A Estepe é a viagem de um
rapazinho, desde a sua
aldeia até
à cidade , onde
ficará a viver para poder estudar e instruir-se. Ao longo desta viagem ,
desfilam diante dele pessoas e circunstâncias
da natureza – que
são também
como que
personagens , em
descrições de um
delicioso lirismo
– que lhe
vão dando a conhecer
o mundo . É uma espécie
de instrução pela
experiência antes
da instrução formal
que a escola
lhe dará. E nós vamos fazendo a viagem com ele , porque também ele é
uma personagem , que
se vai sentindo alternadamente triste e curiosa , assustada e perdida.
As personagens podem ser para o duro , como o tio
negociante – que , contudo ,
amolece quando finalmente
se despede do sobrinho –, ou bondosas, como
o padre que
os acompanha; ou melancólicas e levemente desanimadas como
os carreiros a quem
o miúdo é a certa
altura entregue ,
um dos quais ,
Panteley, conta histórias
terríveis em
que o rapaz
não sabe se há-de acreditar
ou não ;
ou loucas, como
o homem apaixonado que
vagueia pela estepe
porque não
consegue estar em
casa quando
a mulher se ausenta.
A novela
termina como começou; instalado na sua nova casa , o rapazinho despede-se do tio
e do padre que
regressam à terra de onde
ele próprio veio , como se
despedira dessa terra ao partir :
em
lágrimas . E a história continua, como
foi até agora
– é a vida , sem
dramas nem
enredos de maior, a simples vida que se
sucede.
Esta novela poética (curtinha: 128 páginas nesta edição portuguesa –
lê-se num fim-de-semana) é exemplar do estilo de Tchecov, em
cujas obras não
se passa propriamente nada : não há enredo e desfecho , não há suspense e revelação ,
há a simples apresentação
das personagens , nas suas riquezas e
misérias. Em A Estepe
– escrita em 1888, aos vinte e oito anos – temos até
uma espécie de brincadeira
com o nosso
desejo de que
se passe qualquer
coisa , uma partida do autor, por
assim dizer : quase desde o princípio , Tchecov introduz uma personagem
misteriosa, um tal
Varlamoff, de quem todos
andam à procura , um
homem importante
com quem
todos querem falar .
Quando finalmente
conhecemos Varlamoff, é o anti-clímax…
Dizia Tchekov sobre a
sua obra: "Uma pessoa tem de descrever
aquilo que
vê , aquilo
que sente, de modo
verdadeiro sincero .
Perguntam-me muitas vezes o que queria eu dizer nesta ou
naquela história , mas
são perguntas
para as quais
não tenho resposta .
Não queria dizer
nada . A minha
preocupação é escrever ,
não é ensinar ."
E sem ensinar ensina, porque não pode fazer outra coisa quem fala sinceramente da vida.
E sem ensinar ensina, porque não pode fazer outra coisa quem fala sinceramente da vida.
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