segunda-feira, 8 de junho de 2015

A pílula e a mulher

 
Todas as mulheres,  hoje em dia todas as crianças que são meninas, já passaram por este processo, vamos ao médico, fazem algumas perguntas sobre a nossa saúde, sobre o nosso corpo e pronto já nos enfiaram a receita da pílula, afinal de contas somos livres e donas do nosso corpo e a pílula é a carta de alforria das mulheres, os médicos não precisam de saber se tens namorado, marido ou amantes, não precisam saber se esses namorados abusam de ti (sabia que em Portugal "Um em cada quatro jovens acredita que a violência no namoro é normal" a notícia é do Público: AQUI como as Sombras de Grey fazem agenda)
Lembro-me sempre da história desta amiga, a M. em menina foi ao centro de saúde, quando me contou a história a M. não se lembrava da sua idade, a única coisa que se lembrava é que gostava de ver filmes da Disney e tinha os cadernos da escola com desenhos animados e o quarto ainda estava cheio de peluches... A mãe não podia entrar no consultório, pela primeira vez a M. ia sozinha a uma consulta, as perguntas foram factuais, e o médico ficou admirado como é que a M. ainda não tinha tido um namorado a sério (a.k.a. como-é-que-ainda-não-tinha-ido-para-a-cama-com-um-rapaz).
A M. no fundo sabia que ainda era só uma menina e que a sua mãe tinha ensinado que na vida cada coisa se faz a seu tempo, há idade para namorar, há idade para casar e ter filhos e há idade para brincar e que muitas vezes a sociedade misturavas as idades (em velhos brincamos e em novos namoramos), a M. sabia que ainda não tinha idade para namorar, mas tinha muitos amigos, ela no fundo o que gostava era de ir ao cinema com as amigas e comer pizza a ver tv, mas a M. saiu desta consulta com a sua pilula e a partir daí esqueceu-se algumas coisas que a mãe lhe ensinou.
Como esta minha amiga M. há muitas crianças-meninas-pré-adolescentes que passam por isso, o que mais me incomoda nestas consultas rotineiras é a leveza do tratamento, no ano passado conheci uma rapariga excelente, mais velha e casada já há alguns anos, contou-me que não podia ter filhos porque durante muito tempo tomou a pilula, e eu perguntei se a sua médica a tinha informado sobre essa consequência, que é possível e que aconteceu, ela disse que na altura ninguém lhe disse nada. A mim custa-me muito pensar que esta mulher nunca poderá ser mãe porque lhe deram a pilula e nem lhe falaram das suas consequências, mas que raio de liberdade é esta? É verdade o corpo é meu e como tal as consequências são minhas, não são do médico x, y ou z. Atenção eu não estou a dizer que a pilula provoca infertilidade em todas as mulheres, mas no caso da C. foi um factor, pelas suas condições, e é uma injustiça que não lhe tenham informado disso antes.  Contudo o que me deixou mais chocada foi a investigação da TVI24 Horas sobre a pilula mais consumida em Portugal: Yasmin. Esta investigação já tem alguns meses, e foi tão pouco divulgada. 
A Carolina era uma jovem bailarina, teve uma morte súbita, mais tarde percebeu-se que foi por causa da pilula, esta é a reportagem que todas as mulheres deviam ver, porque este é um direito nosso É arrepiante perceber o poder das empresas farmacêuticas têm sobre este tema, e, nós mulheres, somos iludidas.
«A minha irmã tinha um excelente relacionamento com a minha mãe. A minha mãe tinha sempre conhecimento de todos os passos que ela dava. E, debaixo deste choque, a minha mãe disse-me “Susana, foi a pílula que matou a carolina”», diz Susana Alves, irmã da jovem. (entrevista completa: AQUI). Não sei porquê, mas parece que o filme da reportagem já não está on-line, contudo digo que é impressionante as conclusões que esta mãe retirou na morte da sua filha e o alerta que deixa a todas as mulheres. 
Como mulher só peço uma coisa aos nossos médicos, quando receitam a pilula pelo menos tenham a honestidade intelectual de informar todas as consequências às mulheres e às crianças meninas,  mostrando estes números.
Porque uma morte pode ser só uma, mas para a Carolina, e para a sua mãe foi única, foi tudo. E de quem é a culpa?

