitui uma bela obra cinematográfica e uma profunda reflexão sobre as questões da fé, perseguição religiosa e apostasia, mas tem três problemas principais.
O primeiro é histórico. O protagonista, padre português Sebastião Rodrigues, é fictício, mas o enredo baseia-se na vida verdadeira de Cristóvão Ferreira, superior interino da província japonesa da Companhia de Jesus que apostatou sob tortura a 18 de Outubro de 1633. A sua renúncia gerou na época grande consternação em toda a Igreja e várias missões para o converter, como a relatada no filme. A fiabilidade da descrição é grande, mas omite que existiram "três tentativas específicas de contactar Ferreira e persuadi-lo a renunciar à sua apostasia" (Cieslik, Hubert [1973] "The Case of Christovão Ferreira". Monumenta Nipponica vol. 29, n.º 1, p. 44): o padre Marcello Mastrilli S.J. martirizado a 17 de Outubro de 1637, o japonês Pedro Kibe S.J., martirizado em Julho de 1639, e o padre Antonio Rubino S.J. e quatro companheiros, martirizados em Março de 1643. Apenas num segundo grupo de dez companheiros de Rubino, chegados ao Japão em 1643 e presos ao desembarque, terão existido abjurações. Também teria sido digno mencionar que o próprio Ferreira renunciou à apostasia e morreu mártir em 1650, segundo relatos que a crítica histórica considera aceitáveis (op. cit. p. 46-48).

O segundo problema é moral. O filme baseia-se num falso dilema ético, a torturante escolha do padre entre abandonar a fé ou entregar os seus fiéis à tortura. O sacerdote recomenda repetidamente a apostasia para os crentes se livrarem do suplício e a voz do próprio Jesus apoia a falácia dos perseguidores e sugere a renúncia. A conclusão parece ser que os apóstatas são-no por generosidade e os mártires insensíveis e fanáticos. Mas a verdadeira escolha, como a vêem os crentes, coloca-se entre o tormento da fossa e o horror ainda maior de uma vida sem fé, sem esperança, sem Cristo. Foi por fervorosa dedicação à salvação dos cristãos japoneses que os mártires sofreram, e os apóstatas cederam, não por amor ao próximo, mas por fraqueza. Deus, na sua infinita misericórdia, perdoa sempre que lhe pedimos, como o filme comoventemente manifesta, mas não confunde o bem com o mal.

O terceiro problema é de consistência lógica. O tema do filme é supostamente o silêncio de Deus; mas Ele não só aparece ao padre Rodrigues, mas fala explicitamente mais de uma vez. Além disso, é estranho que o protagonista, recriminando tantas vezes o Senhor por não lhe responder, descure as formas habituais de Deus falar aos seus fiéis: a Bíblia, palavra de Deus, praticamente ausente do filme, e o testemunho dos irmãos, que neste caso clama com toda a força a presença divina.

No entanto, os inquisidores fazem um diagnóstico correcto da fraqueza do padre Rodrigues, o seu orgulho. A fé humilde dos camponeses japoneses vence a fúria dos perseguidores de uma forma que a arrogância intelectual do sacerdote não é capaz. Rodrigues sente que o sofrimento lhe dá direito a uma revelação particular, sem entender que esse mesmo sofrimento, unido à paixão de Cristo, constitui a maior revelação divina.

Ao contrário do que o inquisidor japonês afirma, a fé não foi derrotada pelo solo hostil do Japão. O argumento de Ferreira a favor dessa tese baseia-se num trocadilho anacrónico, que só funciona em inglês, entre filho (son) e sol (sun). Cristo não precisa de tradução e a fé nipónica, semeada por São Francisco Xavier, resistiu às mais terríveis perseguições e permanece hoje bem presente. O filme explica porquê.

O verdadeiro problema não é o silêncio de Deus, mas o ruído que reina no nosso interior. O cardeal Robert Sarah acaba de publicar um livro ainda não traduzido sobre o tema: A Força do Silêncio contra a Ditadura do Barulho (Fayard, Paris, Out/2016). Como prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, o prelado guineense pode ser considerado o responsável máximo pela oração de toda a Igreja. Cumprindo a sua missão, este volume constitui uma belíssima terapia para os males da sociedade contemporânea: "O silêncio não é uma ausência. Pelo contrário, ele é a manifestação de uma presença, a mais intensa de todas as presenças. O descrédito criado sobre o silêncio na sociedade moderna é o sintoma de uma doença grave e inquietante. As verdadeiras questões da vida colocam-se no silêncio." (p. 36).


João Cesár das Neves, 

Pro-Life

Incrível a grande marcha Pro-Life nos EUA (claro, mais uma vez, os nossos meios de comunicação, não mostraram as imagens de uma das maiores manifestações do ocidente)
Milhares na rua - pretos, brancos, amarelos, muçulmanos, cristãos, ateus, mexicanos e americanos - 1 só objectivo: a Vida!
 


I´m not pro-Trump, but I´m pro-Life. 
#letsmakeamericaprolifeagain #aquiloqueosmedianaomostraram


Lembrei-me do que ouvi ontem:
"Beati qui persecutionem patiuntur propter iustitiam, quoniam ipsorum est regnum caelorum"


domingo, 29 de janeiro de 2017

Always on!

Simon Sinek fala do impacto do social media nas presentes e futuras gerações!

Depois de o ouvir, fica a sugestão:
Encontre uma APP que não é instantânea! E que está dentro de si! 


Proposta da semana: Tome um café com um amigo no trabalho/em casa, onde quer que seja e esqueça o telemóvel , foque-se a 100%, em que está ao seu lado!





 











Próxima exposição, apresenta-se com singularidade!





Um pouco de introspecção politica para começar bem a semana:

O mistério do #SalárioMínimo. Outras perspectivas. Não será um problema de #Impostos? Quem dá, verdadeiramente, voz aos #TrabalhadoresPrecários


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"Não existe um salário mínimo nacional. Existem dois: o salário mínimo que os trabalhadores recebem e o salário mínimo que as empresas pagam. Esses salários estão muito longe de coincidirem, e numa economia com problemas crónicos de produtividade é fundamental sublinhar essa tremenda divergência. Por opção do governo e imposição dos seus parceiros parlamentares, o salário mínimo para os trabalhadores subiu para os 557 euros. Mas o salário mínimo para as empresas – aquilo que uma empresa paga por cada mês de trabalho efectivo do seu funcionário – subiu para os 877,3 euros.

