A gravidez é sem dúvida um periodo diferente, diferente porque pode ser especial, pode ser bonito, mas também pode ser horrendo, pode despertar o lado mais belo e emotivo da mulher, mas também o seu lado mais neurótico. A mulher pode sentir-se a mais bela de sempre, ou a mais feia à face da terra! Seja como for é um periodo potencial crítico, envolto numa miscelânia de emoções, desejos e pensamentos, ansiedades e frustrações, prontas a fazer manifestações constantes, umas mais pacíficas, outras mais animadas. Tudo isto culpa do nosso lado “psi”, claro!
O nosso psíquico é uma coisa extraordinária, foge ao nosso controle como diz o povo “como o diabo foge da cruz” e apresenta-nos uma série de partidas ao longo da vida, mas mais ainda, ao longo destes períodos potenciais críticos como é o caso da gravidez. Eu que o diga, que já passei por 4 e mesmo com os conhecimentos técnicos “todos” e prevendo uma série de situações, não consegui escapar ao terrível “psíquico e seus fantasmas”.
Ora felizmente ainda somos todos seres humanos, e por isso limitados pela nossa humanidade. Faz parte desta mesma uma incapacidade em controlar muitas emoções, muitos pensamentos, muitos desejos, medos, angustias e sentimentos e por isso mesmo é diferente alugarmos a nossa casa de férias, o nosso carro, ou alugarmos a nossa barriga. Não é possível do ponto de vista mental este ser um aluguer pacífico, não é possível de forma serena para os egos dos envolvidos já para não falar nos “super-egos” de cada um.
É urgente todos descermos à terra e constatar que não há mecanismos de defesa que resistam a tamanha trapalhada.
Outros países já nos mostraram os acontecimentos consequentes desta prática assustadora, mães que alugam a sua barriga e depois sentem o filho como seu e não querem dá-lo, bebés que desenvolvem alguma deficiência e depois não são aceites por quem os encomendou por não virem “perfeitinhos”, estes são dois dos muitos exemplos de casos dramáticos das barrigas de aluguer.
Não menos importante a ter em conta é a saúde mental de quem decide alugar uma barriga, se há esta decisão há certamente uma incapacidade em ter filhos, um caso de infertilidade ou algo semelhante. Do ponto de vista psicológico é muito diferente não querer ter filhos, ou não poder ter filhos e mais uma vez fantasmas psíquicos vêem sem se esperar ter com quem, normalmente, já se encontra em grande sofrimento interno. Não é por se desejar muito ter um filho, que se aceita e ama pacificamente um que cresceu numa barriga de alguém que se contratou. Estes são processos muito complicados do ponto de vista psicológico e que têm muito de involuntário. Sem querer e sem esperar, quem decide alugar uma barriga, vai confrontar-se com pensamentos, frustrações, sentimentos e afins que não esperava.
Resta-me por último, mas não menos importante, referir o mais indefeso em todo o processo, no meio de tudo isto há um bebé, um novo ser que não pediu para nascer, que durante 9 meses convive com uma voz, partilha um espaço, sente muitas das sensações e emoções de alguém que vai simplesmente desaparecer naquele momento em que ele tanto precisa de ser amado e cuidado.
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