segunda-feira, 7 de março de 2016

Ainda sobre os Óscares 2016 #2


Sou fã do cinema, tento sempre assistir em directo à entrega dos prémios mais badalados da 7ºarte, mesmo sabendo dos lobbys e das influências ideológicas, como por exemplo os filmes premiados são por natureza os mais comerciais. Mas gosto do ambiente, gosto de estar acompanhada, com pipocas e cerveja e muitas amigas, pela noite adentro a ver quem será o vencedor, gosto daquela espera: "And the winner is....." e gosto de torcer pelos meus preferidos.
Este ano não consegui acompanhar a cerimonia, o cansaço de uma viagem dominou a minha vontade - será que já são consequências dos 30's? Nãoooooo
Mesmo sem directo, no outro dia logo de manhã, não me contive a fazer zapping, para perceber se o Leonardo tinha ganho o Óscar ou não...
Mas a surpresa foi o melhor filme, Spotlight, um filme que fala sobre a investigação jornalística nos casos de pedofilia na Igreja dos EUA - penso que ganho o Óscar pela história em si, por ser uma ode à liberdade de expressão e ao trabalho dos jornalistas de investigação (espécie em vias de extinção). É um filme ligeiro e passageiro, daqui uns messes ninguém o vai recordar, não é brilhante, é extremamente comercial, mas mesmo assim não o posso deixar de comentar pelo facto do tema do filme ser um tema muito caro.
Não escondo o nojo que sinto por meia dúzia de padres, influenciados pela cultura nos anos 60, terem manchado tanto a fé de milhões, o que eles fizeram foi de uma dor incalculável para toda a Igreja.
Não escondo a repulsa por estes actos hedónicos, nem a tristeza de ver o sofrimento de muitos amigos sacerdotes, homens verdadeiramente bons que lutam pela sua santidade, terem sido traídos pelos seus irmãos.
Apesar de ser um motivo para reavivar a memoria e incentivar a luta contra estes crimes, fico com pena que o filme não tenha sido explicito no esforço que a Igreja fez quando descobriu os casos de pedofilia e percebeu que foram encobertos por membros do clero, esforço esse que esteve muito presente no magistério do Papa João Paulo II e como Bento XVI foi implacável:  "Quase 400 padres foram reduzidos ao estado laical pelo Papa Bento XVI em 2011 e 2012 (...) É um dado que choca e que mostra como a legislação canónica introduzida em 2010 por Bento XVI é apertada e rigorosa (...) Na entrevista durante o voo para Lisboa, em Maio de 2010, o Papa Ratzinger afirma: "A maior perseguição da Igreja não vem dos inimigos de fora, mas nasce do pecado da Igreja e a Igreja tem a profunda necessidade de reaprender a penitência, de aceitar a purificação, de aprender, por um lado, o perdão e, por outro, a necessidade de justiça. O perdão não substituiu a justiça." (...)".
 
Assim sendo, sem disfarces, nem ocultismos deixo aqui 3 bons comentários a Spotlight:
1 (quase) Jornalista; 1 Padre e 1 Blogger:
 
"(...) E o que fez ele? Começou pelo básico indispensável. Reconheceu a culpa e pediu perdão. Condição necessária, mas não suficiente, para enfrentar a tragédia. A seguir, ouviu as vítimas e investigou os Padres. Vendeu património para pagar indemnizações às vítimas e desenvolveu talvez o maior programa de prevenção destes crimes alguma vez levado a cabo por uma instituição não-estatal. Mas mesmo isso não era suficiente.
Era preciso mais, muito mais. Não só em Boston, como em todas as dioceses americanas, foi preciso enfrentar o problema de frente para que, como na música de Johnny Cash, as palavras de São Lucas nos recordem que “what’s done in the dark shall be brought to the light”. A conferência episcopal dos Estados Unidos encomendou uma enorme investigação independente que custou alguns milhões de dólares.
Os resultados foram arrasadores, mas investigar era a palavra de ordem tanto nos media como na Igreja. Tolerância zero para os criminosos, “background checks” obrigatórios para todos os que lidassem com menores, restrições no acesso aos seminários e processos canónicos sérios que corriam em paralelo com os processos civis e criminais. Gastaram-se mais de 3 mil milhões de dólares em indemnizações às vítimas e várias dioceses foram à falência. Mas ainda assim era preciso fazer mais.
João Paulo II foi pioneiro de reformas canónicas, sob o impulso do então cardeal Ratzinger, mas a mudança acelera drasticamente no pontificado de Bento XVI. Todos os processos diocesanos passam a ser obrigatoriamente comunicados e investigados pelo Vaticano para evitar que algumas dioceses escondessem o problema. Dos 3.400 processos que repentinamente chegaram a Roma, entre 2004 e 2011, 847 padres foram laicizados e 2.572 suspensos de funções.
O Papa Francisco aumenta ainda mais a pressão. Sean O’Malley, já cardeal de Boston, passa a liderar uma comissão constituída não só por especialistas, mas também por vítimas, a fim de propor reformas para serem implementadas em toda a Igreja. Só nos Estados Unidos, três bispos foram demitidos por más práticas em lidar com estes casos.
Será isto suficiente? Ainda não. Apesar de já haver um enorme decréscimo de casos em países como os Estados Unidos ou a Irlanda, em resultado das medidas drásticas adoptadas, todos os anos ainda se descobrem casos novos um pouco por todo o mundo.
Nada do que se possa fazer alguma vez compensará o que antes se deveria ter feito para se impedir um só destes crimes, mas, ainda assim, temos pelo menos que tentar.
Temos de pedir desculpa, temos de ouvir, e temos de falar sem medo para depois se denunciar estes crimes junto das autoridades civis e eclesiásticas. Só assim se combate este flagelo: com a coragem de pôr a vida dos inocentes à frente da reputação da própria Igreja, em linha com as palavras do Papa, “Eu prometo que seguiremos o caminho da verdade onde quer que ele nos leve. Padres e bispos terão de prestar contas quando abusarem ou falharem no proteger as crianças”. (PARA LER TUDO: AQUI)


