Com quatro letrinhas apenas se escreve a palavra moda. Basta olharmos para algumas fotografias antigas para constatar a persuasão de uma palavra tão aparentemente insignificante. Quase tudo passa de moda. E hoje pensava que há palavras que, estranhamente, também podem correr esse risco.
Privacidade. Intimidade. Duas palavras que parecem andar muito esquecidas. É verdade, há perguntas que não têm porque ser feitas. E respostas que não têm, simplesmente, porque ser dadas. Não tem que se dizer tudo, não tem que se falar de tudo, não tem que se mostrar tudo. Porque eu mando? Não. Porque tirei um curso de Psicologia e estudei a fundo o comportamento humano? Também não. Porque me parece que é do senso comum que tanta exposição junta faz perder o sentido da identidade pessoal.
Facebook, uma moda cibernética. Não tenho absolutamente nada contra, nem entro em conspirações contra o pobre coitado sem boca para grandes defesas. Mas penso que, se as pessoas tivessem bem presentes as noções de privacidade e de intimidade, com toda a certeza o facebook não seria sinónimo de "diário aberto onde muito boa gente escreve o que faz, pensa e diz em cada cinco minutos do seu dia".
E escreve que acordou. E escreve que está de mau humor porque o cão lhe roeu o sapato. E informa ao mundo que vai ao ginásio (mas já volta). E mostra ao mundo as fotografias que tirou pelo caminho. E avisa para onde vai sair nessa noite. E com quem vai jantar. E junta mais uma fotografiazinha para ilustrar o grande divertimento do programa. Tudo para que não haja dúvidas de que aquele é um sujeito feliz, realizado, e muitíssimo solicitado.
E escreve que acordou. E escreve que está de mau humor porque o cão lhe roeu o sapato. E informa ao mundo que vai ao ginásio (mas já volta). E mostra ao mundo as fotografias que tirou pelo caminho. E avisa para onde vai sair nessa noite. E com quem vai jantar. E junta mais uma fotografiazinha para ilustrar o grande divertimento do programa. Tudo para que não haja dúvidas de que aquele é um sujeito feliz, realizado, e muitíssimo solicitado.
É preciso relembrar que a vida não se reduz a um ecrã virtual, que há outra palavra, chamada convivência, que é muito boa e faz muito bem. É preciso mostrar o valor da intimidade, daquilo que é só meu e que não conto a um milhão de amigos virtuais. É preciso voltar atrás, e apagar algumas fotografias que talvez mostrem mais do que aquilo que se devia querer mostrar. Sobretudo, é preciso crescermos nestes valores que parecem andar esquecidos.
Porque há certas coisas que, para bem da nossa sanidade mental, não podem mesmo andar ao sabor das modas.
2 comentários:
fantástico teresa! obrigada!
Muito bom!!! Parabéns!
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