17 comentários:

Carolina PCunha disse...

Dita :)!
Eu vi a reportagem sobre a Carolina na televisão, mas de facto não ouvi ninguém falar sobre o assunto na altura. E há tantas miúdas que tomam a pílula Yasmin (obrigada por me lembrares de perguntar às minhas amigas).
A sociedade impinge tantas mentiras: como essa de teres de ter o primeiro namorado até aos não sei quantos anos; ou do que é um namorado (não) sério... E, por cima disso, abafa muitas verdades, como esta sobre a pílula (para não dizer mais).
Obrigada por publicares este texto aqui. Pode ser que mais meninas como a M. passem por aqui depois de alguém lhes perguntar como é que nunca tiveram um namorado 'a sério' ou de lhes receitarem a pílula...
Beijinhos**

Dita disse...

Obrigada Carol por este simpático comentário, é realmente um tema muito difícil de falar na nossa sociedade, que é muito livre mas só para ouvir certas coisas.
Espero mesmo que a história e o sofrimento da Carolina seja um exemplo todas as mulheres.
Um beijinho e aparece sempre por aqui!

Miss_Moi disse...

Olá Dita!
Excelente texto, mas sem rigor científico.

Quando dizes «no ano passado conheci uma rapariga excelente, mais velha e casada já há alguns anos, contou-me que não podia ter filhos porque durante muito tempo tomou a pilula» estás apenas a perpetuar um mito. A toma da pílula não provoca infertilidade apenas impede a ovulação durante a toma da mesma. Além disso, a pílula ajuda a prevenir cancro do útero e ovários. Não achas que é um benefício a ter em conta?
Para mais informação clica aqui:

http://www.planeamentofamiliar.com/pilula-contraceptiva-faq/

Beijoca, vemo-nos nas Sanjoaninas! :)

Dita disse...

Miss Moi (que saudades!!!)

Este texto foi escrito sem rigor cientifico, são simplesmente histórias verdadeiras de mulheres muito próximas de mim e de ti.

Penso que apesar de todos os benefícios que me possam citar, as consequências da pilula no organismo da mulher tem sido fatal em alguns casos, o que é impressionante sendo pessoas novíssimas (como a Carolina, história que infelizmente é pouco conhecida), acho que este tema não é mais explorado derivado ao poder dos métodos contracetivos nas empresas farmacêuticas.

De que me serve a pilula que ajude a prevenir o cancro se provoca embolia pulmonar? Jasmim é a pilula mais vendida em Portugal e o meu texto é um alerta ao facto de muitos médicos desresponsabilizarem-se, por vezes não há um verdadeiro interesse pelo historial do paciente, raparigas tomarem a pilula sem serem informadas como deve ser é o que há mais por ai, retirando, assim algumas responsabilidades nas suas relações.

Entretanto se me citas o site do planeamento familiar, é como citar o site do Mc'Donalds para falar dos benefícios das batatas fritas e dos hambúrgueres ahah

Posto isto, vemo-nos sim nas Sanjoaninas e vamos beber uma cervejinha juntas, pago eu!
Beijinhos e volta sempre cá

Unknown disse...

Que post tão bonito, minha amiga!! Assustador!!

Unknown disse...

Pronto, para não ficares triste fui procurar outra fonte :)

VANTAGENS
COC
O Tem elevada eficácia contraceptiva
O Não interfere com a relação sexual
O Regulariza os ciclos menstruais
O Melhora a tensão pré-menstrual e a dismenorreia
O Previne e controla a anemia ferropénica
O Contribui para a prevenção de:
DIP e gravidez ectópica
Cancro do ovário e do endométrio
Quistos funcionais do ovário
Doença fibroquística da mama
O Não altera a fertilidade, após a suspensão do método

DGS:
http://www.dgs.pt/upload/membro.id/ficheiros/i005991.pdf

É verdade que muitas raparigas tomam contraceptivos sem necessidade. É verdade, também, que as farmacêuticas têm grande influência no SNS. Mas caramba, nós - seres racionais - temos de ter a responsabilidade do que tomamos.
Eu tomo a pílula há anos. Comecei a tomar por questões terapêuticas e nunca tive qualquer efeito secundário. Sei os riscos, mas tomo porque quero. Não posso culpar o médico.