"(...) Neste sentido, em boa hora o Vaticano, precisamente para que nenhum fiel caia na tentação de esgrimir o tópico da perseguição religiosa contra o filme agora premiado, fez questão de declarar que Spotlight não é, nem pode ser interpretado, como anticatólico.
Outro tanto, aliás, já tinha sido feito pela própria arquidiocese de Boston, num comunicado que, com grande humildade, reconhece a objectividade do filme, ao retratar a pretérita realidade daquela diocese, entretanto totalmente reformada pelo seu novo pastor, o cardeal Sean O´Malley, que, para indemnizar as vítimas daqueles abusos, vendeu a sede do arcebispado e desfez-se de todo o seu património. Não em vão foi escolhido pelo Papa para presidir à comissão eclesial que, a nível mundial, tem a seu cargo a protecção das vítimas dos casos de pedofilia que envolvam clérigos católicos, bem como a responsabilização destes últimos. (...)" (PARA LER TUDO: AQUI)

Para mim um dos melhores artigos sobre o tema
Do blogger Espanhol  , El foco y las sombras
 

Hay buen y mal periodismo, como hay buen y mal cine. Los Oscar han premiado Spotlight, un sólido film sobre la investigación periodística del Boston Globe, que denunció el encubrimiento de los abusos sexuales a menores cometidos por sacerdotes en la diócesis de Boston. Simultáneamente, los “anti-Oscar”, los premios Razzie, dedicados a ensalzar lo peor del año, han dedicado casi todos sus premios a 50 sombras de Grey. Ojalá Spotlight supere la taquilla de 50 sombras de Grey, que ha amasado 457 millones de euros, pero mi instinto me dice que no va a ser así.
También en el periodismo, el rigor y la objetividad no es lo que más vende, y, por desgracia, no es siempre lo que más influye. El Boston Globe prestó un buen servicio a la verdad y también a la Iglesia al rastrear los casos de abusos y denunciar el encubrimiento y mala gestión de la jerarquía, más preocupada de proteger el buen nombre de la institución que de atender a las víctimas y de hacer limpieza en sus filas.
Como periodista me satisface que una investigación concienzuda como la del diario de Boston, que en su día mereció el premio Pulitzer, sea celebrada. Pero, también como profesional, pienso que buena parte de lo que luego se convirtió en un diluvio informativo sobre el tema no está ni de lejos a la altura de los reportajes del Boston Globe. Es llamativo que una cobertura periodística tan amplia como la que ha tenido el tema, haya dejado impresiones tan confusas e inexactas en la opinión pública. Señalo algunas.
En primer lugar, la extensión del fenómeno. Es verdad que, después de la denuncia en EE.UU., saltaron a la opinión pública los casos ocurridos en otras Iglesias en Europa., sobre todo en Irlanda y Holanda. Pero, a base de generalizaciones, no pocos han transmitido la impresión de que el clero católico estaba infestado de depredadores sexuales. Sin embargo, por ceñirnos al país más afectado, EE.UU., el balance estadístico más preciso realizado por el John Jay College of Criminal Justice encontró que en el periodo 1950-2002, las denuncias afectaron al 4% de los sacerdotes activos, y que una minoría aun más pequeña (149 sacerdotes) acumulaba más de un cuarto de las denuncias (27%). Y en otros países, la proporción ha sido mucho menor. Esa minoría produjo un daño que habría que haber atajado y que ha perjudicado la credibilidad de la Iglesia y el buen nombre de la gran mayoría de sacerdotes sanos. ¿Ha sabido presentarlo así la mayor parte de la prensa?