As contas são fáceis de fazer. Em primeiro lugar, há que somar aos 557 euros a famosa TSU das empresas, que se situa nos 23,75%. Dá quase 690 euros mensais. Depois há que multiplicar esse valor pelos 14 meses de salário anual. São 9650 euros. De seguida, na perspectiva da empresa, esse valor tem de ser dividido por 11, porque qualquer trabalhador português que tenha a sorte de estar no quadro recebe mais três meses de salário por ano do que aqueles que trabalha. Resultado: por cada mês de trabalho efectivo de um funcionário a ganhar o salário mínimo, uma empresa paga exactamente 877,275 euros. Este número deveria ser tão merecedor de atenção quanto os 557 euros de que toda a gente fala. São 320 euros de diferença que explicam muita coisa: os problemas que as empresas mais frágeis enfrentam perante subidas consecutivas do salário mínimo; a necessidade de encarar o aumento da produtividade como prioridade do país; e o facto de a precariedade, essa grande bandeira de esquerda, estar a ser diariamente promovida e patrocinada pelos mesmos partidos que garantem combatê-la com afinco.

Esta, aliás, é a maior mentira do sistema político português: é pura e simplesmente ridícula a ideia de que o PCP e o Bloco Esquerda são os partidos que estão ao lado dos mais fracos. PCP e Bloco são partidos dos trabalhadores, de gente que está no quadro das empresas, que ganha 14 salários por ano, e que tem poder de mobilização e de reivindicação. Os precários a recibo verde e os desempregados são alvos da sua comiseração, mas não da sua acção. Bem pelo contrário. Medidas como a subida em quatro anos do salário mínimo do trabalhador até aos 600 euros (salário mínimo da empresa: 945 euros), apenas agrava a hipótese de algum dia virem a ter um emprego estável, estimulando o círculo vicioso da prestação de serviços e do falso recibo verde. A razão é óbvia. Há em Portugal milhares de empresas que podem dispor de 600 euros mensais para pagar a um trabalhador, mas que não têm 900. E com o salário mínimo artificialmente fixado nesse valor, só há duas hipóteses: ou não se dá emprego, ou pagam-se 600 euros por trabalho a tempo inteiro camuflado de prestação de serviços.

Esta tem sido a história da economia portuguesa ao longo das últimas décadas. Esta tem sido a história de pequenas empresas que todos conhecemos, e que não são geridas por opressores das massas trabalhadoras mas por gente que se esfalfa mês após mês para conseguir pagar as contas. Eu sei isto. Mário Centeno sabe isto – aliás, escreveu-o num livrinho chamado O Trabalho, Uma visão de mercado. Desconfio que até PCP e Bloco saibam isso. Mas, lá no fundo, no fundo, não querem saber, porque o seu mercado é outro. Não o dos precários e dos desempregados. Antes o mercado da classe média com emprego para a vida. Um emprego que pode ser mal pago, com certeza, mas que está lá – e raramente falta."



sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Don’t euthanize me

Nasceu um blog, que é mais uma plataforma multidisciplinar, criado por cidadãos portugueses preocupados, com a necessidade de esclarecer a cerca do tema que a gerigonça nos quer impor: a eutanásia.
Esta plataforma fala-nos dos números, conta-nos histórias que são consequências reais, transmite a opinião de médicos e doentes.

Num país em que o governo não apoia suficientemente os cuidados paliativos, torna-se "óbvio" que a resposta mais fácil é a eutanásia, mas será a mais digna e a mais humana?

Assim o blog HEart vem prestar o apoio:

STOP eutanásia



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Enquanto passeava pelos textos do blog encontrei uma história que me deixou-me inquieta.
Christine Nagel, uma cidadã idosa, que teve de tatuar um apelo que em tempos era senso comum: para que os médicos não a matem caso chegue ao hospital inconsciente.
Sim chegamos a este ponto de medo e de insegurança, a medicina para tratar tornou-se selectiva, pela idade e sei lá mais o quê...
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Depois de em Junho de 2016 ter entrado em vigor legislação federal no Canadá que cria um novo quadro regulamentar para assistência médica na morte, o suicídio assistido passou a ser legal naquele país. Foi então que a canadiana Christine Nagel, uma avó de 81 anos que vive em Calgary, se fez fotografar exibindo uma tatuagem no braço com a frase “Don’t euthanize me”, “Não me apliquem a eutanásia”. Em declarações à imprensa local, Nagel diz tratar-se de um "sério alerta" para evitar que a medicina "se furte ao cuidado dos doentes, deficientes e idosos".

Na mesma linha, em Dezembro passado, a Associação Americana de Psiquiatria (APA) tomou posição contra a eutanásia, sustentando que "um psiquiatra não deve prescrever ou realizar qualquer intervenção que conduza à morte uma pessoa não-terminal. Isto implica considerar não-ético para um psiquiatra ajudar uma pessoa não-terminal a cometer suicídio, quer fornecendo os meios, quer por injecção letal directa, como é actualmente praticado na Holanda e na Bélgica". A APA teme que o Canadá e vários estados dos EUA estejam a caminhar naquela direcção. Vários pacientes psiquiátricos estão a ser ajudados a cometer suicídio por organizações activistas como a Final Exit.
Fonte: Aleteia.org

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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Silêncio de Martin Scorsese (II)

Continuo sem ver o filme - como escrevi aqui - contudo, até ao dia, acompanho pelos comentários e pelas críticas, não feitas por mim, mas elaboradas por aqueles que tenho em consideração. Admiro a consciência história e recta de José Miguel Pinto Santos, penso que o economista tocou em boas questões - ou melhor na boa questão: a veracidade dos factos -  a diferença entre a estória e a história.
/Cada vez que conheço mais a verdadeira história, mais fé tenho\




Aqui fica o artigo que vale a pena ler:

"O problema fundamental da nossa era não é económico nem financeiro. Tão pouco é social ou político. Nem sequer é o populismo ou a proliferação de leis e regulamentos que coartam a liberdade e iniciativa dos indivíduos. A grande crise da Europa e da sua civilização é filosófica. Mas não é principalmente uma crise nem metafísica nem sequer ética. A nossa grande falha civilizacional hoje é epistemológica. Já não se acredita que a realidade seja percetível objetivamente. Vivemos numa época em que todos somos Pilatos, prontos a ripostar “o que é a verdade?” e, ato continuo, virar-Lhe as costas com mais desplante e cinismo que o do verdadeiro Pôncio. Hoje, o ceticismo já não é um tique chique de professor de filosofia, como foi no século dezanove, mas um reflexo imbuído em todos os cidadãos pelo sistema escolar obrigatório.