Beijoca*
(prefiro sangria, mas pagas tu :P )

Dita disse...

O que eu estou a dizer é que, a maior parte das raparigas (ao contrário de ti) não estão informadas nem dos riscos, nem das consequências (sejam elas de carácter bom ou mal), porque o SNS e os médicos não o fazem (isto é uma triste verdade, que em Portugal já traz consequências)

Sangria? És uma menina, nunca me enganaste...
Beijinhos espero que venhas a tempo de ouvir o José Cid!

Unknown disse...

Minha amiga, se o meu namorado se der ao trabalho de comprar os bilhetes do barco (sou pelintra!), chego aí na sexta de tarde.
E sim, deixei de fumar, bebo muito raramente e - vê lá!- faço desporto! Estou uma menina do caraças :)

Bj*

Catarina Nicolau Campos disse...

Miss_Moi,

Acho que expandir horizontes no campo do conhecimento, aventurando-nos em áreas desconhecidas e novas, obriga-nos a sair da nossa zona de conforto e a tomar decisões em "maior liberdade", no sentido de quanto mais informação tivermos, melhores serão as nossas escolhas.
Estudo bastante esta área da sexualidade, e porque percebi que em Portugal os estudos divulgados nos media são pobres e cientificamente duvidosos, procurei noutros lugares e nestes últimos anos cheguei a muitas conclusões, algumas das quais achei pertinente partilhar:

1. Sendo o principal objectivo da pílula inibir a ovulação, isto nem sempre acontece, e não me estou a referir ao 1% que resulta em gravidez;

2. A pílula, quer na forma combinada, ou na forma única de progesterona, é uma injecção hormonal no corpo da mulher em resposta a um problema que não existe e a uma doença ausente: a fertilidade.
Ciclos irregulares podem ser sinal de que alguma coisa não está bem - e na a minha opinião, se há um problema, devemos procurar a sua causa para o resolver, e não disfarçar a consequência - ou podem ser sinal de absolutamente coisa nenhuma. Os ciclos não têm que ser de 28 dias, já sabemos há algum tempo que o método de Ogino é um não método;

3. Injectar hormonas sem que haja doenças que peçam esta resposta naturalmente não pode fazer bem. Não há benefício nenhum em estimular a produção celular quando esta já ocorre sem problemas. É lógico. Por isso, quando a APF diz que ajuda a evitar o cancro dos óvários e do útero, para além de ser praticamente uma voz única na comunidade a dizer uma barbaridade dessas, é uma mentira. Não aumentar a incidência destes tipos de cancro não significa que ajude a evitar! Para além disso, está provada uma correlação entre a toma continuada da pílula e o aumento da incidência de cancro da mama sobre essa população.
Não há ninguém que diga, na comunidade científica, que tomar a pílula é pacífico e inócuo. Deixo aqui textos elucidativos da US Breast Cancer Organization e do próprio governo dos EUA.
http://www.cancer.gov/about-cancer/causes-prevention/risk/hormones/oral-contraceptives-fact-sheet
http://www.breastcancer.org/research-news/study-questions-birth-control-and-risk


3. Gostaria de falar, ponto por ponto, das "vantagens" enumeradas pela DGS. Mas por hoje basta-me o "Não interfere com a relação sexual". Sabemos da importancia da testosterona na relação sexual. Sabemos que a progesterona e os estrogénios não são testosterona. Podem não notar, até pode haver quem o faça dia e noite e tome a pílula, mas, once again, não é inócuo, e muito menos uma vantagem:
http://www.medicaldaily.com/your-prescription-medication-blame-your-sex-troubles-5-drugs-can-cause-problems-bedroom-306482

4. (só mais uma) quanto à gravidez ectópica, a pílula actua na sua prevenção unicamente porque impede a nidação de um óvulo fecundado. Por isso, na verdade, não impede uma gravidez ectópica - impede e interrompe, sim, toda e qualquer gravidez.

