No verão todos somos Xerazade. Damos por nós em conversas que se espreguiçam, sem cronómetro nem pressas de ver o fim, deslumbradas pela aparente falta de propósito, por não terem requerido, como é habitual nas outras estações, um fito, um lugar e um tempo exatos. Conversas que são, na sua quase ligeireza, uma espécie de navegação sem rumo, mas onde mais depressa, e não raro de um modo surpreendente para nós próprios, nos reencontramos. Não sei se é um privilégio dos caminhos do estio, se são os seus dias mais longos e os afazeres mais breves, ou se é a limpidez da praia e a frescura resguardada da varanda que, de repente, nos permitem recontarmo-nos uns aos outros, capazes subitamente de evocações, relatos e confidências.
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