terça-feira, 12 de abril de 2016

A experiência da Eutanásia

A TSF passou um testemunho intenso e bastante arrepiante de uma enfermeira portuguesa em Bruxelas. Vale a pena ler este depoimento tão real e tão próximo de nós. Vale a pena perceber o que é a verdade da eutanásia.
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Uma enfermeira portuguesa relata a experiência "traumatizante" que viveu num caso de eutanásia a uma mulher saudável na Bélgica, onde a prática é autorizada.

A eutanásia "é simplesmente uma forma de desistência [da vida]". É a opinião da enfermeira portuguesa Verónica Rocha, com quem a TSF conversou em Bruxelas. Ela viu-se envolvida num caso de eutanásia de uma mulher saudável. Descreve esta prática, autorizada na Bélgica, como uma experiência que a traumatizou. Considera que, uma vez autorizada a lei, é difícil um profissional recusar-se a colaborar. Mas, é isso que promete fazer, caso apareça outra situação de eutanásia, na casa de repouso onde trabalha como enfermeira, em Bruxelas.
As palavras saem-lhe em catadupa, quando fala da eutanásia que foi obrigada a preparar."Comecei a ficar mal, desde o dia em que soube que iria existir [um caso de] eutanásia [na casa de repouso], porque sabia que o único problema daquela pessoa era a solidão", confessa a enfermeira portuguesa, a quem tinham dito que "não teria de fazer parte da equipa" nem teria de "assistir". Mas, não foi o que aconteceu.
 
Verónica Rocha soube, em cima da hora, que faria parte da equipa responsável pela eutanásia de uma das utentes da casa de repouso onde trabalha. Foi informada com a chegada do médico."Ele diz-me: estou no elevador à sua espera. E eu perguntei: como assim? "Vamos subir, foi a resposta"", disse a enfermeira, que ainda ainda questionou o médico se teria mesmo de subir, uma vez que não se sentia "preparada".
 
Minutos depois estava no quarto da mulher, "saudável" de 70 anos. Com "a filha em lágrimas", o médico deu a ordem para o início do processo.
"Não se importa de meter o soro a profundir?", pediu o médico e a enfermeira, "muito nervosa", procurou a veia e apontou a agulha. "Estava bastante nervosa. Acho que nunca me custou tanto picar uma pessoa como naquele dia (e era uma mera profusão)", disse à TSF, confessando ainda que, já com a eutanásia em curso, começou "a chorar".
 
"A senhora limpou-me as lágrimas e disse-me: "Verónica, não chores, porque eu estou feliz". Perguntei-lhe como pode estar feliz com uma decisão destas? Ela diz que "é o melhor e o que mais deseja".
 
A enfermeira conta que a mulher ainda lhe disse que ela "sempre a cuidou bem" e que "sempre gostou" da portuguesa, que acabou por lhe confessar que "não concordava" com a eutanásia de um modo geral, mas especialmente com aquela, por se tratar de uma pessoa que "não tinha nenhuma doença".
 
"A chorar disse-lhe obrigado, mas não lhe poderia desejar boa sorte porque eu era contra aquilo que ela estava a fazer. Ela respondeu: "penso que a minha filha também"", contou a enfermeira, relatando um momento em que o processo de eutanásia está prestes a tornar-se irreversível.
 
"[A filha] dizia: "mãe, recusa. Por favor. Eu venho aqui todos os dias. Levo-te para minha casa. Entretanto, (...) ouço o médico a dizer à filha: "chegou a hora. Despeça-se da sua mãe. Deram um beijo. A filha disse: "amo-te". Amo-te, foi a resposta da mãe", conta a enfermeira, que "preferia não ter assistido a nada daquilo".
 
"O médico injetou duas ampolas de 05 ml de uma substância. Começou a profundir e só lhe pergunta "está bem?" e ela [responde] "muito bem". Não tirei os olhos da senhora. Vejo-a tranquila", contou Verónica Rocha, explicando ainda que quando restavam "três mililitros" da substância usada pelo médico a senhora começou "a ir" e, no final dos 10 mililitros "já não tinha vida". O processo final durou menos de "um minuto".
 
"Ele [o médico] fechou-lhe os olhos. Colocou-lhe a mão sobre o coração, não há batimentos. E, a pessoa começa a arrefecer instantaneamente", contou a enfermeira portuguesa, garantindo ainda que "recusará participar numa próxima eutanásia", embora saiba que está "num país em que a qualquer momento podem dizer: tens que subir de novo" para o piso onde o doente estiver instalado.
 