Assim é natural que a ficção tenda a se sobrepor à realidade. Vivemos na realidade virtual na política, na economia e na gestão empresarial. Quando se desvanece a convicção que o conhecimento humano é capaz de aceder à realidade e apreendê-la restam as opiniões e sobra a crença de que de todas as opiniões têm igual valor. Nesta situação as “narrativas” tornam-se mais relevante que os fatos.

As narrativas do PS sobre a TSU e da imprensa europeia sobre Hillary Clinton dariam bons exemplos. Mas outro exemplo, quase tão mediático, é-nos oferecido pela narrativa do filme “Silêncio”. Que ficção não é História é a desculpa do costume para casos destes. Como a narrativa de “Silêncio” é vendida como ficção, argumenta-se que não tem de corresponder aos fatos estabelecidos pela ciência histórica. O problema é que, como já não se acredita na possibilidade de qualquer réstia de objetividade na História, e também porque se consome cada vez mais ficção, a narrativa que fica na cabeça é a da ficção e a que desaparece é a da História. A ponto dos jornais se referirem à ficção de “Silêncio” como “um retrato histórico”. A atitude mental da nossa época é conducente a que o retrato virtual oferecido por Scorsese sobre Cristóvão Ferreira e os dois jesuítas que vão para o Japão em sua busca se torne mais real que a realidade histórica cristalizada em dezenas de manuscritos do século dezassete que chegaram até nós.

Mas qual é o retrato histórico de Cristóvão Ferreira (c. 1580—1650) que nos oferecem as fontes do século dezassete? Para quem estiver interessado em saber mais existe material detalhado e acessível na net (meu aqui e outro melhor aqui). Mas podemos resumidamente referir que Ferreira nasceu em Torres Vedras, arquidiocese de Lisboa, cerca de 1580, e que entrou para a Companhia de Jesus em 1596. Fez dois anos de noviciado em Campolide e depois, a partir de 1598, frequentou o Colégio das Artes em Coimbra. Em Abril de 1600 embarcou numa nau para a Índia e chegou a Macau em Agosto de 1601. Aqui completou a sua formação intelectual frequentando os cursos de filosofia (3 anos) e teologia (4 anos) do Colégio da Madre de Deus. Foi ordenado em finais de 1608 e depois embarcou para o Japão na primeira nau disponível, na Madre de Deus, precisamente na sua última viagem. Ferreira não assistiu ao épico combate que resultou na destruição desta embarcação em Nagasaki, porque logo a seguir a desembarcar foi para o seminário de Arima. Em Macau e em Arima aprendeu o japonês a ponto de se tornar completamente fluente. Em 1610 foi para a capital imperial onde se tornou conhecido e popular nos círculos intelectuais, especialmente entre o grupo que veio dar origem à wasan, a matemática japonesa, e entre os cosmólogos independentes, que começavam então a contestar a cosmologia e o calendário oficiais. Também ficou conhecido, no imaginário japonês, pela prática ativa das sete obras de misericórdia corporais: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, visitar os encarcerados, abrigar os sem abrigo, visitar os doentes e sepultar do mortos.

Quando se deu a proscrição do Cristianismo e a expulsão dos missionários em 1614 Ferreira passou à clandestinidade. Em 1617 deixa a capital e passa a exercer a sua atividade em Kyushu, especialmente em Nagasaki e arredores. Em 1633 o padre Sebastião Vieira (1571—1634), o responsável pela missão jesuíta no Japão, também ele na clandestinidade, é preso pelas autoridades e Ferreira assume a direção de empresa jesuíta. Por pouco tempo, porque no ano seguinte também ele é capturado. O que tornou Ferreira notável e conhecido em todo o mundo, de Nagasaki a Edo e do Rio a Cracóvia, foi o de ter sido o primeiro missionário a apostatar. A Cristandade ficou incrédula e os jesuítas em choque. Fizeram-se jejuns e penitências públicas por todo o lado, de Goa a Vilnius. Antes dele outros padres e irmãos, e muitas centenas de leigos, tinham sido submetidos à laje, ao cavalo de madeira, à suspensão, ao caldeirão, à fogueira, à cruz e à fossa sem cederem nas suas convicções relativamente à Verdade. Ferreira tinha sido posto na fossa.

A fossa, diga-se de passagem, era considerado o tormento mais excruciante de todos, de acordo com relatos coevos que chegaram até nós. O supliciado era revestido com um mino, uma fatiota de palha de arroz, atado com força à volta de todo o corpo, nos pés e pernas, abdómen, braços e tórax, e pendurado de cima para baixo mas de modo que a cabeça ficasse numa fossa, onde usualmente era posto excremento; um sobrado, apenas com espaço para o pescoço, era posto à volta do cachaço para que não pudesse sentir a luz e fazer uma ideia da passagem do tempo; e eram feitos dois golpes nas têmporas de modo a evitar uma morte prematura devido à subida da pressão sanguínea no cérebro. E, já agora, valerá a pena notar que não havia intervalos para refeições, sonecas, ou outras atividades motoras ou excretoras: uma vez na fossa só a morte ou a submissão às exigências da política estatal interrompia a violência. As dores, que se começavam a sentir pouco depois da pessoa ter sido pendurada, são sempre descritas como sendo indiscritíveis: todas as fontes referem que nenhum outro tipo de dor pode ser dado em comparação. A morte ocorria usualmente ao fim de dois a cinco dias, mas uma das mãos era deixada livre fora do mino para que a vitima da violência do Estado pudesse dar um sinal previamente estipulado de que acedia às exigências que lhe eram feitas. Juntamente com Ferreira, a 18 de Outubro de 1633, foram postos na fossa outros cristãos, um dos quais o padre Nakaura Julião (1568—1633), que tinha sido um dos quatro embaixadores japoneses à Europa em 1582-1590 e colega de Ferreira no Colégio da Madre de Deus. Mas enquanto Nakaura exalou o seu espirito ao fim de quatro dias de tortura, Ferreira, que era o chefe, fez o sinal com a mão ao fim de seis horas.

Que Ferreira tenha apostatado levado pela angústia do sofrimento que os cristãos padeciam é uma estória bonita, e que consola a muitos espíritos contemporâneos, mas é ficção. É de frisar que os diálogos de “Silêncio” não são apenas ficção, muitos deles são ficção improvável. Nenhum dos que com ele estavam na fossa foi libertado, e quase nenhum das centenas que se lhe seguiram quiseram ser poupados ou foram poupados. Os japoneses do século dezassete eram rijos, rijos na fé e na incredulidade, rijos na capacidade de sofrer e rijos na capacidade de infligir sofrimento. Seres muito diferentes dos leitores fofos e adocicados de Endo Shusaku na década sessenta, e dos cinéfilos de hoje.

