segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Tempo!

«Precisamos de clareiras para pensar. Espaços livres na rotina de todos os dias que permitam pôr um ponto final nos ciclos de pescadinha de rabo na boca em que andamos enredados. Momentos em que nos desligamos do mundo, dos telemóveis e dos computadores, das exigências do jantar na mesa, do relatório entregue e dos pedidos dos nossos filhos e, perante o azul infinito do céu, voltamos a hierarquizar prioridades. Um tempo para nos perguntarmos coisas simples, como por exemplo, quero e preciso mesmo de correr como uma louca de tarefa em tarefa, sem ter sequer a certeza se são mesmo importantes ou me levam para onde quero ir.

Aparentemente bastava-nos subscrever o enunciado acima, e o passo seguinte seria fácil. Marcávamos um dia na agenda ou sentávamo-nos logo ali no chão e tratávamos de pôr as contas em dia. Mas raramente fazemos as coisas assim. Quase nunca, para dizer a verdade. Pela simples razão de que temos medo que se pararmos, por minutos que seja, vamos concluir que não sabemos ao que andamos e, chegados a essa conclusão, impunha-se agir em conformidade, ou seja, tomar decisões, fazer mudanças, confrontar os outros. Por isso, mascaramos a demanda de mil exigências perfeccionistas. Já não nos basta uma manhã, nem uma tarde, nem sequer um dia, já não serve o pátio fresco de uma casa, ou o banco de uma igreja bonita e, quando damos por isso, convencemo-nos de que para reavaliar o nosso equilíbrio interno precisamos de umas férias de catálogo. Por outras palavras, adiamos.

E porque adiamos o nosso corpo protesta, e temos insónias, e dói-nos o estômago, e há momentos em que a ansiedade nos aperta o peito com tanta força que estamos seguros que o coração explodiu, e falta-nos o ar. Mas continuamos porque as mulheres não param, nem cruzam os braços, e além do mais há sempre alguém que precisa mais de ajuda do que nós.

Asneira. E a factura surge mais tarde ou mais cedo e se for mais tarde terá somados impostos entretanto criados. Por isso, se não pode ingressar num convento no Nepal, não descarte clareiras com defeito, mas à mão de semear (...)»


Isabel Stilwell 


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