Por exemplo se, de repente, lhe
desse para sair dali, era capaz de deixar tudo para trás: o plano, o livro, a
música, a conversa; desaparecia, voava, como se não houvesse amanhã, como se tivesse
que acontecer tudo nesse dia, como se obedecesse a uma qualquer força dentro
dela que a obrigava a ir. Ela era simplesmente o verbo ir. Não havia como
prendê-la e ele sabia disso. Nesses primeiros meses de encantamento, era
precisamente esse o ingrediente principal que nutria aquela paixão: a sua forma
inesperada de ser; o impulso de criança que a levava a chapinhar no lago do
jardim onde passeavam; os seus ímpetos de afecto que a faziam percorrer os
quilómetros que fossem precisos só para o ver – surpresa!; os súbitos convites para almoçar, lanchar, jantar, cear
– surpresa, surpresa, surpresa!.
Ele sempre soube que ela era
assim. Afinal, no dia em que se deixou apaixonar, tinha gostado tanto dela
quanto dos seus repentes. Foi na sua primeira aula de RPM, no Holmes Place. Que belo prenúncio – pensava agora.
Pegou no folheto do ginásio,
lembrança do destino que o tinha levado até ela e que, desde então, guardava na
gaveta. Desdobrou-o e leu: ‘sem criar
risco de lesões, o RPM é um exercício sem impacto, divertido que lhe irá criar
uma fantástica sensação de bem estar’. Sim, sim, sim, sem impacto hoje, divertido
agora, com uma fantástica sensação de bem
estar de repente… hoje, agora, de repente...
Foi então que, no impulso mais prudente do mundo, decidiu pô-la a andar em dois segundos. Surpresa!
Foi então que, no impulso mais prudente do mundo, decidiu pô-la a andar em dois segundos. Surpresa!