Depois da apostasia Ferreira foi naturalizado japonês, foi-lhe atribuído o nome de um criminoso que tinha sido justiçado, Sawano Chuan, foi-lhe imposta como família a mulher e os filhos do condenado, e foi feito funcionário público. Nas suas novas funções Sawano Chuan participou como interrogador de cristãos que eram torturados, com o fim de obter denúncias de outros correligionários, e no processo ganhou má reputação entre os cristãos japoneses. Foram-lhe também encomendadas várias obras pelo governo, entre as quais um tratado anticristão, Kengiroku, e um tratado sobre a cosmologia ocidental, Kenkon Bensetsu, que tem como peculiaridade ser o primeiro tratado escrito em japonês em que se expõe a esfericidade da Terra, e em que se explica como se pode perceber que na realidade esta é de fato redonda, e que não se trata de apenas mais uma teoria que quem quiser pode aceitar se lhe apetecer.

Os personagens Sebastião Rodrigues e Francisco Garupe da estória são ficção, mas a estupefação de muitos jesuítas ao ouvirem da apostasia fez com que de fato alguns fizessem longas e arriscadas viagens para contactar Ferreira e chamá-lo à razão. O primeiro foi o padre Marcello Mastrilli (1603—1637), que partiu da longínqua Itália e em 1637 chegou ao Japão, onde foi imediatamente apanhado e posto na fossa sem chegar a se encontrar com Chuan ou com cristãos japoneses. Como ao fim de três dias ainda não tinha morrido, as autoridades impacientaram-se e decidiram acelerar o processo com a sua decapitação.

Outro foi o padre Pedro Kibe Kasui (1587—1639), que viajou clandestinamente do norte do Japão para se encontrar com Chuan. Também foi preso mas teve a sorte de ver a fruição do seu desejo de ser interrogado pelo apostata. Aproveitou-a para lhe implorar que regressasse ao Cristianismo, mesmo com o custo da vida. Não teve no entanto qualquer poder persuasivo no ex-jesuíta, foi posto na fossa e morreu. Foi beatificado em 2008.

Seguiu-se em 1643 um grupo composto pelos padres Giovanni Rubino (1578—1643), Alberto Mezchinski (1598—1643), Diego Morales (1604—1643), Francisco Marques (?—1643) e António Capace (1606-1643) a que se adicionaram três catequistas. Rubino, que tinha sido provincial jesuíta na India, partiu de Goa mas as autoridades em Macau não o deixaram rumar para o Japão. Teve então de ir para Manila, onde arranjou um junco para o seu grupo. Assim que puseram pé em Kagoshima foram presos antes de qualquer ensejo de contato com cristãos locais. Foram tratados com todas as cortesias da etiqueta japonesa para com os inimigos do Estado: começaram na laje e terminaram todos, literalmente, na fossa.

Finalmente, um último grupo, composto pelos padres Pedro Marques (1575—1657), Afonso de Arroyo (1592—1643), Giuseppe Chiara (1602—1683), Francesco Cassola (1603-1644), André Vieira (1611-1678) e cinco leigos, tentou também reconverter Chuan. Nenhum deles tinha sido discípulo de Ferreira, mas não há que duvidar da preocupação fraternal que nutriam pela sua vida espiritual. Foram apanhados em Oshima por um grupo de pescadores e enviados para Edo, onde foram processados. Ao contrário das suas expetativas não lograram convencer Chuan, antes foram convencidos por ele, se bem que com a ajuda do argumento esmagador da laje e outros instrumentos coadjuvantes. Depois de apostatarem também eles receberam um nome japonês, mulheres de ladrões decapitados e uma pensão vitalícia para seu sustento. No entanto, ao contrário de Chuan que gozava de alguma liberdade de movimentos em Nagasaki, estes foram confinados, até à morte, no Kirishitan Yashiki, uma prisão-quinta, em Edo, que os isolava de todo o mundo. Embora não tenham estado em contato com cristãos japoneses terão sido estes os missionários que serviram de inspiração para o Sebastião Rodrigues e Francisco Garupe de “Silêncio”.

Não há dúvida que a novela de Endo Shusaku é de uma beleza literária notável ao retratar a complexidade dos sentimentos de um cristão empenhado e convicto sob a pressão atroz dos sofrimentos próprios e daqueles que estima. E o mesmo se pode dizer do filme de Scorsese em que o encanto da paisagem e a beleza da banda sonora são acrescentados ao trama empolgante do drama. No entanto é lamentável que ambos tentem sub-repticiamente passar por realidade o que não passa de ficção usando uma técnica ardilosa: juntando a um personagem histórico de carne e osso duas figuras fantasiosas de padres que nunca existiram. O autor poderia ter escrito a mesma estória sem lá ter posto o personagem histórico Cristóvão Ferreira e a novela seria só novela; também poderia ter feito um relato fatual, com o personagem histórico Cristóvão Ferreira acompanhado de outros personagens históricos, como Chiara ou Cassola, e teria então escrito História. Mas escolheu misturar tudo.

Qualquer argumento em defesa da realidade histórica e contra a sua contaminação por fantasias será de difícil aceitação na idade do pokemon-go, da geringonça e de Donald Trump Presidente. Houve eras em que ficção era ficção e negócios eram negócios. Durante séculos filósofos acreditaram que o conhecimento da realidade era possível. Como consequência despendiam um esforço considerável em justificar que o conhecimento que propunham se adequava á realidade física, social e moral, e faziam-no com entusiasmo e otimismo. Hoje esse entusiasmo e otimismo desapareceram. Podemos até comparar a epistemologia da nossa civilização ao Sebastião Rodrigues do filme: otimista e produtiva enquanto manteve a fé; seca, cínica e dilacerada depois de apostatar."

José Miguel Pinto Santos,
Professor na AESE Business School

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Yolocaust

Yolocaust é um "soco no estômago" em toda uma geração viciada em si própria e nas selfies. Talvez seja o momento de perceber a falta de profundidade que há em nós... O respeito, a consciência, a dor são conceitos superiores a uma bonita fotografia ou a um simples like no Facebook.
A consciência histórica é a maior arma contra o autoritarismo e o populismo político, não será bom relembrar? 

