sexta-feira, 1 de maio de 2015

Estrangeirismos

Desculpa, mas há dias que nem me lembro de ti. Não é por mal, mas o life cycle e o status dos medicamentos ocupam-me o pensamento, e eu, não me lembro de ti. 

Parece bem usar estrangeirismos, na verdade tudo fica mais pomposo. É que o  meu dia começa em português, meia hora em castelhano. Segue em inglês, novamente castelhano e há quem tente o catalão. E no meu disto, passa-se o dia e eu nem me lembro de ti.

Às vezes nem sei que idioma usar. O que sair, dá igual. No final lá nos entendemos, nem que seja por gestos. E com tanta coisa, eu não me lembro de ti.

Não é por mal. Sabes que saudade e recordação estão no topo da lista de um emigrante. Mas os dias seguem igual, o teu e o meu. E tu também não te lembras de mim.

E isso ajuda a acalmar a saudade.

Depois saio do trabalho. Na pior das hipóteses subo a Príncipe das Astúrias e vou directa para casa. Há dias que aproveito para dar uma volta. Ou vou ao super mercado e dou-e conta que uma embalagem de iogurtes pode durar mais de uma semana. Algo que nunca tinha visto em 25 anos.

Uma coisa é certa: volto sempre com mais compras do que aquelas que tinha planeado fazer. É só a mim que acontece estar com o cesto quase cheio e perguntar: mas afinal o que é que eu vim comprar?

Viver numa cidade em que a rua está sempre cheia implica uma estratégia de caminhada bem estabelecida. Caso contrário é impossível desvirar dos carrinhos de bebé, dos velhotes, dos carros de compras e dos turistas com ritmo domingueiro. 

Mas finalmente chego a casa, e o meu dia acaba em português.

E no meio de tudo isto, como queres que me lembre de ti?

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