Eram amigos de uma vida ou de há poucos minutos. Não os deixava
descansar, nem quando saía para dar uma volta. Afinal, não se sabia quando
podia aparecer um tempo de espera, de impaciência. Gostava deles com pó,
manchas de café, bem marcados no canto das páginas. Gastos e vividos. Aprendera que nem sempre as
capas atraentes eram um preview do que se ia passar, muitas vezes eram fogo de vista.
Sonhava com uma casa em que existisse uma grande estante,
cheia deles. E um escada bem alta, de madeira, para se lançar de um lado para o
outro à procura do livro certo e, por fim, escolher aquele que já tinha lido
várias vezes mas que em cada fase da vida, marcara de forma diferente.
Os livros mais gastos, eram esses os seus preferidos. Os que se
via, à distância, que muitas eram as mãos que os tinham folheado. Vidas que
neles se tinham apoiado, para uma nova esperança, para aprender diferentes formas de encarar desafios ou só para mudar o chip do dia.
E aquelas marcas?
Deixavam a curiosidade própria de quem quer saber mais: o
que fez esta pessoa marcar o livro nesta página? Seria uma mãe de filhos, que
parou porque era hora de preparar os filhos para a cama? Seria um homem do campo,
que fazia os seus 10 minutos de leitura diária antes de dar início a mais um
dia de trabalho? Seria uma criança, que marcou a página porque quis pensar no que
acabara de ler? Teria sido ela quando, ao lê-lo pela primeira vez, percebeu que
existiam outras formas de viver para além da sua?
Eram muitas as hipóteses. E ainda mais os livros.
Sim, um dia teria a sua estante e a sua escada.
1 comentário:
A ideia da escada é linda!! Registo ;)
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