5. Quanto ao facto de tomar a pilula por que quer, ainda bem que o faz no exercício da sua liberdade, mas deixe-me que lhe diga que não só não é essa a história dos corredores dos centros de saúde e dos médicos de família, como quem toma a decisão inversa é tratado como um doente mental. Falo com conhecimento de causa, porque foi o que me aconteceu. E isto é muito triste e revela a desinformação que grassa nas faculdades, nos media...e também um pouco da pobre cultura democrática em que vivemos.

Desculpe este texto longo, gosto do assunto ;)
Até breve!

Unknown disse...

Olá Catarina!
Agradeço o seu comentário. Todas as opiniões são bem-vindas para numa discussão democrática.
Há realmente uma maior incidência de cancros da mama em mulheres que tomam a pílula. Mas não é o factor principal. Ser portador dos genes BRCA1 e BRCA2, ter casos de cancro da mama na família e ter historial de doenças oncológicas são sim os factores de risco a ter em conta.

«4. (só mais uma) quanto à gravidez ectópica, a pílula actua na sua prevenção unicamente porque impede a nidação de um óvulo fecundado. Por isso, na verdade, não impede uma gravidez ectópica - impede e interrompe, sim, toda e qualquer gravidez.»
Falso, falso e falso. A pílula (ao contrário, por exemplo, do DIU) não é abortiva mas sim preventiva.

«5. Quanto ao facto de tomar a pilula por que quer, ainda bem que o faz no exercício da sua liberdade, mas deixe-me que lhe diga que não só não é essa a história dos corredores dos centros de saúde e dos médicos de família, como quem toma a decisão inversa é tratado como um doente mental. Falo com conhecimento de causa, porque foi o que me aconteceu. E isto é muito triste e revela a desinformação que grassa nas faculdades, nos media...e também um pouco da pobre cultura democrática em que vivemos.»
Bom Catarina, não sei em que Centro de Saúde está inscrita mas nunca me impingiram nada. Sugeriram-me a toma da pílula por ter o Síndrome de Ovário Poliquístico e eu aceitei de livre vontade. Consciente da minha escolha. Sabe porquê? Porque penso por mim e não vou em cantigas. E sabe que mais? O tratamento funcionou :)
Se a trataram como um doente mental, devia ter apresentado queixa na Ordem dos Médicos. Quando nos calamos, concordamos. Falar depois não serve de nada.

E para terminar, satisfaça-me uma pequena curiosidade. Por acaso escreveu este texto?

http://senzapagare.blogspot.pt/2015/04/carta-ao-filho-da-jovem-de-12-anos-que.html

Cumprimentos.

Catarina Nicolau Campos disse...

Olá Miss Moi,
obrigada pela resposta.

Nunca disse ser factor principal. Mas haver uma correlação para mim já basta para saber que não é uma coisa intrinsecamente boa como se apregoa.
Aliás, a análise risco-benefício, para efeitos contraceptivos, da Yasmin, por exemplo, é um exercício intelectualmente honesto e fácil de nos conduzir a esta conclusão, bastando para tal recorrer à sua bula:
http://www.infarmed.pt/infomed/download_ficheiro.php?med_id=30078&tipo_doc=fi.
(Conheço um GO que até diz, em tom de brincadeira, que se fosse mulher, o último anti-concepcional que escolheria seria a pílula)

Quanto ao efeito abortivo da pílula, existe sim.
As pílulas, quer na forma combinada, quer na forma simples, actuam em 3 sentidos: impedir a maturação do óvulo, alterar o muco cervical, e tornar o endométrio hostil à implantação do óvulo fecundado.
A farmacêutica Schering, uma das empresas de topo da indústria, especializada em anti-concepcionais e responsável pela Yasmin, afirma que esta acção no endométrio é o primeiro mecanismo de acção da pílula, tal devendo-se ao facto de, ao longo dos anos, na tentativa de diminuir os graves efeitos secundários das pílulas, as dosagens terem sido progressivamente diminuídas. Por esta razão, a ovulação nem sempre é inibida (a percentagem de ocorrência de ovulação situa-se entre 7 a 10%), podendo o óvulo ser fecundado. O que acontece é que, pelo efeito combinado do bloqueio da fase secretora e da alteração da motilidade da trompa, a implantação no endométrio torna-se praticamente impossível e por essa razão a gravidez não prossegue.