Para ver/ler/perceber :





Silêncio de Martin Scorsese

Scorsese é um dos meus realizadores, contudo não posso negar a sua agressividade, o grafismo sem pudor. Juntar Scorsese, o martírio dos cristãos e os Jesuítas é como devaneio cinematográfico, só tenho pena de não poder fazê-lo ao lado do meu avô Francisco que teria ficado muito feliz com esta combinação.

Como ainda não vi o filme, isto de viver nos Açores tem a sua vagareza, vou deixar aqui uma opinião bastante clara, que não é minha, mas é de um amigo meu, e por norma respeito e estimo a sua visão.






Aqui fica o texto do Nuno Castel-Branco, escrito no blog Senza Pagare:


(Atenção: este texto contém spoilers que contam o fim do filme.)

Estreou o Silêncio de Martin Scorsese. O filme tem gerado muita polémica. Muitos têm interpretado a apostasia do Pe. Rodrigues, protagonista, como um acto bom. Outros, escandalizados com esta interpretação, rejeitam o filme por completo.
Mas o filme é muito maior do que o problema da apostasia. Um dos melhores realizadores de cinema, um extraordinário elenco japonês e cenários incríveis das ilhas japonesas fazem-nos viver cada cena do filme. Um martírio filmado assim não deixa ninguém indiferente. E no filme há vários, lembrando as dezenas de milhares de cristãos que foram martirizados no Japão nesta altura.

Uma das ideias favoráveis à apostasia é a de que o Japão é um pântano onde nada ganha raízes. O Pe. Cristóvão Ferreira, o primeiro jesuíta a negar a fé sob tortura, diz que os japoneses convertidos nunca tinham compreendido o Cristianismo a sério. Segundo Ferreira, o culto Cristão dos japoneses não era senão o culto budista ao "deus Sol". Num país assim, não seria mau negar a fé em público e viver as práticas do Japão e do budismo, ajudando os locais de outras maneiras. Mas o filme mostra ao mesmo tempo como esta ideia é falsa. Nenhum japonês seria capaz de passar por torturas tão duras e no fim morrer por um "deus Sol". No início, três mártires japoneses morrem crucificados à beira mar, torturados à fome e afogados pelo encher da maré. Mas estes humildes japoneses morrem por um verdadeiro amor a Deus e pela Sua Mãe, Maria Santíssima. Mais ainda, morrem a cantar o Tantum ergo, um famoso hino eucarístico da tradição da Igreja, esquecido pela maior parte dos Cristãos do século XXI, mas não por aqueles japoneses que deram a vida pela Fé. 

Até ao momento da apostasia, na última parte do filme, os padres jesuítas estão sempre em contacto com estes Cristãos clandestinos do Japão. Primeiro vivem com eles em liberdade e depois nas prisões japonesas. O filme mostra como os Cristãos alimentavam a Fé através de pequenas coisas diárias, sempre iguais. Por exemplo, os Cristãos não só abençoavam sempre as refeições, como o faziam sempre com a mesma oração em latim. A fidelidade com que os japoneses rezavam dava-lhes Paz, mesmo já na prisão. Esta Paz contrastava com a agitação do Pe. Rodrigues, que quase se zanga por ver os Cristãos japoneses tão calmos. A agitação do Pe. Rodrigues leva-o a abandonar essas orações regulares que os outros faziam, e por mais do que uma vez Scorsese mostra-o a esquecer-se de abençoar a refeição antes de comer.

A fé do Pe. Rodrigues torna-se sentimental, baseada em "sinais" como ver o rosto de Cristo na água, que não dão fundamento à Fé. No fim, desesperado por ver tantos Cristãos a serem massacrados, julga ouvir a voz de Jesus a dizer-lhe para apostatar. O filme mostra muito bem o processo que leva um Cristão a negar a Cristo. Não é com leviandade que um sacerdote nega a Cristo. A apostasia é o culminar de um processo longo, que já tinha começado muito antes. O fim do filme é perturbador não só pela apostasia do Pe. Rodrigues, mas porque esta não é diferente do que se passa hoje no Ocidente. Todos conhecemos pessoas que não são Católicas, mas que em tempos o foram. Este processo, que começou com uma transformação interior da Fé, culmina com a própria pessoa a achar que está a fazer bem ao negar a Cristo, tal como acontece com o Pe. Rodrigues.

Silêncio é um filme que não acaba bem. O Pe. Rodrigues fracassa, nega a Fé e vive várias décadas no Japão budista. Estes budistas, surpreendentemente diferentes dos pacifistas que o mundo apresenta, massacraram milhares de Cristãos conterrâneos no século XVII. Obrigaram o Pe. Rodrigues a viver com uma mulher, a escrever livros contra a Igreja, a identificar Cristãos clandestinos e a negar a Fé regularmente. Ainda assim, quando tudo parecia perdido, Deus teve a última palavra. E a Igreja Católica não só ganhou raízes no Japão como sobreviveu até aos dias de hoje.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Porque hoje é um grande dia | porque vale a pena ser fiel


As vidas apaixonadas não são comerciais, vendem pouco, não são populares...
As vidas apaixonadas são entregues, são as melhore, são as maiores...
De hoje para a história: AQUI



O Trump e eu

Tenho 2 formas de estar perante a política actual: não sou Pró-Trump, mas sou Pró-Live.
E por ser anti-Tump é que digo Thank you Mr. President:




ups

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Tempo!

«Precisamos de clareiras para pensar. Espaços livres na rotina de todos os dias que permitam pôr um ponto final nos ciclos de pescadinha de rabo na boca em que andamos enredados. Momentos em que nos desligamos do mundo, dos telemóveis e dos computadores, das exigências do jantar na mesa, do relatório entregue e dos pedidos dos nossos filhos e, perante o azul infinito do céu, voltamos a hierarquizar prioridades. Um tempo para nos perguntarmos coisas simples, como por exemplo, quero e preciso mesmo de correr como uma louca de tarefa em tarefa, sem ter sequer a certeza se são mesmo importantes ou me levam para onde quero ir.

Aparentemente bastava-nos subscrever o enunciado acima, e o passo seguinte seria fácil. Marcávamos um dia na agenda ou sentávamo-nos logo ali no chão e tratávamos de pôr as contas em dia. Mas raramente fazemos as coisas assim. Quase nunca, para dizer a verdade. Pela simples razão de que temos medo que se pararmos, por minutos que seja, vamos concluir que não sabemos ao que andamos e, chegados a essa conclusão, impunha-se agir em conformidade, ou seja, tomar decisões, fazer mudanças, confrontar os outros. Por isso, mascaramos a demanda de mil exigências perfeccionistas. Já não nos basta uma manhã, nem uma tarde, nem sequer um dia, já não serve o pátio fresco de uma casa, ou o banco de uma igreja bonita e, quando damos por isso, convencemo-nos de que para reavaliar o nosso equilíbrio interno precisamos de umas férias de catálogo. Por outras palavras, adiamos.