La compresión del fenómeno ha quedado empañada muchas veces por el olvido del contexto histórico en que se produjeron los hechos, que en muchos casos se remontan a hace varias décadas. Hoy nos parece evidente que la “tolerancia cero” es la única política posible. Pero en los años setenta y ochenta, cuando se alcanzó el punto álgido de los escándalos, el clima era muy distinto. En plena revolución sexual, se trataba de liquidar los viejos tabúes. En el caso de los menores, las organizaciones homosexuales pedían la rebaja de la edad de consentimiento sexual. Parte de los Verdes alemanes y un partido específico en Holanda apoyaban la legalización de la pedofilia, contra “la hipocresía sexual burguesa”. Si algo se reprochaba a la Iglesia es que no relajara más las normas de comportamiento sexual y mucha prensa jaleaba a los clérigos que se mostraban más “liberales”. Lo curioso es que la erotizada cultura mediática reprocha ahora a la Iglesia el haber sido demasiado tolerante con una conducta sexual licenciosa. Quizá no vendría mal que los medios de hoy consultaran su propia hemeroteca para recordar lo que defendían en aquellos años.
La Iglesia y los otros
Por otra parte, el tratamiento periodístico y la continuidad en la información no han sido los mismos cuando han afectado a la Iglesia católica o a otras instituciones. En no pocos casos se ha dado la impresión de que los abusos sexuales a menores eran un problema específico del clero católico. En realidad, informes como los de Philip Jenkins, no católico, autor de Pedophiles and Priests, muestran que el problema de los abusos no es más grave en la Iglesia católica que en otros ámbitos. Para Jenkins, todo esto provoca que “la opinión pública se haya familiarizado con la figura del ‘cura pederasta’, mientras que los abusadores de otros ámbitos pasan desapercibidos (…) o son vistos como malhechores aislados”. Si preocupa la protección de los niños, hay que investigar y denunciar también los casos que se producen en el entorno familiar, en los círculos deportivos, en asociaciones juveniles, en escuelas laicas. Pero en el banquillo mediático de los acusados parece que ha habido poco sitio para estos otros responsables.
También se distorsiona la realidad cuando el encubrimiento de casos de este tipo se presenta como una práctica que solo se dio en la Iglesia católica. Cuando se han ido desatando las lenguas, se ha visto que la reacción en otras instituciones fue similar: como en la BBC con el caso Jimmy Savile, en la ONU frente a los abusos de cascos azules en África, o en equipos deportivos de universidades americanas
El legítimo afán de denunciar la injusticia y hacer luz en este tema no siempre ha sido acompañado de esas elementales reglas del oficio periodístico, que obligan a respetar la presunción de inocencia, a contrastar las fuentes, a escuchar al acusado. Esto ha llevado a veces a linchar mediáticamente a clérigos que luego han resultado inocentes, como el caso del obispo castrense de Australia, Mons. Max Davis, que acaba de ser absuelto en los tribunales después de años de persecución. Otras veces el sensacionalismo ha llevado a pintar escenarios dramáticos de abusos, que luego han sido desmentidos o matizados por informes documentados, como ocurrió en Irlanda en el caso de las lavanderías Magdalena o los niños muertos en el asilo de Tuam. Lo malo es que, cuando se descubre que eran exageraciones o falsedades, la respuesta de algunos informadores ha sido: de acuerdo, pueden haber sido mentiras, pero han sido mentiras positivas porque han servido para llamar la atención sobre un problema innegable.
En esos casos de informaciones que han resultado falsas, mi impresión es que muchas veces la prensa ha preferido mirar hacia otra parte y silenciar los propios errores o de los colegas. También aquí se ha impuesto no pocas veces la “omertà”. Hemos puesto en la picota a los obispos que ocultaron los casos de abusos, pero rara vez a los medios que han abusado de la confianza de los lectores con informaciones erróneas o falsas. Quizá también los periodistas estamos a veces más preocupados del buen nombre de la profesión que de servir a los lectores.
Es justo que celebremos el buen hacer periodístico que se nos cuenta en Spotlight. Pero no está de más que señalemos también las cincuenta sombras que han distorsionado la información sobre este tema. Por el bien del periodismo."

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