Quanto a isto, aconselho vivamente a leitura do "Williams Obstetrics", a "bíblia" da Ginecologia-Obstetrícia.

O texto, sim, fui eu que escrevi. E também escrevi este http://senzapagare.blogspot.pt/2012/03/hipocraiteas-catarina-nicolau-campos.html a propósito do que me aconteceu. Não foi no Centro de Saúde, mas aí também tenho tidos já alguns episódios dignos de anedota, e a queixa foi feita.

Obrigada!

Unknown disse...

Olá Catarina! Desculpe a demora a responder, mas vim de férias e tento aproveitar o tempo para estar com a família.
Nunca ouvi falar em acção abortiva da pílula, mas não sou médica. Além disso acho estranho a pílula ser abortiva e estar no mercado em Portugal antes da despenalização do aborto. É um contra-senso, não acha? "Ah, não podes abortar mas podes usar a pílula para matar embriões". Mas se assim é, assumo a minha ignorância.
Quanto ao seu amigo GO, espero que - por questões de consciência - não receite a pílula às suas pacientes.
Li atentamente o texto que partilhou. A carta ao feto (de que discordo a 200%) e o outro. Realmente tem motivos para estar descontente com a médica que a atendeu, que teve uma atitude muito pouco profissional. Contudo, consigo compreender a reacção da médica quando falou nos métodos naturais. Para mim isso é um "não-método": Se um ciclo menstrual é irregular, como se evita a relação sexual nos dias do período fértil? Não tem como saber.
Catarina, já deu para ver que é uma pessoa religiosa. Tudo bem, é livre de seguir a doutrina que bem entender. Mas não acha um pouco radical a conversa “Os bebés são muito bem-vindos lá em casa. E, consecutivamente, nada faremos para destruir a Vida” ao referir-se aos contraceptivos?

Cumps,

Catarina Nicolau Campos disse...

Olá Miss Moi! Não tem problema, o bom destas conversas é que não há pressas ;)

É normal que não tenha ouvido falar, nas faculdades de medicina em Portugal também raramente se fala. Relativamente à despenalização, em bom rigor, o aborto já era permitido em Portugal antes da lei de 2007, em casos de malformação do bebé, em gravidez de risco para a saúde física e psíquica da mãe e violação.
No caso dos efeitos abortivos da pílula, são escondidos, e por isso é difícil a sua contabilização. Mas existem. Por outro lado, temos o exemplo dos embriões excedentes congelados resultantes das FIV, que são destruídos, e cuja lei remonta a 2006, antes da despenalização do aborto. Como vê, é irrelevante.
Não se pode dizer que o nosso sistema jurídico seja propriamente apanágio de sólida coerência.

Relativamente aos métodos naturais: o método que a Miss Moi fala é o da contagem dos dias do ciclo, também chamado método de Ogino. Já se sabe desde os anos 70 que é um não-método. Estamos de acordo. E por essa mesma razão, os métodos naturais não são a contagem dos dias do ciclo.
Há vários tipos de métodos naturais, sendo que todos eles têm em comum um factor: a aferição do período fértil pelas características do muco cervical. Este indicador fisiológico é a peça central do Método de Billings, o método natural mais conhecido, criado por médicos, com uma eficácia de 97% atribuída pela OMS, e que toda a vida segui.
Sendo um método que se baseia na observação do muco cervical, é indiferente que os ciclos sejam regulares ou irregulares. Naturalmente, exige aprendizagem (acessível, eu aprendi com 13 anos) e que seja bem feito, tal como qualquer outro método.
O problema é que, uma vez mais, este assunto não é abordado nas faculdades. (E agora vem a teoria da conspiração... ;) )os método naturais não movem indústrias de milhões de dólares, são grátis, inócuos para a saúde da mulher, sem efeitos secundários e uma vez aprendidos é como andar de bicicleta. Esta é a única explicação lógica que consigo arranjar para o facto de ser um assunto tabu, sobre o qual se insiste tanto na ignorância.