E porque adiamos o nosso corpo protesta, e temos insónias, e dói-nos o estômago, e há momentos em que a ansiedade nos aperta o peito com tanta força que estamos seguros que o coração explodiu, e falta-nos o ar. Mas continuamos porque as mulheres não param, nem cruzam os braços, e além do mais há sempre alguém que precisa mais de ajuda do que nós.

Asneira. E a factura surge mais tarde ou mais cedo e se for mais tarde terá somados impostos entretanto criados. Por isso, se não pode ingressar num convento no Nepal, não descarte clareiras com defeito, mas à mão de semear (...)»


Isabel Stilwell 


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domingo, 22 de janeiro de 2017

"DEI-ME CONTA DA SORTE QUE TENHO"





Maria Campos nasceu a 22 de Julho de 1997 no Centro Clínico de Lisboa do SAMS. “Passei a maior parte da minha infância na capital mas íamos muitas vezes à Ericeira porque temos uma casa lá. Tenho ótimas recordações”. 
A Maria é uma rapariga alta, de olhos grandes e escuros em forma de amêndoa. O cabelo castanho cai-lhe sobre os ombros formando suaves ondas que lhe dão um aspecto descontraído. Mostra-se sorridente e expressiva enquanto mistura o chantilly com o seu café longo num dos espaços mais frequentados do Saldanha: “ A Choupana”. Há vários anos que aquele estabelecimento é o seu local preferido para ir lanchar com os amigos. “É um sítio ótimo para conversar e tem imensa Nutella. Eu sou viciada em Nutella!”. 

 O olhar dela parece vaguear algures entre os croissants acabadinhos de fazer com um delicioso recheio de chocolate e a sua memória, à procura de algumas recordações de infância. “Definitivamente a parte que me lembro melhor da minha infância foi quando fiquei com diabetes aos 7 anos. Foi duro e claro que teve um lado positivo e outro negativo”. Sente que graças a esta doença cresceu mais depressa que o resto das pessoas da sua idade e ganhou uma maturidade prematura. “Com a Maria eu falo sobre tudo, sem filtros. E é estranho porque ela é mais nova do que eu. Mas a verdade é que desde sempre teve um nível de maturidade muito superior ao esperado para a idade dela. Abordamos os nossos problemas e tentamos sempre lidar com eles de uma maneira madura e adulta”, afirma a Inês, amiga e vizinha da Maria há cinco anos. 


Claro que a diabetes deixou nela algumas consequências menos positivas. “Sentia-me diferente das outras pessoas da minha idade. Durante quatro anos comia sempre o mesmo e quase não provava doces. As minhas amigas passavam a vida a comer gomas e chocolates e isso quando se tem sete anos custa muito”. Admite que muitas vezes ainda não consegue aceitar a diabetes e que lhe custa lidar com ela. Hoje em dia já pode comer todos os alimentos com moderação. Utiliza uma máquina infusora de insulina que lhe permite controlar melhor a doença (se for bem utilizada) do que as antigas canetas que tinha quando era pequena. Os olhos adquirem uma expressão mais dura, apesar de manter sempre o sorriso nos lábios, enquanto fala da diabetes. A sua saúde não se encontra no melhor estado no presente e para uma rapariga nova e aventureira como a Maria não é nada fácil. No entanto, deu-se conta com o passar do tempo que o sofrimento também sabe ensinar. “Dou muito mais valor à minha vida graças a isto. Tenho que lutar muito mais por mim mesma, comparativamente a outras pessoas porque é uma coisa da qual depende toda a minha vida”. 


A Maria vive num condomínio na cidade Lisboeta com os pais, a irmã Inês de 14 anos e o Afonso de 11 anos. Sempre se sentiu muito ligada ao pai devido às várias parecenças em termos de gostos e interesses. A Maria valoriza muito a família e esforça-se por melhorar ao longo dos anos a sua convivência em casa. “ As duas maiores qualidades da Maria são a sua enorme sensibilidade e disponibilidade para os outros”, afirma o pai. “Por vezes é conflituosa mas cada vez menos. Revela um sentido de família apuradíssimo, é muito amiga dos pais e dos irmãos, é muito organizada e dialoga muito sobre tudo”. 

Frequentou até ao 12º ano o Colégio Mira Rio no Restelo. “É só para raparigas mas gostei muito e adaptei-me bem”. Fez muitas amigas no colégio com as quais ainda mantém uma sólida amizade. “ A Maria é espectacular, dedica-se a cada pessoa pensando no que ela mais precisa.” conta a Madalena, amiga do Colégio. “ O que mais gosto de fazer com a Maria são festas de pijama. São momentos mesmo divertidos onde podemos conversar, cozinhar, ver filmes e divertirmo-nos!”.
 Cozinhar é o hobbie preferido da Maria desde os nove anos de idade. Começou por receitas simples como pãezinhos e bolachas de manteiga, passando depois para todo o tipo de cozinhados. “Adoro cozinhar italiano e indiano mas normalmente sou melhor nos doces. As minhas especialidades são brigadeiros e cheesecake de frutos silvestres”. Gosta de cozinhar principalmente porque considera a gastronomia como algo capaz de criar bons momentos e gerar sorrisos facilmente. 

Estudou bastante durante o secundário e aprendeu a importância de trabalhar com seriedade e dedicação. Conseguiu acabar com uma média de dezoito valores, o que lhe abria muitas portas. A sua meta na altura, era chegar a ser diplomata e pensou que uma boa maneira de alcançar esse objetivo seria entrando para o curso de Direito na Católica. “Direito é um curso mais abrangente do que Ciência Política e Relações Internacionais (CPRI). O meu pai fez o mesmo na altura e achava que era o melhor caminho para mim”. O ambiente da faculdade fascinou-a ao início. Gostou muito da organização da Católica e dos docentes que considerava muito competentes. Arranjou rapidamente alguns amigos devido à sua personalidade extrovertida. Sentia-se mais crescida e independente sendo universitária. Todavia, o curso não a deixava satisfeita. “ Andei a arrastar-me por direito durante seis meses. No geral estava muito desanimada porque sentia que aquele não era o meu caminho, que não era aquilo que eu devia estar a fazer”. A frustração da Maria não tardou em crescer e os pais decidiram levá-la a uma psicóloga para fazer um teste psicotécnico. Os resultados foram claros: CPRI ou Psicologia. “Decidi optar por CPRI na FCSH_ NOVA. Estou a gostar imenso, tem muito mais a ver comigo”. 


