A produção habitual de
P. D. James são os romances policiais: romances profundos, meditados, em que a
noção de culpa e de possível redenção está de uma maneira ou de outra sempre
presente, a par de um intrincado mistério de crime e respectiva solução.
Desta vez, contudo, a autora envereda por um estilo diferente: o romance futurista e catastrofista,
que põe à prova os seus protagonistas.
Estamos em Inglaterra,
em 2021 (o romance foi publicado em 1992, numa altura em que a data parecia
bastante mais longínqua do que nos parece hoje), e há 25 anos que não nasce uma
criança; não por vontade dos adultos (pelo contrário), mas porque os seres
humanos se tornaram universalmente estéreis. E com esta esterilidade veio a
absoluta ausência de esperança e de humanidade, com consequências terríveis na
vida das pessoas: violência gratuita sobre os mais fracos, eliminação forçada
dos velhos, tratamento dos animais como se fossem pessoas, e um longo e perturbador etc…
É então que um grupo de cinco
pessoas, todas com motivações diferentes, reage contra este estado de coisas e,
de repente, o futuro parece abrir uma porta. Mas tais reacções são muito mal
apreciadas pelos poderes constituídos, pelo que estas cinco pessoas são
implacavelmente perseguidas – e é no meio, ou no fim desta perseguição que se
percebe quais delas se degradaram por completo e quais mantêm ainda a
capacidade de um comportamento verdadeiramente humano.
Trata-se de um romance
intenso, muito bem escrito, que faz pensar em muitos aspectos da actualidade, e
que coloca o leitor perante as dramáticas consequências do egoísmo levado ao
extremo.
1 comentário:
Mize, o meu irmão vem todos os dias ao blog procurar os seus textos e já pôs sete pessoas a ler um livro recomendado por si.... melhor: pôs um professor da faculdade a ler e a citá-lo nas aulas.
fantástico!!!
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