Uma aventura às
compras
Fruto de várias vicissitudes (não
há nada como iniciar um texto com uma palavra grande!), hoje vi-me obrigada a
ir ao supermercado com quatro miúdos atrás. O estabelecimento comercial não era
muito espaçoso, o que fez com que a própria condução do veículo comercial não
tenha sido nada fácil. Para já não falar na presença de dois dentro do carro, o
que não deixava muito espaço livre para as ditas compras. Apesar de tudo isto e
de se tratar de um final de semana e de um final de dia, em que as energias já
não abundam, dá-me sempre um certo gozo porque toda a gente olha, provavelmente
pensando que sou uma mulher muito corajosa, ou muito alucinada. Às vezes,
também há olhares de quase pena!
Ir às compras com filhotes é
sempre uma aventura, porque não podemos e não devemos pôr-nos a gritar e a ralhar
com os miúdos e, para além disso, caso haja asneira da grossa, não podemos
dar-lhes uma bela palmada. Além disso, existe sempre a possibilidade de
desatarem a correr pelos corredores e, nós, em vez de fazermos as compras,
temos de andar atrás deles, o que também não é lá grande coisa. Outra
possibilidade muito forte num meio pequeno é encontrarmos miúdos conhecidos e
então, aí, é a loucura, porque esquecem-se que estão num supermercado e, em delírio,
pensam que estão num parque infantil!
Pois bem, tudo isso me aconteceu
nesta ida ao supermercado. Dois iam dentro carro (temporariamente), um
encontrou três colegas da escola e a minha menina andou a correr pelos
corredores. O que vale é que posso mandar o mais velho atrás dela, porque ver
uma criança a correr atrás de outra é sempre bastante menos vergonhoso do que
ver uma mãe deixar um carro de compras com dois e correr atrás de uma miudita!
No meio de tudo, passámos por
todos os corredores e não tive de lidar com nenhuma birra por causa de algo que
querem pôr no carro, algo que querem que a mãe compre. Isso é estupendo. Os
meus filhos fazem trapalhadas como os outros, às vezes, respondem meio torto,
prendem o burro, mas não fazem birras porque a mãe não compra o que eles
desejam. Os mais velhos até já aprenderam a escolher o mais barato e, quando
lhes digo que podem escolher umas bolachas, já sabem que devem escolher umas
que custem menos de um euro.
Pode parecer estranho estar a
escrever um texto sobre isto, mas, de facto, dá-me prazer ir às compras com os
meus filhos, confrontá-los com os brinquedos da moda, com os cereais que dão na
televisão e ir falando com eles sobre os preços, o dinheiro, o essencial e o
supérfluo. Não que eles tenham de perceber tudo de uma só vez ou que não tenham
o direito de ambicionar mais, mas porque é importante saber viver com pouco,
mesmo que se possa ter muito; porque é importante saber esperar, saber pensar
nos outros e, progressivamente, ir pondo as coisas no seu devido lugar.
E, ao mesmo tempo, que tentamos
ensinar os nossos filhos a serem desprendidos das coisas e das modas, também
estamos a ensinar-nos a nós mesmos, estamos a obrigar-nos a ser o que
defendemos, estamos a exigir-nos de nós mesmos uma coerência de pessoa de peça
única, de uma só cara e isso é muito importante.
3 comentários:
Grande estreia! Fantástico!
Em grande mesmo... que venham mais!
Fartei-me de rir! Muito bom!
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