Quanto ao que escrevi, se por radical nos referirmos à raiz daquilo em que acredito, claro que é radical. E não falo do facto de ser católica. O contraceptivo em causa era a pílula, que a médica me tentava impingir. Sabendo eu dos efeitos abortivos da pílula, não poderia dizer outra coisa que não esta. E nisto, a única influência que tenho "religiosa" é o facto de conceber a Vida como um dom, desde o princípio até ao fim.

Obrigada!

Unknown disse...

Olá Catarina!

Não conheço esse método de que fala, mas confesso que uma eficácia de 97% não me inspira grande confiança. Pode ter sido criado por médicos, mas sabe tão bem quanto eu que a medicina evolui rapidamente e aquilo que é muito bom hoje, pode ser muito mau amanhã. Sou pela ciência, mas cada um sabe de si.
O muco cervical tem muito que se lhe diga. A elasticidade, a cor...Nem toda a gente consegue perceber com toda a certeza se está ou não no seu período fértil. E volto a referir, 97% de eficácia...Uma rapariga de 16/17 anos pode entrar para a estatística dos 3%. Como resolve este problema? Uma criança pode ser mãe?

«O problema é que, uma vez mais, este assunto não é abordado nas faculdades. (E agora vem a teoria da conspiração... ;) )os método naturais não movem indústrias de milhões de dólares, são grátis, inócuos para a saúde da mulher, sem efeitos secundários e uma vez aprendidos é como andar de bicicleta. Esta é a única explicação lógica que consigo arranjar para o facto de ser um assunto tabu, sobre o qual se insiste tanto na ignorância. »
Sim, as pílulas representam um grande volume tal como o paracetamol e o xanax. Se têm efeitos nefastos para a saúde? Sim, mas os benefícios são superiores aos malefícios. E os medicamentos não entram de qualquer maneira no mercado, são aprovados previamente. A pílula não é excepção.

Considerar a pílula um atentado à vida é, na minha opinião, um pouco radical. Não estamos a falar em raspagem do útero nem a aspiração de bebés de 4/5 meses. Além disso, é minha convicção que sem nidação não há gravidez. Um óvulo fecundado não é um bebé sem se fixar na parede do útero. E saberá certamente que muitos óvulos não vingam. Isso não é um aborto, mas sim uma não-gravidez.
Claro que quem entende «a Vida como um dom, desde o princípio até ao fim.» não pode concordar com o que o defendo, mas isso são questões religiosas que não discuto.
Repare que não estou a dizer que a pílula é a melhor coisa do mundo. O que defendo é que é de facto um método extremamente eficaz e com mais benefícios do que malefícios. Claro que temos riscos de embolias e AVC's, mas como defendo desde o início só toma quem quer. Não podemos delegar nos médicos o dever de zelarmos pela nossa saúde. Temos de nos informar e tomar decisões em consciência. Eu tomo porque quero, não porque o médico x ou y me obrigou.
Só mais uma coisa, Catarina. No meu caso - tinha síndrome de ovário poliquístico - o que me aconselharia como alternativa à pílula?

Cumps.

Catarina Nicolau Campos disse...

Olá Miss Moi!

