terça-feira, 10 de maio de 2016

O ideal é acabar com todo o ensino particular



Vacina de escola pública
por José Diogo Quintela 
"As escolas com contrato de associação têm dois problemas: o primeiro é que não vendem nada; o segundo é que não estão localizadas no centro de Lisboa. Se, em vez de escolas espalhadas pelo país, fossem lojas na Baixa, podiam ser consideradas históricas e serem mais facilmente subsidiadas. Tiveram azar. Azar por isso e por esta ser a altura que a esquerda escolheu para renegar subvenções estatais. Bizarro. É como o Drácula anunciar que agora é vegan. Mas o Governo tem razão. Se há duas escolas onde basta uma, não se devem duplicar custos. Só se justifica em casos muito específicos, em que a escola particular seja uma escola do tipo Lacerda Machado, que presta serviços de borla ao Estado. Haver duas escolas no mesmo sítio, uma pública, outra privada, cria desigualdades. Obviamente, os alunos da pública são beneficiados. É que, numa privada, os jovens são protegidos do contacto com o funcionalismo público português. Quando chegam à vida adulta não têm experiência em lidar com o Estado e angustiam-se assim que se deparam com uma resma de formulários. As escolas privadas dizem que se guiam pelo mesmo currículo, definido pelo Ministério. Mas o que interessa ensinar a mesma matéria se quem o faz é um professor que não falta nem faz greves? É estar a retirar às crianças hipóteses de adquirir competências para um futuro de sujeição ao Estado. Sei do que falo. Até ao 8º ano frequentei o ambiente resguardado de um colégio de padres. No 9º ano fui para um liceu. Foi como mudar da água para o vinho. (Metafórica e literalmente, porque no liceu havia colegas que bebiam vinho nas aulas, sob a vigilância relaxada dos professores.) No liceu aprendi a desenvencilhar-me. Aprendi a ocupar o tempo quando um professor faltava e não havia substituto, habituei-me aos horários da secretaria, que abria das 15 às 15.10, tornei-me subserviente com pessoal administrativo. Depois da universidade, com 8 anos de ensino público, estava mais do que habilitado a entrar numa repartição e principiar uma relação com o Estado, pautada pelo atraso, pela burocracia, pela cunha, pela arbitrariedade e pela falta de previsibilidade. Já os meus amigos que só andaram no ensino privado, ainda hoje vomitam antes de entrar numa Loja do Cidadão. Para assustar os filhos não contam histórias do Papão, contam histórias de idas à Segurança Social. O ideal é acabar com todo o ensino particular. Quanto mais depressa uma criança entrar em contacto com a bandalheira do Estado, melhor. É o mesmo princípio da vacinação: ligeira exposição ao bicho numa tenra idade obriga o corpo a construir defesas. Uma inoculação de estatismo aguado, na altura certa, imuniza para a vida. Passados 30 anos, uma pessoa ainda conseguirá estar na mesma sala com um Mário Nogueira sem desmaiar." 

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