(Foto: Avó Minha, a minha mãe, e o avô Xico)
A minha avó materna, mais conhecia por Avó Minha fez 77 anos no passado domingo dia 19/Fev. Esta avó é muito especial, em 2010, no seu aniversário de casamento, escrevi-lhe no meu outro blog (Pelo Mar Aberto). Agora um pouco atrasado, mas aqui fica os meus Parabéns à avó:
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(...) Neste dia fazem anos de casados os meus avós maternos. A minha família sempre foi muito família, almoçávamos ao domingo todos juntos numa mesa enorme e confusa, tios, primos, irmãos, pais e avós a maioria tinha vindo da Missa a outra maioria tinha acabado de acordar depois da noitada de sábado. Havia sempre doce e salada de fruta no final, as conversas eram de esquerda de direita, de musica e de filmes, do trabalho de risos e de tristezas, muitas vezes pouco perceptíveis quando havia uma necessidade de darmos a nossa importante opinião, interrompíamos e atropelávamos a opinião pouco importante dos outros.
Era confuso, mas a melhor palavra para descrever é que era Alegre. A grande recordação não era de todo a comida maravilhosa ou as limonadas feitas na hora, era daquela cabeceira, lá estavam o meu avô e a minha avó, sempre, o avó Francisco e a avó Margarida, que os netos carinhosamente chamam somente avó Minha, porque todos queremos tê-la.
A minha família sempre foi muito matriarcal, tal como a Sagrada Família, mas com uma Margarida daquelas era impossível não sê-lo, a avó minha é uma mulher forte e determinada uma referência na minha vida, mas sobretudo esta avó é um exemplo de santidade! Agradeço muito porque realmente vivo com uma Santa na minha casa, teve cinco filhos educou-os de uma forma tão livre que todos eles são diferentes e seguiram caminhos diversos, mas a preocupação ainda hoje são constante.
A minha avó Minha é uma mulher linda, não só pela sua bondade que é tão pura, que nunca me levou a pôr em questão a bondade humana, ou nunca precisei de Rousseau para nada, agradeço a bondade porque neste sentido foi uma educação muito protegida, mas como ela é lindíssima tem uma pele macia e os olhos claros, azul agua, da qual eu nunca vi uma expressão de fúria mesmo quando nós fazíamos as piores asneiras lá em casa. Nunca brigava, por isso eu queria passar a maior parte dos meus dias na casa dos avós, e quando ficava de castigo era praxe, "não vais lá para cima", cheguei mesmo a fugir pela janela do meu quarto, que da para um enorme quintal e depois lá estava a varanda da casa dos avós, um lugar fantástico e não só porque havia sempre chocolates escondidos em lugares secretos e o meu avô não sabe guardar segredos, se é que me entendem.
A minha avó teve cancro, foi como um terramoto na família, lembro-me muito bem desse dia, e a avó Minha saiu da consulta determinada, "eu vou lutar pela vida", outra coisa não se esperava, talvez porque ela ame tanto a vida, os filhos, o marido que não podia deixar-se ir. "Se eu morrer quem vai cuidar do teu avô?" Sofreu e sofreu muito, lembro-me de cada momento, quando foram com ela escolher perucas, lembro-me de lhe pegar a mão quando raparam-lhe o cabelo, que não servia de nada, ela mesmo careca era linda, lembro-me na sala de quimioterapia, estava sempre preocupada com os outros, lembro-me das dores que tinha quando chegava-se a noite e lembro-me de como ficava zangada quando o meu tio obrigava-a a comer brócolos misturados com soja e mirtilos, perguntava-me sempre, "vocês não querem ir ao McDonalds?"
Apreendi mais sobre a vida naqueles dias do que em muitos anos, aprendi sobre o amor e sobre o sofrimento, lembro-me de ela ter dito "é pelos teus tios e pela tua mãe", a visão mais cristã do sofrimento eu tive ali, aquela doença era por Amor.
O meu avô apaixonou-se por ela desde o primeiro momento que a viu, hoje ele esta doente por vezes com falta de memoria mas conta sem fim esta história, começa sempre, mas sempre da mesma maneira: "Dita, acreditas no Amor à primeira vista? Pois foi assim que eu me apaixonei pela tua avó! Ia na rua da Sé quando a vi e disse eu vou casar com aquela mulher, filha do Doutor Aires, homem de boas famílias, aristocrata e eu era republicano e pobre, mas casei!"
Por isso acredito no Amor, e no Amor à primeira vista, acredito sobretudo na entrega, no casamento mas no casamento para toda a vida, mesmo que alguns bloquistas queiram-me dizer o contrário, desculpem mas para mim não é anacrónico é de hoje é entre o avó Francisco e a avó Minha, não é conservador é bem moderno, é o Amor.
Hoje venceu o cancro, só tem marcas, tem dores profundas. Mas quando acorda pergunta logo pelo avô, pois ele tem uma doença degenerativa, afectou algumas partes motoras e do raciocínio menos a parte do "amor à primeira vista", é preciso ter paciência, é difícil lidar com uma pessoa doente, mas a Minha está sempre lá, é a que aguenta melhor e com mais força, é que lhe dá a mão, é que está sempre ao lado, mesmo com as suas dores e limitações, põe o marido em primeiro lugar em tudo, sempre foi assim os outros. Pode não estar bem mas diz, "rezem é pelo avô, ele é que precisa!"
Hoje vê-se uma geração que não sabe tratar dos seus doentes, não sabe lidar com o sofrimento, é horrível estar alguém ao nosso lado que sofre, que se queixa, que se suja, que se esquece, mas o Amor supera tudo e é esta a verdadeira dignidade do ser humano. Não me venham com outras tretas. A dignidade do homem é também sofrer, e ter uma mão ao seu lado.
Costumo dizer que o minha fé vem da fé da minha avó, ela que reza o terço vai a Missa quase todos os dias (quando tem forças, o que me faz pensar e eu que tenho forças porque não vou todos os dias?) e que tinha um grande amor ao João Paulo II (até vejo muitas parecenças entre os dois), a minha avó ensinou-me a amar Jesus, a beijar a cora do espírito Santo antes de me deitar, a pedir pelas almas do purgatório a rezar o terço e a salve rainha. Ela foi o meu apoio nas minhas crises de fé, ela não me deixou afastar da Igreja, a ela devo muito, mesmo muito.
Mas não foi só pela doutrina, foi pelo exemplo.
Como não poderia acreditar no Amor depois disto.
Rezo para não ser só o nome que me faça igual à Maria Margarida à avó Minha.
3 comentários:
Que história linda!
Dita, puseste-me a lágrima no canto do olho! Que bela é esta história de amor, e que exemplo!
Lindas as suas palavras, nelas se ve que o amor, educacao que recebeu dos seus avos deixaram sementes que iram continuar a germinar. Conheci a sua avo Margarida e avo Franciso Ernesto, eramos vizinhos e sei o quando eram boas pessoas. Deus os abencoe e lhes deia muita saude.
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