Eu não sou
bailarina. Quer dizer, dancei ballet na 4ª classe – quem não?! -, mas acho que
isso não conta.
Dizem os
entendidos que custa. Acredito, sei que qualquer desporto levado ao
profissionalismo obriga a horas infindáveis de entrega, de suor, de falhanços e
de melhoria. Há dores físicas, dores espirituais, mas também há o lado negro
das expectativas e da procura de um Eu.
Lucy Gray, fotógrafa e autora do livro Balancing Acts, diz sobre as bailarinas:
“Em geral, as prima ballerinas começam a dançar por volta dos três anos (…), quando chegam aos 25 ou aos 30, dançar é tudo o que sabem fazer. É aquilo que são. É a sua identidade (…)”
Hoje não me
alongo em demasia neste “perder-se” a si próprio para se reencontrar na dança,
levando a extremos em que o próprio corpo deixa de ser o que é, mas naquelas
bailarinas, fotografadas por Gray, que tiveram a coragem de buscar a maternidade em simultâneo.
Não sendo
habitual, muitas vezes nem desejado, Gray “pensava que ia contar a história de como era difícil para estas mulheres
continuarem a afirmar-se profissionalmente sendo mães. Mas a história acabou
por ser outra: ‘tiveram melhores críticas depois de terem filhos.’ ”
E agora perguntam vocês, como eu me perguntei a mim mesma: mas o que as
fará terem evoluído enquanto bailarinas, apenas pelo facto de terem sido mães?
Responde-me Gray:
- Perderam o nervosismo do palco
O que é o medo, depois de dar à luz? O que é o medo, depois de pensar que o
nosso filho se engasgou e pode não respirar mais?
- Passaram a relativizar as coisas
A dança deixa de ser o centro das suas vidas, há mais fora disso. Que me
importa brilhar em palco, se falho em casa com aqueles que fazem que a vida
valha a pena?
- Dançar tornou-se “mais fácil, ganhou beleza”
Agora há por quem dançar, há um objectivo e tem de haver – por que danço?
Por quem danço? Porque se não é só por mim, se é pelos outros, só o posso
querer se for algo bonito, belo de ver e de fazer. Redescobrir essa beleza.
De algum modo cruzam-se, mas é tão bonito pensar o quanto – inconscientemente!
– muda na consciência de uma mãe, só por sê-lo.
Mal posso esperar
para descobrir por mim própria.
via Observador
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