«Amar não é um sentimento é uma atitude.»
Ao telefone com a actriz Ana Brito e Cunha
Na semana passada, agarrei no telefone e liguei à Ana Brito e Cunha, que, para além de ser uma grande actriz portuguesa, é também alguém a quem tenho a sorte de chamar amiga. Dei-lhe os parabéns por esta nova grande etapa que está a viver na sua vida. Aos 41 anos, a Ana vai ser mãe pela primeira vez.
Sei bem o que este momento significa na vida dela e, por isso, era inevitável que a conversa não enveredasse para temas mais profundos. Falámos sobre os nossos sonhos e os timings em que eles acontecem, e porque é que alguns se realizam e outros não.
Falámos sobre todas as mulheres solteiras que sonham casar-se, mas a quem, por algum motivo, isso ainda não aconteceu.
Depois, a Ana contou-me que desde pequena que dizia: «Quando me casar, quero que seja para toda a vida.» E então explicou-me que é capaz de entender os anos em que experimentou a solidão, a tristeza e aquela esperança que parecia inalcançável.
«Sabes, Filipa, quando uma pessoa não tem vontade de sair ou se está mais introspectiva, é porque nesse momento da sua vida precisa de crescer nesse sentido. Talvez essa pessoa esteja a precisar de se conhecer melhor, esse autoconhecimento pode estar a prepará-la para aquilo que sempre sonhou, mesmo que seja com sofrimento. Comigo, foi assim que aconteceu. Se eu me tivesse casado antes, a probabilidade de ser para sempre talvez fosse menor, eu era mais miúda e, por isso, também mais impulsiva e mais precipitada, e a grande vantagem da maturidade é sabermos aquilo que queremos e aquilo que nos faz falta.»
Esta conversa fez-me pensar em todas as mulheres que se sentem sozinhas, as que sofrem por isso, mas que não sabem que esse sofrimento está a construí-las por dentro. Muitas delas estão apenas a tornar-se mulheres mais fortes, mais sábias e mais preparadas.
Não tem de haver uma altura certa para as coisas acontecerem. Elas acontecem quando têm de acontecer e quando estamos preparados para as receber.
A pressão que a sociedade coloca sobre as pessoas e sobre os seus objectivos é cada vez maior, e não podemos nem devemos ceder a ela, porque a nossa felicidade só diz respeito a cada um de nós. Muitas pessoas tornaram-se e são infelizes por terem querido cumprir determinados objectivos sem estarem absolutamente certas das suas decisões.
Existe uma outra grande vantagem na maturidade, é que ela faz-nos amar com mais convicção e com mais sabedoria. Na realidade, a maturidade e o verdadeiro amor ensinam-nos que amar é muito mais dar do que receber.
«Uma vez, ouvi uma entrevista do César Mourão que me causou imensa ternura. Ele estava no casamento de um amigo e sentou-se ao lado do padre, e o padre disse que o casamento era fazer o outro feliz e não esperar que nos fizessem felizes a nós. E o César disse: "Então, eu sou casado com a minha filha, porque vivo para a fazer feliz."»
E é mesmo isto o verdadeiro amor: é ver o outro feliz. Amar verdadeiramente é não querer retorno, não é uma necessidade, não é uma exigência e não é uma espera, mas uma entrega.
E a Ana continuou:
«Num dos meus seminários de actores profissionais em Madrid, o meu professor de teatro, o Juan Carlos Corazza, ensinou-me que o amor não é um sentimento; é uma atitude. Explicou-me que o sentimento é "gosto" ou "não gosto", e a atitude que se coloca nesse sentimento é que é o amor, da mesma forma que também se pode, por exemplo, colocar ódio.»
Essa escolha que fazemos é aquela que determina, ou não, a nossa felicidade, e é também aquela que nos torna livres ou presos para sempre.
Depois desta conversa, senti a necessidade de transmitir cinco ideias-chave a todas as mulheres que se sentem sozinhas:
1. Se estás sozinha, tira o melhor de ti enquanto tens esse tempo para te conheceres;
2. Não cedas a pressões, porque o amor não escolhe nem dia nem hora, e tu tens de te sentir preparada para o receber;
3. A maturidade oferece-te uma maior probabilidade de saberes exactamente aquilo que queres e aquilo que verdadeiramente te fará feliz. Foi mais tarde, mas foi para sempre.
4. O amor é fazer o outro feliz e não esperares que te façam feliz a ti;
5. O amor não é um sentimento; é uma atitude.
Revista Sábado, Dezembro 13 / 2016: AQUI
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