(foto do Gordon - Tempestade tropical em direcção aos Açores)
Como muita gente sabe eu sou dos Açores, estudo no Continente mas sou dos Açores e sou mesmo açoriana, daqueles que fala mal (mas não é com o sotaque de São Miguel é um falar mal terceirence) sou daquelas que tem saudades de casa a toda a hora, sou daquelas que gosta de comer a sua morcela frita e peixe é só do mar e fresquinho se faz favor!
Ou seja: sou açoriana de corpo e alma.
Hoje fui de manhã percorrer uns trilhos no interior da minha ilha Terceira e fiquei a achar mesmo que Deus não estava a dormir quando criou os Açores, nem poupou do bom gosto, é que estas ilhas são mesmo bonitas!
O bom de ser dos Açores para além da cultura é o nosso contacto real com a natureza, qual livros e enciclopédias de biologia ou geologia, nós temos todas as lições práticas. A minha infância sempre foi rodeada de ar puro, de calhaus, dos diferentes verdes, das matas, do mar, dos animais, das vacas e do que delas saí.. Em miúda andava sempre "pisada" pelas quedas de bicicleta, pelas correntes marítimas e quando uma água-viva nos picava já sabia bem o que fazer...
Uma criança açoriana sabe perfeitamente qual o comportamento a ter durante um sismo, todos os anos escolares temos aulas práticas, as chamadas "simulações", toca sirene, tudo debaixo da mesa, contar até 10 no mínimo, depois tudo em fila, tudo no pátio e tudo a rir, é que nós adorávamos as simulações e se por acaso fosse na aula de Inglês, mais gostava eu das simulações.
Depois as tempestades tropicais vindas d'Ámérica, se os continentais dizem que na Espanha nem bom vento nem bom casamento, nós açorianos já não pensamos assim dos nossos vizinhos afastados, até porque existe mais açorianos na América do que nos Açores, de lá vem sempre bons casamentos mas os ventos nem por isso.
Este ano as tempestades viram mais cedo, costuma ser em meados de Setembro, mas sempre com o mesmo ritual as notícias alarmam de tal forma (por vezes exageram!) que a pessoa sente necessidade de agir, cá em casa véspera de tempestades é: fechar janelas (mais do que o habitual, por vezes com barrotes) tirar tudo que tem no quintal, mesas, vasos, cadeiras, baloiço, redes, guarda-sol, espreguiçadeira.... depois ver se os canos da janela estão limpos e os animais, cães, gatos tem direito a dormir dentro de casa (no seu devido lugar)!
Houve um ano que o portão do jardim voou.
A despensa está cheia, os filhos debaixo do tecto, e se faltar a luz joga-se às cartas com velas. Até arrisco a dizer que as tempestades são muitas vezes factores de união da família.
Agora cá estamos nós, em pleno Agosto com uma tempestade tropical, o Gordan, com ondas de 16m!
Recebi umas quantas mensagens das minhas amigas continentais a perguntar se sobrevivia, aproveito o post para dizer que sim eu sobrevivo e vivo!
Esta é a rica vida de um açoriano!
1 comentário:
Eu já tinha vontade de ir aos Açores... fiquei com mais! Beijo Dita *
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