Quando decidiu desistir do curso de Direito, o segundo semestre mal tinha começado. A Maria deparou-se então com um dilema: ou terminava o primeiro ano da licenciatura ou desistia a meio. Acabou por decidir sair da Católica mas precisava de arranjar alguma coisa para fazer até às férias do verão. “ Sou aquele tipo de pessoa que não consegue ficar parada, não dá. É impossível! Por isso decidi que ia fazer voluntariado”. Há muitos anos que vai fazer companhia a idosos, principalmente no Convento da Encarnação, que ajuda em creches e distribui comida aos sem-abrigo. 

Fazer este tipo de voluntariado sempre lhe deu muita alegria porque a obrigava a esquecer-se de si mesma e dos seus problemas.
“ Para mim fazer voluntariado é dar sem esperar nada em troca. É algo que me faz 100% feliz”. 
A Maria ouviu falar da AIESEC que organiza estágios e programas de voluntariado para estudantes e fez uma pesquisa intensiva durante uma semana, enviando depois algumas candidaturas. A primeira resposta que recebeu foi de Biscke, na Hungria. Ficou delirante de alegria pois era o seu destino preferido e pensava que podia ser muito bom ajudar as pessoas num campo de refugiados. “O que eu mais gosto na Maria é o facto de se entregar às pessoas. Principalmente a quem precisa. E fâ-lo com o coração todo" afirma a Inês, vizinha da Maria. 
Em casa, a notícia da sua decisão foi bem recebida. “ Apoiei-a desde o primeiro momento por perceber que era isso que a Maria queria e por sentir que tem um dom e uma vocação natural para o que ia fazer. Alguma preocupação, derivada a ser a primeira vez que a Maria, insulinodependente, iria estar tanto tempo "fora da base" num país estranho”, conta o Pai.

Maria ajeita a camisa verde tropa com uma das mãos enquanto dá um sorvo no seu café com a outra. A sua disposição alegre às 10 horas da manhã chama a atenção e possui um entusiasmo contagiante. A Inês, que convive frequentemente com a Maria, confirma que há momentos que passa com a amiga em que sente uma mudança. “ Um dia fomos as duas a um restaurante comer. E no meio do jantar a Maria começou-me a falar sobre a sua maneira de estar na vida. Não consigo descrever o que se passou naquela noite mas posso dizer que esse momento abriu me muitas portas na minha vida. É daquelas raras pessoas que consegue trazer o que há de melhor em nós”.
Chegou o dia da partida. Foi a 16 de Maio de 2016 para Biscke mas só chegou ao campo três dias mais tarde devido à necessidade que tinha de tratar de uns assuntos em Budapeste. Quando chegou ao campo o primeiro impacto foi assustador. “ Nós vemos muitas coisas na televisão mas pisar aquele solo completamente diferente é mesmo alarmante”.
Qualquer pessoa que conheça bem a Maria responde prontamente que a sua maior qualidade é a coragem. “Lembro-me que quando tinha cerca de 2 anos, ao estar a pular em cima do sofá, a Maria desequilibrou-se, caiu e bateu com a cabeça na quina do degrau da lareira, fazendo um lanho de todo o tamanho e começando a deitar imenso sangue. Levamo-la a correr para o Hospital de Santa Maria, onde levou vários pontos. Durante todo o tempo, a Maria não chorou, nem quando a coseram. Desde cedo revelou-se uma menina muito corajosa e resiliente a todas as adversidades”, conta o Pai. 
Maria emociona-se um pouco ao relembrar aqueles meses no campo de refugiados e sorri serenamente enquanto reflete sobre o dia da chegada. 

“Não chorei. Mas fiz um esforço muito grande para não chorar. Achei que era a última coisa que eles precisavam que eu fizesse e a última coisa que eu precisava de fazer. Eu cheguei e já havia pessoas a chorar porque é que eu me ia juntar ao choro com a sorte que eu vi que tinha? Senti um vazio enorme porque me apercebi que me faltava qualquer coisa e o que acabou por acontecer é que eles me deram essa qualquer coisa que faltava”. 

No dia a seguir à sua chegada ao campo, começou a trabalhar. Havia muita coisa para fazer. Encontravam-se mais de 800 refugiados no campo num espaço que daria para, no máximo, caberem 450 pessoas. As entradas e saídas de refugiados eram constantes. A Maria e os outros voluntários, que eram apenas mais dois, tinham que ajudar toda a gente que chegava a arranjar um lugar para dormir. “Os húngaros não se importavam se eles ficassem a dormir na rua”.
Forneciam-lhes água, fraldas, shampoo para tomarem banho… Era frequente também terem que levar alguns refugiados ao posto médico. A expressão da Maria endurece ao lembrar-se da maneira como muita gente tratava as pessoas que viviam no campo. Não foram poucos os casos de agressões e injustiças que testemunhou. Muitas vezes negavam-se a tratar dos refugiados que eram levados ao posto médico. “ Levei uma miúda de seis anos porque tinha uma infecção no braço e fecharam-me a porta na cara. Outra vez levei um homem que tinha partido uma costela e mandaram-no embora com um paracetamol. Ficou uma semana com a costela partida e a morrer de dores. É muito triste. As pessoas não são tratadas como seres humanos”. 


A Maria ficou encarregada de organizar as atividades para as crianças. “It was amazing, she would create a very good vibe in the group. And she was a hard worker”, afirmou Friederike, uma voluntária franco-alemã que recentemente vive no Canadá.
Alegrava-a tornar aquelas crianças mais felizes e gostava muito de brincar com elas. Brincavam nos pré-fabricados, ensinava as meninas a pintar as unhas e a fazer penteados, aprendeu a fazer música com pedacinhos de relva e jogava futebol. Implementou também umas aulas de inglês, que permitiram às crianças comunicar um bocadinho melhor entre si. Raramente se ia abaixo quando aparecia um problema e lutava incansavelmente até o resolver. “She tries very hard to think of a solution and not give up even though it could mean some sacrifice”, afirma Charlene Ong, uma voluntária de Singapura.


