Algumas músicas têm o poder de mudar a maneira de vermos o mundo e as pessoas. Ás vezes mostram-nos a verdade, outras vezes ajudam-nos a enganarmo-nos a nós mesmas. Sim, há músicas que parecem querer confirmar aquilo que queremos ver confirmado, mas que talvez não devesse ser confirmado. Confuso? Provavelmente.
A música em que penso agora fala de duas pessoas que, durante o namoro, percebem que têm uma relação destinada ao fracasso. Quando a realidade os acorda, entram no processo típico das perguntas sucessivas: será que não deviamos dar outra oportunidade? Será que não estou a ver mal as coisas? Será que encontro melhor? Será que devo ceder? E surge a conclusão (da música): na verdade, a nossa relação não tem que acabar, vamos encontrar-nos no meio daquilo em que cada um acredita e começar tudo de novo.
Ora bem. É verdade que sempre precisamos de humildade para perceber que os nossos defeitos não têm por que ser festejados pelo outro, e que temos realmente que mudar o que nos afasta. Mas também é verdade que nem tudo são defeitos, e que há certas coisas em que não podemos deixar de acreditar e de querer alcançar, sob pena de deixarmos de ser nós próprias. De facto, nem sempre temos a sorte de encontrar à primeira o princípe-encantado-feito-para-mim. Essa será, parece-me, a excepção.
Vou dizer-vos. Esta música é, para mim, uma tentativa fracassada de afirmação do que pode e deve ser o amor humano. O amor não é cómodo, o amor não atrofia os princípios nem aquilo em que, no mais profundo do nosso ser, acreditamos. O amor não leva a que duas pessoas, que não vêem qualquer futuro juntas por não terem os mesmos valores, crenças e sonhos, se forcem a abdicar daquilo em que acreditam para chegar ao outro. E se essa é a situação, a relação tem, na verdade, que acabar.
Sem comentários:
Enviar um comentário