Verónica Rocha expressa uma opinião muito negativa, que "já tinha antes", contra a eutanásia. Mas, a sua convicção tornou-se "mais forte", depois da experiência que viveu.
 
"As pessoas só têm noção do que é eutanásia, depois de assistirem à eutanásia. [Diz-se que] é uma morte digna ou uma morte sem sofrimento e uma morte rápida. Mas, simplesmente, é um método fácil de desistência", considera a enfermeira que terminou o curso há dois anos, chegou a Bruxelas há ano e meio, para trabalhar numa enfermaria geriátrica, depois de não ter conseguido emprego em Portugal.

7 comentários:

Unknown disse...

Olá Dita!
Realmente é um testemunho comovente e até compreendo a aversão da enfermeira à eutanásia. Contudo, gostava de focar aqui uma questão:

«"Comecei a ficar mal, desde o dia em que soube que iria existir [um caso de] eutanásia [na casa de repouso], porque sabia que o único problema daquela pessoa era a solidão", confessa a enfermeira portuguesa»
«"[A filha] dizia: "mãe, recusa. Por favor. Eu venho aqui todos os dias. Levo-te para minha casa»

Portanto, se bem percebi, a senhora que optou livremente pela eutanásia - e temos de partir do princípio que estava na posse das suas capacidades - foi atirada para um lar e completamente abandonada pela família. Se a filha diz "eu venho todos os dias", podemos concluir sem grande margem para erros que as visitas são esporádicas.

Eu sei qual é a tua posição quanto à eutanásia e outras tantas questões "sensíveis", mas acreditas mesmo que proibir / não legalizar a eutanásia acaba com os problemas de solidão de tantos idosos espalhados por esse mundo fora?
Eu penso que uma forma de terminar com este flagelo é a punição (exemplar) dos familiares que abandonam os idosos, seja em lares ou hospitais.
Quanto ao resto, sabes que sou pela liberdade. E o direito a morrer de forma digna é tão importante como o próprio direito à vida.

Bjs*

Dita disse...

Olá Olá!(parece que o meu comentário não ficou gravado, vou tentar repor a minha resposta.)

Não vejo nenhuma contradição neste grande testemunho, a solidão e a depressão são coisas muito profundas que não se medem por visitas ou por companhia.

Pelos vistos a senhora escolheu "livremente" a eutanásia porque estava com uma depressão, será que foi uma escolha assim tão livre? Será que o retrocesso civilizacional é assim tão grande que a solução apresentada é a morte?

Não acredito que a matar alguém, porque está velho ou sozinho seja solução para a sociedade.
Eu sou uma mulher apaixonada pela liberdade, mas a liberdade com prossupostos verdadeiros, não sei mesmo o que é uma morte indigna, mas sei muito bem o que é a vida digna e essa eu defendo com toda a liberdade e empenho....




Unknown disse...

"mas sei muito bem o que é a vida digna e essa eu defendo com toda a liberdade e empenho...."
Vida digna é ser abandonada pela família num lar? Além disso, o testemunho diz que o problema da senhora era solidão, não há um diagnóstico de depressão. Por isso sim, a senhora tomou uma decisão em pleno uso das suas capacidades. São direitos individuais, Dita.

Dita disse...

Não podemos matar as pessoas que foram abandonadas com o argumento da falta de dignidade, mas que raio de sociedade é esta. Seria abandonar as pessoas pela segunda vez, abandona-las ao seu sofrimento, penso que esta falsa compaixão que é utilizada como argumento é mais para quem cuida - para não dar trabalho.
Não é preciso ser doutor para perceber que as pessoas com depressões não têm o uso das suas capacidades. Ninguém quer morrer, então porque não encontrar a cura, cuidar.... falta de dignidade é uma sociedade que a morte é a resposta na doença.
Um artigo a ler e a pensar:
http://rr.sapo.pt/noticia/52521/a_eutanasia_nao_trouxe_mais_dignidade_para_os_doentes_na_holanda

"A lei que começou por prever a eutanásia apenas para doentes terminais e em sofrimento é hoje aplicada a pessoas que sofrem de demência"

Estas pessoas também tem o uso da razão....

Unknown disse...

«Não podemos matar as pessoas que foram abandonadas com o argumento da falta de dignidade, mas que raio de sociedade é esta.» Nós não estamos a matar ninguém, a pessoa está a escolher livremente o seu fim.
«Não é preciso ser doutor para perceber que as pessoas com depressões não têm o uso das suas capacidades.» Dita, não vejo nenhum diagnóstico de quadro depressivo. Vejo que uma senhora foi abandonada pela família num lar, sente-se só e - fazendo uso das suas capacidades - decidiu qual seria o seu fim.
Tu falas em falta de dignidade das sociedades que vêem na morte a resposta para a doença. Bom, no meu entender, deixámos de ser dignos quando começámos a maltratar e a abandonar os idosos em lares e hospitais. Muitos morrem em casa completamente sozinhos. Tu sabes disso, não te estou a dar novidade nenhuma.
Agora, por mais que debatamos a questão, o que não consigo entender é quem é que os cidadãos de um determinado país pensam que são para interferirem nos meus direitos individuais. Lamento, mas isso não aceito.