“You. Beautiful” é o nome do blogue que a Maria criou durante a sua estadia na Hungria. Nele relatava o seu dia-a-dia e as histórias que mais a impactavam. O nome do blogue é bastante original e suscita alguma curiosidade. A Maria sorri com entusiasmo enquanto fala desta ideia, recordando o que se passara há uns meses atrás. No primeiro dia, decidiu fazer uma visita guiada ao campo. Enquanto caminhava deu-se conta que alguém espreitava por trás de uns arbustos. “ Sou muito curiosa e tive que ir ver quem era. Encontrei uma criança Síria de seis anos, a Sahma. Tinha uns olhos verdes enormes e o cabelo muito encaracolado e escuro”. A Maria acabou por conhecer a família da criança e ficou muito ligada a eles. “Comecei a querer aprender algumas palavras em árabe e perguntei à Sahma como é que se dizia ‘beautiful’ porque reparei que eles eram todos muito bonitos”. A partir daquele momento, sempre que se encontravam a Maria cumprimentava-a com um “You beautiful” e ela respondia “No, you beautiful” em árabe. “Foi por causa desta brincadeira que pus esse nome ao meu blogue. Talvez por ter sido a primeira criança que eu conheci e por ainda ter um significado especial para mim”. 


A Maria considera-se uma rapariga romântica e gosta muito de histórias de amor. “É das melhores companheiras para ver filmes românticos!”, afirma a sua amiga Maria. O seu romance preferido é “Cartas para Julieta” no entanto, considera “Amigos improváveis” o melhor de todos os filmes. “É um filme muito claro enquanto aos sentimentos, especialmente em relação à amizade. Mostra que na companhia de um bom amigo, as dificuldades e problemas tornam-se mais fáceis de enfrentar”.


No campo de refugiados, a Maria teve a oportunidade de testemunhar uma verdadeira história de amor, muito dura. Conheceu lá um casal de namorados que vinham do Nepal, com dezoito anos de idade. Fugiram do país porque as famílias deles não aceitavam que se casassem devido à diferença de castas. “Ele era extremamente rico, ela extremamente pobre. A mãe dele e o irmão batiam-lhe a ela muitas vezes, chamavam-lhe nomes e trancavam-na em casa para não poder ver o namorado”. Ele acabou por se revoltar com a situação e propôs-lhe que fugissem e começassem uma vida juntos em algum lado. Foram para a Índia e estiveram lá duas semanas. Conheceram um homem que lhes disse que os levava para a Alemanha em troca de algum dinheiro. E claro… Enganaram-nos. Foram levados para o Iraque e atirados para uma sala cheia de árabes. Contra a sua vontade, meteram-nos nuns camiões que os deixaram no meio do nada. Tiveram que andar a pé durante dois meses e chegaram à Hungria, ao campo de refugiados, onde estiveram durante cinco meses. Neste momento têm casa em Budapeste e ela já trabalha. Cortaram relações com as famílias mas nota-se que é algo que lhes custa muito. “Ela estava a estudar Gestão, ele engenheria. Roubaram-lhe todos os certificados, nem sequer têm um papel que comprove que são do Nepal”. Maria sentiu-se impressionada com a quantidade de pormenores que conseguem ter um com o outro mesmo sem dinheiro e a passar por uma situação tão difícil “ Confiaram -se a vida toda. Lutaram um pelo outro a níveis extremos”. 


O maior sonho da Maria Campos é trabalhar com refugiados. A experiência mostrou - lhe claramente o seu novo objetivo para o futuro. 



“ Quero criar uma ONG para refugiados, uma ONG melhor que todas as outras”. 



Maria Calderón 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Recolhas até 25 de Janeiro - Porto e Lisboa


Um café, por favor! (Por este, vai ter que esperar)


"É provavelmente o café mais famoso do Instagram. O hashtag #coffeeinacone já tem mais de um milhão de fotografias só naquela rede social. A ideia nasceu num café sul-africano, em Joanesburgo, o The Grind Coffee Company, e rapidamente se tornou um fenómeno na Internet. E não é para menos: um café quente num cone de bolacha forrado a chocolate? É uma entrada direta para o paraíso. "



in Casal Mistério













quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Não perca a união das duas entidades que mais chateiam a "caridadezinha" da esquerda:

McDonald's & Papa
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Perspectivas

Quando era uma criança, tentava fazer bodyboard com a minha micro prancha azul - fui enrolada 2 vezes pelas ondas do mar e achei-me a maior, pensava que tinha enfrentado os perigos da natureza, achava que era altamente estar quase a morrer pelo meu espírito de aventura.... 
Até que cresci... e vi este filme:


---- AQUI ---



quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

domingo, 15 de janeiro de 2017

Vamos negociar? Como?

A essência de negociar encontra-se na avaliação do problema, em conjunto - ambos focados nos seus interesses, e por fim na escolha da opção benéfica mútua - win-winPode dizer-se que o processo de avaliação absorve uma só realidade com pontos de vistas iguais ou diferentes. Esta dinâmica é que torna a resolução de um problema, um verdadeiro jogo de braço de ferro, um jogo que não envolve feridos, envolve a força de talentos!!!

Um excelente filme para ver no arranque de semana!!


quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

A Arte de um ano que passou!

Ainda se lembra do que viu no ano passado, por aqui?


Máquina do tempo, et voilà



Há algum tempo atrás, em meados de Abril de 2016, alguém escreveu isto:



Como somos um blog com fortes raízes na procura constante pelo BeloBem e o encontro com a Verdade.Entre os vários temas que queremos escrever, chega-nos um desafio de estar presentes no mundo da arte. Achámos imperioso criar ainda mais Belo este espaço. Com este propósito de tornar esta rubrica apelativa, vamos comunicar através de quadros de pintores que marcaram a história da arte moderna e contemporânea.Visitar este espaço será uma ida a um museu que lhe oferecerá outra forma de ver o mundo. Uma forma que enaltece o sentido da estética, das emoções e da imaginação das ideias expressas nos movimentos dos desenhos esculpidos em cada quadro.
Mantenha-se atento porque a viagem no mundo arte moderna e contemporânea começa aqui.

Esperamos por si Traga a máquina fotográfica e acompanhe de perto a exposição sem filas de espera...





Bom!!! Esse alguém 😎 não foi muito ambicioso e só transportou 6 grandes histórias, de 6 grandes Pintores, para a rubrica HE- ART!!! Fica o balanço de ano que passou, numa só fotografia.


Consegue descobrir de quem são estes 6 quadros?



Fica o desafio!


(Cábula: Clique na etiqueta HE-ART para ver todos posts)