sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

As bailarinas e a maternidade

Eu não sou bailarina. Quer dizer, dancei ballet na 4ª classe – quem não?! -, mas acho que isso não conta.

Dizem os entendidos que custa. Acredito, sei que qualquer desporto levado ao profissionalismo obriga a horas infindáveis de entrega, de suor, de falhanços e de melhoria. Há dores físicas, dores espirituais, mas também há o lado negro das expectativas e da procura de um Eu.

Lucy Gray, fotógrafa e autora do livro Balancing Acts, diz sobre as bailarinas:
“Em geral, as prima ballerinas começam a dançar por volta dos três anos (…), quando chegam aos 25 ou aos 30, dançar é tudo o que sabem fazer. É aquilo que são. É a sua identidade (…)”
Hoje não me alongo em demasia neste “perder-se” a si próprio para se reencontrar na dança, levando a extremos em que o próprio corpo deixa de ser o que é, mas naquelas bailarinas, fotografadas por Gray, que tiveram a coragem de buscar a maternidade em simultâneo.

Não sendo habitual, muitas vezes nem desejado, Gray “pensava que ia contar a história de como era difícil para estas mulheres continuarem a afirmar-se profissionalmente sendo mães. Mas a história acabou por ser outra: ‘tiveram melhores críticas depois de terem filhos.’ ”

E agora perguntam vocês, como eu me perguntei a mim mesma: mas o que as fará terem evoluído enquanto bailarinas, apenas pelo facto de terem sido mães?

Responde-me Gray:
- Perderam o nervosismo do palco
O que é o medo, depois de dar à luz? O que é o medo, depois de pensar que o nosso filho se engasgou e pode não respirar mais?

- Passaram a relativizar as coisas
A dança deixa de ser o centro das suas vidas, há mais fora disso. Que me importa brilhar em palco, se falho em casa com aqueles que fazem que a vida valha a pena?

- Dançar tornou-se “mais fácil, ganhou beleza”
Agora há por quem dançar, há um objectivo e tem de haver – por que danço? Por quem danço? Porque se não é só por mim, se é pelos outros, só o posso querer se for algo bonito, belo de ver e de fazer. Redescobrir essa beleza.

De algum modo cruzam-se, mas é tão bonito pensar o quanto – inconscientemente! – muda na consciência de uma mãe, só por sê-lo.

Mal posso esperar para descobrir por mim própria.



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