A eficácia da pílula situa-se entre os 92% e os 99%, dados da OMS. 97% parece-me bastante bom. Por outro lado, como dizia, para além do Billings há outros métodos, um dos quais o método Sintotérmico que, para além do muco cervical, atenta noutros indicadores tais como temperatura basal, dores de ovulação, etc.. Este método tem uma eficácia de 99%. Mas dei a eficácia por uma questão de informação, não de discussão estatística.
A medicina evolui, mas o corpo humano permanece igual na sua essência. O método de Billings baseia-se na observação dos sinais do corpo, uma observação que é científica, tem um método rigoroso - por isso digo que se aprende - e garanto-lhe que aferir pelas característcas do muco e da sua evolução ao longo do ciclo o período fértil é tão difícil como aprender a tomar a pílula.
Os espermatozóides só sobem se tiverem condições para o fazer. Essas condições são dadas pelo muco cervical. Não há nada mais científico do que isto.

Quanto à criança de 16/17 anos poder ser mãe...e uma criança de 13 pode ter relações sexuais?
Dava para pano para mangas, esta conversa, que adorava ter pessoalmente, até porque eu fui mãe aos 20 (quase-criança, dadas as considerações anteriores) e acho que posso dar um testemunho relativamente a esse assunto.

Sem dúvida que cometemos um erro durante esta conversa, que foi o de partirmos de premissas díspares. Sim, eu acredito que a vida começa na fecundação, no momento da criação do material genético que constitui a pessoa que já lá está.

Não sou médica, mas no seu caso tenho uma forte recomendação: a NaPro Technology e o Creighton Model Fertility System, que são especialistas em saúde ginecológica e reprodutiva e tratam, nomeadamente, o síndrome do ovário poliquístico. Em Portugal já existe uma practitioner. Se estiver interessada nesta abordagem, posso-lhe dar o contacto, em privado.

http://www.naprotechnology.com/

Obrigada!

Unknown disse...

Olá!

«Os espermatozóides só sobem se tiverem condições para o fazer. Essas condições são dadas pelo muco cervical. Não há nada mais científico do que isto.»
Certíssimo, mas os espermatezóides podem seguir o seu caminho - sem ter um muco hostil - e aguentar vários dias. Entretanto (para aí uns 3/4 dias mais tarde) chegamos ao período fértil e...voilà! É que os desgraçados dos bichinhos não morrem logo, aguentam-se vários dias!

«Quanto à criança de 16/17 anos poder ser mãe...e uma criança de 13 pode ter relações sexuais?» Não devia, mas não respondeu à minha questão. Ser mãe aos 16/17 anos pode arruinar as perspectivas de futuro. Não é impossível, mas é muito difícil conjugar a maternidade e os estudos (na idade jovem). Não é melhor dar um contraceptivo às adolescentes para prevenir, de forma mais eficaz, uma gravidez indesejada? Eu penso que sim.

Realmente partimos de pontos diferentes. Para mim só há gravidez quando o óvulo fecundado vinga e se torna visível numa ecografia. Por isso nunca estaremos de acordo em alguns aspectos.

Quanto ao link que partilhou, vou dar uma vista de olhos. Obrigada :)

Cumps.

Catarina Nicolau Campos disse...

Olá Miss Moi,

os espermatozóides só se aguentam esse tempo todo se houver muco que os "aguente". Caso contrário, morrem ao fim de poucas horas.
O bom da história é que a ovulação não se dá do 8 para o 80 e o estrogénio encarrega-se de produzir muco 2 a 3 dias antes da ovulação. Esse muco é observável com os (nossos) olhos. Não há surpresas.
A título de curiosidade, num casal saudável, a probabilidade de haver fecundação no dia da ovulação é de 23%. Achamos que é tiro certeiro, mas na verdade é uma lotaria.

Quanto à gravidez dos 16/17 anos, evitando o erro anterior, julgo que partimos de premissas diversas:
1) Não considero que a gravidez seja desejada/indesejada consoante a idade e por isso rejeito qualquer teoria que aponte para que seja melhor ficar grávida aos 40 do que aos 15;
2) Acredito mesmo que o ser humano nasceu para ser livre. Todo e qualquer ser humano
3) Concebo a liberdade como auto-determinação da Pessoa

Eu sei o que é conjugar a maternidade e os estudos, acredite. Enquanto estava a tirar Direito tive 3 filhos. Sem empregada e sem pais ricos ;) E não os trocava pelas pílulas de 2011 ;)

Obrigada eu!