Dita disse...

Realmente tens pronta capacidade para fazer diagnósticos, pedir a morte é tão contranatura que é fácil perceber que não é somente solidão, normalmente é uma solidão acompanhada pela depressão, sofrimento, dor....
Mais uma vez realço que matar alguém não pode nem nunca deverá ser solução na medicina. Reforço assim: lá porque existe gente capaz de abandonar as pessoas nos lares, e maltratá-las não podemos dar a essas mesmas pessoas como resposta e solução a morte. É muto triste que seja esta a forma como a sociedade conduz este problema ainda por cima escombre de "dignidade"! Dignidade é cuidados paliativos e eu gostava de ver isso discutido na AR.
Sejamos intelectualmente honestas, dizer que a eutanásia é um direito individual e afastar o problema, a mentalidade social que está por detrás disso é pensar somente no seu umbigo, o homem vive em sociedade e as leis tem consequências sociais, por isso acho pouco honesto reduzir a experiência de um país que legalizou a eutanásia - Holanda - e que neste momento está a sofrer a migração de idosos (que tem medo de irem para o lar do estado e assim sofrerem desta morte digna) por isso é mais do que relevante o testemunho que ilumina para a verdade, a eutanásia não traz dignidade, peço somente ao seus defensores que sejam honestos e defendem a morte dos doentes. dos idosos, dos que estão sozinhos com os argumentos verdadeiros.

Ainda sobre a correlação depressão e eutanásia, o testemunho vem da Bélgica: "Tom Mortier foi surpreendido pela morte da mãe, que pediu eutanásia por sofrer de uma depressão. Avançou com um processo contra o Estado belga no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem."

http://rr.sapo.pt/noticia/52520/eutanasia_por_depressao_na_belgica_e_possivel

Unknown disse...

Eu não faço diagnósticos, tu é que diagnosticaste uma depressão sem qualquer fundamento clínico.
«pedir a morte é tão contranatura que é fácil perceber que não é somente solidão, normalmente é uma solidão acompanhada pela depressão, sofrimento, dor....» Talvez, mas pode ser apenas uma forma de querer garantir uma morte sem dor nem sofrimento. Tu estás a presumir com base nas tuas crenças. Tens de aceitar que nem todos seguem o mesmo pensamento.

«Mais uma vez realço que matar alguém não pode nem nunca deverá ser solução na medicina. Reforço assim: lá porque existe gente capaz de abandonar as pessoas nos lares, e maltratá-las não podemos dar a essas mesmas pessoas como resposta e solução a morte. É muto triste que seja esta a forma como a sociedade conduz este problema ainda por cima escombre de "dignidade"»
Gosto da escolha de palavras. Repara que nós não estamos a matar ninguém. Cada pessoa está a escolher o seu fim. Com base nas suas convicções. Estamos apenas a garantir-lhe o direito de pôr termo à sua vida de forma digna e sem sofrimento. Isto evita os suicídios terríveis por enforcamento/etc. Reforço o que disse: Nós não matamos, a pessoa escolhe. E temos de partir do princípio que a pessoa está lúcida quando faz tal escolha. Pode e deve ter acompanhamento médico durante esse processo. Ou seja, podemos estabelecer regras, mas proibir a eutanásia não.

«peço somente ao seus defensores que sejam honestos e defendem a morte dos doentes. dos idosos, dos que estão sozinhos com os argumentos verdadeiros.»
É isto que estou a ser. Defendo, acima de tudo, a liberdade. A eutanásia não se aplica apenas aos idosos. Então e as pessoas com cancro em fase terminal (não me fales em cuidados paliativos, porque só quem nunca acompanhou um doente oncológico pode acreditar em tamanho disparate), ou as pessoas com doenças degenerativas irreversíveis? Não têm direito a pôr termo à vida? Porquê? Porque Deus não quer? Porque é feio? Porque a sociedade impinge o sofrimento e assobia para o lado enquanto essas pessoas sofrem horrores e estão totalmente dependentes de terceiros? Não sou eu que tenho de ser intelectualmente honesta...Afirmo peremptoriamente que preferia morrer a viver nessas condições.